PAPÉIS AVULSOS
Sucessão na Bolsa

 

Nem Magliano, nem Cintra Neto. O novo presidente do conselho de administração da BM&F Bovespa, companhia resultante da fusão das Bolsas de Valores e de Futuros, é Gilberto Mifano, atual diretor-geral da Bovespa. Seu colega na BM&F, Edemir Pinto, foi alçado a presidente executivo da nova empresa. A decisão foi comunicada ao mercado na noite da terçafeira 20 e encerrou as especulações sobre quem mandaria na superbolsa brasileira. Os corretores Raymundo Magliano, da Bovespa, e Manual Félix Cintra Neto, da BM&F, deixaram as vaidades de lado como prometeram e abriram mão do poder, permitindo a profissionalização nos dois níveis mais altos da gestão. Ponto para ambos – e para o mercado. Cintra Neto terá assento no conselho e Magliano contentou-se em cuidar somente do Instituto Bovespa de Responsabilidade Social e Ambiental, uma de suas maiores paixões. São muitos os desafios de Gilberto Mifano e Edemir Pinto. Executivo de mão cheia, Mifano está acostumado com o dia-adia e terá de cuidar mais da estratégia, deixando espaço para o novo presidente trabalhar. E Edemir tem agora um trabalho bem mais complexo e relevante: a terceira maior bolsa do mundo. Será que vai funcionar? “Certamente que sim. Vai dar uma boa dobradinha”, diz Walter Machado de Barros, presidente do conselho de administração do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças, o IBEF-SP. Neste mês, até o dia 21, as ações da Bovespa Holding subiram 13%. E as da BM&F, 10%.

EDEMIR PINTO, presidente da BM&F Bovespa

DESTAQUE NO PREGÃO
A arrancada da Magnesita

A recente entrada no Novo Mercado da Bovespa está dando resultados para a Magnesita. Nos últimos 30 dias, as ações ordinárias da empresa (MAGG3) subiram nada menos que 66%. Em maio, até o dia 21, a cotação aumentou 38%, para R$ 24,05. Sob o comando de Ronaldo Iabrudi, da GP Investimentos, a empresa mineira – que em 68 anos de existência nunca havia divulgado um orçamento anual – aposta num futuro mais transparente e promissor. Produz 580 mil toneladas de refratários por ano e detém 80% do mercado latino-americano. Sem refratários, não se faz o aço, e aí está o seu maior trunfo nesses tempos de alta demanda e crescimento. O objetivo da GP é transformar a Magnesita na maior fabricante de refratários do mundo.

PALAVRA DE ANALISTA

Alexandre Falcão, chefe de pesquisa de middle e small caps do Morgan Stanley para a América Latina, incluiu a Magnesita em sua carteira de análise há duas semanas. “A companhia mudou muito seu departamento de RI. Está mais transparente, abriu as portas, fez conferência de acionistas em inglês. Agora, está atendendo o mercado, o que antes não fazia”, revela Falcão. Sobre a súbita explosão da ação da empresa mineira, o analista acredita que há uma boa influência da demanda de investidores institucionais do Brasil e do Exterior. “A Magnesita agora está no radar desses investidores e isso gerou liquidez”, explica. Ele recomenda a compra da ação, com preço-alvo de R$ 33.

 

GOL
Vôo turbulento

Na bolsa, o sonho aéreo da família Constantino virou pesadelo. As ações preferenciais da empresa acumulam desvalorização de 57% em doze meses. Em 2008, a baixa alcançava 43% até a quarta-feira 21, quando bateu em R$ 24,82 por ação. Não bastasse a dificuldade em rentabilizar a compra da Varig, a empresa ainda sofreu com a crise aérea. No início do ano, a queda nas taxas de ocupação também prejudicou os resultados do trimestre. O prejuízo foi de R$ 74,1 milhões. “A Varig tornou-se um problema. A marca mostrou- se menos valiosa do que parecia”, aponta Caio Dias, analista da corretora do Santander. Além disso, o preço do petróleo sobe sem parar e pode causar danos maiores no balanço da empresa. O Santander recomenda a manutenção do papel, com preço-alvo de R$ 32,40.

 

 

QUEM VEM LÁ
Recuo capixaba

O Banestes retirou da Comissão de Valores Mobiliários, na terça-feira 20, o pedido de registro de sua distribuição primária e secundária de ações. No comunicado ao mercado, o motivo: “as condições instáveis verificadas nos mercados financeiros e de capitais de todo o mundo nos últimos meses”. Na verdade, o governo do Estado do Espírito Santo, controlador do Banestes, não abortou definitivamente a operação. Como a CVM não aceita prorrogações superiores a 60 dias, apenas seguiu o protocolo. “Não desistimos, mas o mercado não está comprador e não queremos embarcar em uma aventura”, afirma o presidente do banco, Roberto da Cunha Penedo.

FIQUE DE OLHO A Visanet ensaia sua abertura de capital há algum tempo. Deixou claro que seria após o IPO da Visa nos EUA. Mas até agora não sinalizou em quanto tempo fará o seu próprio. Rubén Osta, atual presidente da Visa e ex-presidente da Visanet, acredita na empresa como uma ótima candidata a engatinhar no pregão, mas não quis dar detalhes sobre a nova tacada em sua última aparição à imprensa, na semana passada.

TOURO X URSO

O touro arrasou neste mês, com o Ibovespa batendo dez recordes. A divulgação do IPC da FGV, a nota do setor externo e a balança comercial pautarão os ânimos do mercado logo na segunda 26. A expectativa de um resultado deficitário pode se confirmar, já que o mês de maio começou com a balança negativa. No mercado acionário, a descoberta de mais petróleo na camada pré-sal da Bacia de Santos poderá despertar mais interesse pela Petrobras.Só faltava essa. O governo quer ressuscitar a CPMF. Nesta semana, o urso estará de olho no Congresso, pois a bolsa detesta imposto ineficiente e pode perder o vigor dos últimos dias. Na terça 27, o deputado Maurício Randes (PT) deve apresentar projeto que recria o imposto do cheque para financiar a saúde. A alíquota, de 0,1%, pode causar estrago no médio prazo se for estendida às operações na BM&F Bovespa.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

 Todo cuidado é pouco. Em menos de um mês, o Ibovespa, índice que mede as ações mais líquidas da bolsa, bateu nove recordes e superou os 73 mil pontos.A Petrobras PN, que corresponde a 14,14% do índice, teve alta de 24,4% só em maio. Entrar na bolsa nesse momento exige muita atenção e visão estratégica. É preciso analisar quais empresas continuam com potencial de valorização, mesmo após altas significativas.

MERCADO EM NÚMEROS

PETROBRAS

US$ 287 bilhões
foi o valor de mercado da Petrobras na Bolsa de Valores em 16 de maio. Segundo a Economática, a petrolífera brasileira ultrapassou a Microsoft e tornou-se a terceira maior companhia das Américas em valor de mercado, atrás da Exxon Mobil (US$ 489,6 bilhões) e da General Electric (US$ 320,3 bilhões). A empresa de Bill Gates vem em seguida, com US$ 279,306 bilhões.

POSITIVO

R$ 999 cada
é quanto custará o novo computador de mão da Positivo. Segundo o presidente do conselho, Oriovisto Guimarães, o aparelho vai “matar o Palm”. Por enquanto, quem está morrendo – de raiva – são os acionistas da empresa. As ações ordinárias já caíram 60% este ano na bolsa, devolvendo parte da alta de 90,6% em 2007.

SIDERURGIA

65% de alta
foi a valorização das ações da Usiminas PNA neste ano, até o dia 21. É a maior alta do Ibovespa. O setor siderúrgico, aliás, está bombando com a demanda interna e externa: CSN ON subiu 59%; Gerdau PN, 58,7%; e Gerdau Metalúrgica PN, 55,9%. Para comparar, a alta do Ibovespa até então foi apenas de 13%.

SELIC

13,75% ao ano
é a nova projeção da Corretora Itaú para a taxa básica de juros (a Selic) no final do ano. E daí? Quanto mais sobem os juros, pior para a bolsa. E como a inflação está aumentando além do esperado pelo mercado no início do ano, o Banco Central pode ter de arrochar a política monetária ainda mais.

 

PERSONAGEM
A recuperação da Even

Como muitas das empresas novatas da Bovespa, a Even Construtora e Incorporadora viu suas ações dispararem após o IPO, para depois derreterem com a crise do crédito imobiliário dos Estados Unidos (subprime). Lançadas a R$ 11,44 em março de 2007, as ações ordinárias oscilaram entre R$ 20,30 e R$ 9,05 no último ano. Em 30 dias, subiram 19% e voltaram ao patamar de R$ 11,85, na quarta 21. Na véspera, a empresa divulgou o balanço trimestral, com lucro líquido de R$ 14,6 milhões, cifra 859% superior à do mesmo período de 2007. O presidente da empresa, Carlos Terepins, falou à DINHEIRO.

DINHEIRO – Como o sr. explica a recuperação do papel na bolsa?
CARLOS TEREPINS – É o reconhecimento do mercado pelo trabalho da empresa. Como muitas companhias do setor se lançaram ao mesmo tempo na Bolsa, o mercado demora um pouco para se ajustar e fazer comparações. Nesse processo de amadurecimento, certamente estaremos no grupo das bem avaliadas.

DINHEIRO – Como avalia o lucro trimestral?
TEREPINS – O lucro isolado sempre deve ser visto com cuidado, pois não reflete tudo o que acontece na empresa. Significa que começamos o ano muito bem. Já vendemos mais de R$ 500 milhões. Como as vendas são diferidas, os resultados só irão aparecer nos próximos trimestres.

DINHEIRO – A alta dos índices de inflação pode afetar o negócio da Even?
TEREPINS – Se houver alta dos juros para conter a inflação, isso pode afetar o funding do crédito imobiliário, que é a poupança. Não trabalhamos com um cenário de esfriamento da economia. A demanda é crescente e o crédito imobiliário está cada vez mais fácil e diversificado.

DINHEIRO – E a pressão dos custos, não afeta as perspectivas de lucros?
TEREPINS – Existe pressão de custos, mas temos um hedge natural, que é a correção das parcelas dos clientes pelo INCC até a entrega das chaves. O custo da mão-de-obra de pedreiro, carpinteiro e servente subiu 8,5% e o INCC aumentou 6,62% em 12 meses. Vamos ter que administrar isso e encontrar soluções, como o aumento da tecnologia e a redução do uso intensivo da mão-de-obra, as parcerias com outras empresas.

DINHEIRO – Por que criou uma nova empresa própria de vendas?
TEREPINS – Ainda temos a parceria com a Lopes, mas queremos ter mais um canal de escoamento de nossos produtos. Neste ano, aumentaremos os lançamentos em 20% a 25%, para R$ 2,2 bilhões.
 

PELO MUNDO

NOKIA NA ESPERA
Os investimentos da Nokia em serviços de internet só deverão dar retorno após 2010. Rick Simonson, diretor de finanças da empresa, afirmou que não era esperado um retorno rápido e que continuará a investir nos serviços. As ações da companhia caíram 2,67% um dia após essa declaração.

ERRO CRASSO
Em tempos de grau de investimento, é melhor pôr as barbas de molho e tomar cuidado com as análises de risco de crédito. A Moody’s, segundo o jornal inglês Financial Times, atribuiu notas mais altas do que deveria a títulos de dívidas relacionadas ao mercado de crédito imobiliário americano. Tudo por conta de um erro de classificação em seus computadores. Descoberto o problema, as notas foram rebaixadas. Na quarta-feira 21, as ações da empresa despencaram 15,9%.

AIG PREOCUPAA seguradora AIG irá levantar US$ 20 bilhões em novo capital para cobrir perdas com a crise do subprime, anunciou o executivo-chefe Martin Sullivan. O valor é 60% maior que o estimado anteriormente e será obtido com a emissão de ações e títulos de dívida. 

O DIVÓRCIO DA TIME
O conglomerado Time Warner anunciou que suas operações serão separadas da Time Warner Cable, divisão de tevê da empresa. A Cable pagará US$ 9,25 bilhões pela separação, que serão convertidos em dividendos para a Time Warner. Por ação, serão pagos US$ 10,27. A notícia não animou os acionistas.

 

Colaboraram: Ana Clara Costa e Márcio Kroehn