PAPÉIS AVULSOS

Todos querem o dinheiro dos velhinhos

 

i146595.jpg

JOSÉ DE SOUZA MENDONÇA, presidente da Abrapp

As velhinhas americanas são conhecidas pela ousadia de seus investimentos. É esse mesmo cenário que está sendo pintado no Brasil com a flexibilidade nas regras da renda variável para os fundos de pensão. O otimismo é tão grande que algumas contas já estão na calculadora. Seriam R$ 90 bilhões em dinheiro novo para fundos de investimento e compra direta de ações após o aumento de 50% para 70% da exposição em ativos de maior risco dada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Quanto dessa bolada poderia pular imediatamente? É difícil responder, mas José de Souza Mendonça, presidente da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), joga um balde de água fria: “Ainda há muitas formas de se ganhar com a renda fixa.” Atualmente, apenas 5,1% do patrimônio de R$ 458 bilhões dos fundos fechados de pensão estão aplicados fora dos imóveis e dos títulos públicos. Até o ano passado, fazia sentido encher a carteira de títulos da dívida do governo brasileiro, que pagavam bem mais que a meta obrigatória a ser cumprida, conhecida como atuarial, de INPC mais 6% ao ano. Para se ter uma ideia, de 1995 a 2007, o rendimento acumulado foi de 1.225%, contra uma necessidade de 220%. E pelo menos R$ 150 bilhões estão amarrados a rentáveis títulos do governo até 2014. Que os velhinhos brasileiros vão ficar mais aventureiras nos seus investimentos, não há dúvida. Mas vai ser devagarzinho, devagarzinho. Afinal, se todo esse recurso prometido nos últimos dias chegar à BM&FBovespa, os 200 mil pontos do Ibovespa superarão todas as previsões.

DESTAQUE NO PREGÃO

A captação bilionária da Petrobras

 

i146596.jpg

 

José Sérgio Gabrielli foi categórico: a capitalização da Petrobras prevista para 2010 originará a maior subscrição de capital de uma empresa no mundo. O processo de subscrição acionária pilotado pela União permitirá à companhia uma capitalização de até US$ 90 bilhões. Se concretizada, essa entrada maciça de dinheiro para viabilizar o pré-sal virá de duas fontes. O governo entrará com a subscrição de 33% do capital social da empresa – em torno de US$ 30 bilhões -, mas pagará esse valor em barris de petróleo. E os acionistas minoritários (67%) terão o direito de aumentar sua parcela acionária na mesma proporção, o que garantiria à empresa um montante em torno de US$ 60 bilhões. Resta saber até que ponto a captação colossal pode beneficiar ou prejudicar o mercado financeiro do Brasil.

PALAVRA DE ANALISTA

Aumentar a participação em Petrobras é quase uma questão filosófica. Para se chegar a uma resposta, leva-se em conta a confiança no petróleo como combustível, na Petrobras como empresa e no governo como respaldo para a operação bilionária. Para Luiz Otávio Broad, da Ágorainvest, mesmo se não optar pela subscrição, o acionista fará um bom negócio. “Se ele não quiser aumentar a participação, terá em mãos papéis de uma empresa que vai crescer muito mais. Ele sai ganhando em qualquer cenário”, diz ele. As ações PN acumulam 48,7% de alta em 2009 e ainda não se recuperaram do tombo de 2008.

SANTANDER
A grande estreia

i146597.jpg

 

Quem não se decidiu ainda pela compra das ações no IPO do Santander Brasil, terá até terça-feira 5 para fazê-lo. A partir das 10 horas do dia 6, estará no pregão o lote inicial da oferta: 525 milhões de units (55 ações ordinárias e 50 ações preferenciais). O preço de cada unit é estimado entre R$ 22 e R$ 25. Assim, apenas o lote inicial pode movimentar até R$ 13,12 bilhões. Há a opção de um lote suplementar em caso de excesso de demanda, que pode fazer a oferta chegar a R$ 15,6 bilhões. Durante todo o período de emissão, Fabio Barbosa, presidente do banco, não comentou a oferta.

i146598.jpg

 

QUEM VEM LÁ

Bolsa de tijolo

i146599.jpg

 

A Gafisa vai voltar à bolsa. Na semana passada, a construtora oficializou sua oferta de ações. Em vez de emitir novos papéis, a Gafisa colocará em circulação 2,8 milhões de ações que haviam sido compradas durante a crise financeira. Os papéis do setor de construção se aproximaram do pó e a empresa comandada por Wilson Amaral utilizou o dinheiro em caixa para comprar as próprias ações a preço de entulho, que chegou a bater nos R$ 6,60. Elas foram guardadas na tesouraria à espera da oportunidade e de um preço mais justo, para os olhos da companhia. Na quinta-feira 1o, o papel fechou a R$ 25,50. Resta saber se o investidor vai ajudar a construir essa história. De todas essas ofertas na fila na BM&FBovespa, sete são ligadas ao setor imobiliário.

FIQUE DE OLHO: O Marfrig, que vai fazer em breve uma nova emissão de ações, desmentiu na quinta-feira 1o, o interesse na aquisição do frigorífico Independência.

TOURO X URSO

i146600.jpg                                                                                                                                                                                     i146601.jpg

 

O investidor deve ficar atento nesta semana. A pressão de alta na bolsa será forte com a estreia das ações do Santander. A expectativa é que a captação do banco espanhol chegue a R$ 15 bilhões, o que faria deste o IPO (abertura inicial de capital, em inglês) recorde da bolsa brasileira. A expectativa é que muitos investidores estrangeiros aumentem seu fluxos de investimento na BM&FBovespa e aproveitem para comprar outros papéis.

A recuperação da economia mundial deve ser sempre um motivo de preocupação. Agora que tudo parece estar em ordem, é provável que os Bancos Centrais mundiais comecem a pensar em maneiras de receber uma parte do que foi emprestado. Os BCs europeu e da Inglaterra estarão reunidos nos dias 7 e 8. Os dados sobre o crédito ao consumo, que o Federal Reserve (Fed) anuncia na quinta-feira 8, são um importante sinal da recuperação americana.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

i146602.jpg

 

Para estimular o hábito de poupar, a Visa criou o jogo “Bate-bola Financeiro”, que permite que o internauta participe de um jogo de futebol online, ao mesmo tempo que responde perguntas sobre poupança e investimentos. O jogo está hospedado no site www.financaspraticas.com.br e é uma versão brasileira do Financial Football, já utilizado nos EUA pela Visa.

i146603.jpg

 

 

MERCADO EM NÚMEROS

BOLSA
8,9% de retorno
Foi o rendimento médio do Ibovespa em setembro, o melhor desempenho entre todos os investimentos. Em seguida vieram o ouro, com 1,05%, e os fundos de renda fixa, 0,69%.

VALE
US$ 479 milhões
É o investimento da Vvale no Pprojeto Bbayóvar, no Pperu, para a produção de 3,9 milhões de toneladas ao ano de rocha fosfática.

PARANÁ BANCO
R$ 7,6 milhões
É o total do juro sobre o capital próprio que o Paraná Banco distribuirá para a sua base de acionistas. Cada ação receberá R$ 0,08.

COSAN
R$ 30 milhões
É o investimento da Cosan na criação do seu centro de apoio ao negócio (CAN), em Piracicaba, interior de São Paulo, que será inaugurado em 2010.

BANCO PINE
R$ 0,17
É o total entre dividendos e juro sobre capital próprio que o Banco Pine pagará por ação.

BRADESCO
200 agências
É a previsão do Bradesco de inauguração de novas agências até setembro de 2010.

SABESP
R$ 826 milhões
É o montante que a Sabesp quer emitir em debêntures. Serão três séries, com valor de R$ 275,3 milhões cada uma.

PERRSOGNAGEM
Caixa
bem construído

Existe uma fila de construtoras batendo na porta da bolsa para se capitalizar. Uma parte do dinheiro irá para o caixa e a outra reforçará as estratégias de lançamentos. A construtora e incorporadora Even está no caminho contrário. No meio da crise, a companhia aumentou o seu capital e refez seus planos de lançamentos até 2011. Penalizada como suas concorrentes no ano passado, a Even deu a volta por cima e hoje está entre as preferidas do setor pelos investidores, com valorização de 137%. Com o caixa em ordem e a atenção ao apetite dos consumidores, a empresa está confortável com seus lançamentos. “Gostamos de comprar, lançar e vender o empreendimento. O tempo médio, para nós, é de dez meses”, afirma Dany Muszkat, diretor- financeiro e de relações com investidores da Even, que conversou com a DINHEIRO:

i146604.jpg

DANY MUSZKAT,diretor-financeiro e de RI da Even

DINHEIRO – A bolsa é o caminho natural para a capitalização das construtoras?
DANY MUSZKAT – A procura pela bolsa está crescendo, mas não é nossa estratégia. Temos recursos para dobrar de tamanho em 2010. Por isso não faz sentido ir para a bolsa.

DINHEIRO – Qual é a relação entre a dívida e o caixa?
MUSZKAT – Temos R$ 250 milhões em caixa. Esse é um setor com muita demanda por capital. Gostamos de ter a garantia financeira absoluta para a construção. É preciso ter um caixa mínimo confortável. A nossa dívida é praticamente para o financiamento à construção. Nosso índice de financiamento para a produção é de 99% dos lançamentos. Portanto, ela é saudável.

DINHEIRO – Essa situação confortável começou na crise mundial?
MUSZKAT – O monitoramento começou com a crise. Fizemos um plano gradativo de lançamentos para um ciclo de três anos, que vai até 2011. Promovemos uma capitalização, de forma bastante rápida, sem a ajuda de bancos, em setembro do ano passado, de R$ 150 milhões. Reduzimos os lançamentos e estabelecemos metas: 2009 era o ano da preservação; 2010, da retomada; e 2011, da chegada aos objetivos.

DINHEIRO – Mas agora a economia voltou.
MUSZKAT – O mercado já está dando sinais de que a recuperação foi antecipada. A Even tem vários lançamentos para 2010, o que vai retornar o capital investido.

DINHEIRO – Quais são as cidades em que a Even está de olho?
MUSZKAT – Focamos em quatro praças. Em São Paulo, onde somos os líderes segundo a Top Imobiliário, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Essas são o foco de 70% do mercado imobiliário. É preciso ter uma atuação expressiva, mas com gasto controlado devido aos altos custos envolvidos.

DINHEIRO – É preciso ter um extenso banco de terrenos?
MUSZKAT – Acumular terrenos foi uma onda no mercado, mas não somos fãs de extensos bancos de terrenos. Gostamos de comprar, lançar e vender o empreendimento. O tempo médio, para nós, é de dez meses. Não adianta ter um gigantesco banco de terrenos, mesmo que seja em permuta, e ficar sentado sobre eles.

DINHEIRO – A Even caminha na contramão das concorrentes?
MUSZKAT – Estamos em qualquer segmento. Até 2010, nosso objetivo é que de 75% a 80% dos nossos lançamentos sejam em imóveis na faixa dos R$ 500 mil. Hhoje eles representam 50%.

DINHEIRO – O projeto “Minha casa, Minha vida”, do governo federal, é viável?
MUSZKAT – É importante para o País, mas ele está no começo e tem gargalos para serem resolvidos, como a velocidade da entrega. É preciso se preparar para entregar um volume historicamente recorde que, pelos números divulgados, será o maior do mundo.

AVISO – Esta seção tem caráter meramente informativo e seu conteúdo não deve ser interpretado como recomendação de investimentos. A revista DINHEIRO não se responsabiliza por decisões de investi-mento tomadas por seus leitores. Os autores detêm ações das seguintes empresas: Banco do Brasil, BM&FBovespa, Bradesco, Itaú Unibanco, Marfrig, Pão de Açúcar, Petrobras, Usiminas e Vale.  

SLC
Terra à vista

i146605.jpg

 

A alta lucratividade da SLC Agrícola em 2009 já começou a ser reinvestida. A empresa presidida por Arlindo Moura fechou a compra de 4,4 mil hectares de terra na Bahia, onde já possui uma de suas maiores fazendas, a Palmares, por R$ 20 milhões. O lucro bruto da SLC no primeiro semestre foi de R$ 76,7 milhões – 17,4% a mais que o mesmo período de 2008. Aumentar a produtividade faz sentido para a companhia, que, apesar de ter tido lucro, vem apresentando fracos resultados operacionais. Seu Ebitda (geração operacional de caixa) do primeiro semestre ficou 82% abaixo do registrado em 2008. A surpresa ruim fez o banco JP Morgan rebaixar sua recomendação de compra para neutra do papel da empresa. As ações da SLC acumulam alta de 9% em 2009, mas perderam menos que o mercado no ano passado, -14%.

 

i146606.jpg