23/09/2009 - 7:00
Papéis a vulsos
O mistério dos salários vai acabar
Maria Helena Santana, presidente da CVM
Você sabe quanto ganham os presidentes da Petrobras, da Vale ou do Itaú Unibanco? Não? Nos Estados Unidos, esse tipo de informação é pública – afinal, as empresas abertas captam dinheiro do público e deve ser transparentes com seus gastos e incentivos.
No ano passado, o presidente da Motorola, Sanjay K. Jha, foi o executivo mais bem pago do país: seus salários, bônus e opções de ações somaram US$ 104,4 milhões, embora o resultado da empresa tenha despencado. Vikran Pandit, do Citigroup, levou para casa US$ 38,2 milhões, apesar dos prejuízos imensos com a crise do subprime.
O gênio da bolsa Warren Buffett, que teve seu pior desempenho em 2008, contentou-se com US$ 200 mil de salário. Agora, com anos de atraso, os investidores saberão quanto as companhias abertas pagam aos seus executivos no Brasil. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) deu um jeitinho – bem brasileiro – de revelar essas informações.
A partir de 2010, as empresas terão de informar a remuneração individual mínima, média e máxima dos órgãos da administração, sem revelar os nomes dos beneficiários. Para bom entendedor, meia palavra basta: supõe-se que os maiores salários sejam pagos aos presidentes. A política de remuneração também terá de ser detalhada.
As mudanças virão na revisão da instrução CVM 202. Os novos formulários cadastrais e de referência das empresas foram divulgados na semana passada ao mercado. O colegiado da CVM, presidida por Maria Helena Santana, quer mais informações qualitativas das companhias, inclusive suas políticas de gerenciamento de riscos. Bom sinal.
DESTAQUE NO PREGÃO
Que venham os gringos
O Banco do Brasil quer mesmo fazer a América. Poucas semanas depois de o presidente Aldemir Bendine revelar os planos de abrir um banco de varejo nos Estados Unidos, para conquistar clientes brasileiros e hispânicos naquele país, o BB recebeu autorização do palácio do Planalto para vender certificados de ações no Exterior. Dezenas de empresas brasileiras já são negociadas na Bolsa de Nova York por meio american depositary receipts, ou ADR. Na quinta-feira 17, o banco também foi autorizado a elevar de 12,5% para 20% a participação dos estrangeiros em seu capital. Os ADR do BB poderão ser emitidos com lastro em ações existentes ou, quem sabe, num futuro aumento de capital.
Palavra de analista
A emissão de ADR na Bolsa de Nova York tende a aumentar significativamente a liquidez das ações do BB. Na quinta-feira, a equipe de analistas do HSBC elevou o preço-alvo das ações BBAS3 de R$ 21,50 para R$ 30,00. O horizonte da avaliação, feita por Victor Galliano, Mariel Santiago e Alexandre Gartner, é de 12 meses. O BB irá usufruir a economia mais estável no Brasil, com crescimento das carteiras de crédito e dos resultados. Mesmo assim, dará retornos inferiores aos concorrentes privados de varejo e poderá ter alta na inadimplência no ano que vem. A ação fechou na quinta-feira cotada em R$ 29,60, em alta de 1,2%.
VISANET
Cade dá ânimo ao monopólio
O mercado adora um monopólio. As ações da VisaNet subiram quase 12% em dois dias, para R$ 17,69, depois que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) suspendeu, na quarta 16, a medida preventiva que determinava o fim da exclusividade no credenciamento da bandeira Visa. Na verdade, a exclusividade já tinha data para acabar: 30 de junho de 2010. É o que diz o contrato da VisaNet com a Visa. A decisão agradou Rômulo de Mello Dias, presidente da companhia. Os papéis da Redecard também surfaram a mesma onda, com alta de 6,4% em dois dias, para R$ 27,44.
Quem vem lá
A caça aos golfinhos voltou
Flipper, além de um simpático golfinho, também é o nome atribuído aos investidores individuais que compram ações nas ofertas públicas iniciais e as vendem no primeiro dia de negociação, com lucro. Esse “pecadinho”, embora também seja cometido sem culpa pelos investidores institucionais, não é tolerado pelas novatas da bolsa quando se trata de pessoas físicas.
Algumas argumentam que precisam ter uma base estável de acionistas, com visão de longo prazo; outras temem uma pressão de venda de investidores inexperientes que prejudiquem suas cotações na estreia e nos dias seguintes. Por isso, dão preferência na oferta aos não-flippers. A nova safra de IPO na BM&FBovespa resgatou essa prática. Multiplan e Tivit classificam os investidores em dois tipos: com e sem prioridade de alocação. f iquque de olho É considerado flipper quem vendeu 80% ou mais das ações nas quatro últimas ofertas iniciais no primeiro dia de negociação.
Touro x urso
O otimismo do touro nunca acaba. A bolsa brasileira em alta, as boas notícias vindas do cenário internacional, o mundo retomando a velocidade um ano após a quebra do Lehman Brothers indicam o fim da crise. É melhor ficar de olho nos números. Atenção à reunião do Fed , na terça-feira 22. No Brasil, importantes indicadores serão divulgados na quinta-feira 24, como a inflação de agosto, dados do setor externo e empregos.
O urso está hibernando no Brasil. Mesmo assim, o temor de uma realização de lucros na bolsa é permanente. Os analistas do mercado financeiro estão refazendo suas contas sobre o potencial de valorização adicional das ações. O cenário de bonança para o curto prazo não é tão claro assim. A reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), na quinta-feira 24, pode oferecer algumas dicas econômicas para o futuro.
Educação financeira
O que é governança corporativa? Segundo o IBGC, presidido por Mauro Cunha, é o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre proprietários, conselho de administração, diretoria e órgãos de controle. Os princípios básicos de governança corporativa são transparência, equidade e prestação de contas.
MERCADO EM NÚMEROS
JBS FRIBOI
8,8% de alta foi a alta da ação do JBS Friboi após o anúncio das aquisições realizadas na quarta-feira 16. O Ibovespa subiu 1,9% no dia.
CSN
US$ 750 milhões é o total da emissão de bônus da CS N, com prazo de vencimento em dez anos e remuneração de 6,87% ao ano. A captação servirá para alongar o perfil da dívida da empresa.
PETROBRAS
US$ 174 bilhões é a previsão de investimentos da Petrobras até 2013. A empresa não revisou seu orçamento e irá priorizar a exploração do pré-sal no Brasil
ALL LOGÍSTICA
R $ 1,3 bilhão é o valor da emissão de debêntures da All Logística. A correção dos papéis será feita pelo IPC A mais 3% ao ano. As debêntures poderão ser convertidas em units, porém estarão bloqueadas por um período de três anos para negociação no mercado.
GVT
R$ 41,51 foi o preço da ação da GVT no fechamento do pregão da quarta-feira 16. O Deutsche Bank rebaixou sua recomendação do papel, com preço-alvo de R$ 40.
TIVIT
R$ 900 milhões é a expectativa de captação da Tivit na oferta pública inicial (IPO ). O preço de colocação do papel será definido no próximo dia 24. As ações devem estrear no pregão da BM &FBovespa no dia 28.
Personagem
“Madoff daria um filme de terror”
O comportamento do financista Bernard Madoff, o maior vilão da crise financeira de 2008, pegou todo mundo de surpresa. Menos Erin Arvedlund, a jornalista americana que o investigava desde 2001.
Seus alertas no jornal Barron’s, especializado em fundos, foram ignorados. Agora, ela acaba de lançar seu segundo livro sobre o tema, intitulado MADOFF : The Man Who Stole $65 Billion (Madoff: o homem que roubou US$ 65 bilhões). Erin falou à repórter Ana Clara Costa.
DINHEIRO – Como soube do esquema Madoff antes de todo mundo?
ERIN ARVEDLUND – Em 2001, recebi uma dica de uma fonte de Wall Street, Ken Nakayama, que trabalhava no Deutsche Bank. Ele me falou de um fundo de hedge bilionário “que nunca perdeu dinheiro”. Ele negociava os mesmos tipos de opções que Madoff dizia negociar, mas não conseguia obter os mesmos retornos. Ninguém poderia, pois Madoff nunca negociava nada. Não sabíamos isso naquela época, mas era estranho demais e comecei a investigar.
DINHEIRO – Quando suspeitou dos retornos do fundo de Madoff?
“Obama gostaria de regular os fundos de hedge” Erin Arvedlund, jornalista e escritora
ERIN – Depois de investigar por alguns meses e perguntar sobre Bernie Madoff a todo mundo que eu conhecia, descobri que nenhum dos bancos de investimento de Wall Street fazia negócios com ele. Particularmente, não negociavam opções com ele nem com sua empresa. Isso parecia errado, pois ele dizia que administrava bilhões de dólares em ativos. Alguns investidores me contaram que Madoff pedia para que não revelassem a ninguém que ele era o administrador de seus investimentos! Isso não acontece em Wall Street. Foi mais um sinal.
DINHEIRO – Quem mais suspeitava da fraude?
ERIN – Um jornalista chamado Michael Ocrant e o caçador de fraudes Harry Markopolos, que enviava cartas à SEC há vários anos.
DINHEIRO – Madoff planejou tudo ou perdeu o controle?
ERIN – Acredito que a fraude começou nos anos 60, no início da firma. O sogro de Madoff, Sol Alpern, o indicava para muitos amigos e familiares. Naquela época, ele oferecia retornos de 20% a 25% ao ano. Com o tempo, o esquema cresceu. Alcançou US$ 450 milhões em 1992. Em 2008, os fundos de hedge e de investimentos enviavam bilhões para Madoff.
DINHEIRO – O que pensa de Walter Noel e sua família, que distribuíam os fundos do Madoff?
ERIN – Acredito que Walter Noel e seu genro Andres Piedrahita podem ser indiciados se optarem por confrontar os promotores federais. Não sei se realmente sabiam sobre o esquema Ponzi, mas com certeza foram negligentes de propósito e não falaram a verdade sobre a due dilligence que fizeram no fundo.
DINHEIRO – Os filhos e irmãos dele sabiam?
ERIN – Acho que Peter Madoff será indiciado em breve como corresponsável.
DINHEIRO – Como se sentiu quando o esquema veio à tona?
ERIN – Muito triste. De um lado, fiquei feliz que ele foi pego. Mas gostaria que nunca tivesse existido. Teria evitado muita dor de cabeça.
DINHEIRO – Há rumores de que a vida de Madoff vai virar filme. O que acha disso?
ERIN – Seria um filme de terror.
DINHEIRO – O escândalo muda Wall Street?
ERIN – O governo Obama gostaria de regular os fundos de hedge. Isso pode fazer parte do pacote de reformas financeiras em discussão. Os fundos com mais de US$ 30 milhões terão de ser registrados na SEC, embora a SEC tenha falhado em pegar Madoff. Quando a SEC vai contratar inspetores de fraudes em vez de advogados? Assim eles poderão pegar o próximo Bernie Madoff em vez de deixar que ele se safe durante décadas.
Ibovespa
As sete vidas dos investidores
Dizem que gato escaldado tem medo de água fria. Mas quando o assunto é dinheiro o comportamento dos investidores na bolsa é imprevisível – muitos perdedores de 2008 acham que têm sete vidas e podem se arriscar de novo. Agora que o Ibovespa rompeu a casa dos 60 mil pontos, a pergunta é inevitável: ainda dá para entrar?
Pode ser tarde demais. “Quem ainda não entrou na bolsa perdeu a oportunidade da forte valorização dos últimos 12 meses. O curto prazo é incerto”, diz Roberto Lee, diretor da Wintrade. “A bolsa deve continuar nesse mesmo patamar”, afirma o gestor Rodrigo Bresser-Pereira. No ano, a valorização do Ibovespa atingiu 60,4% até quinta-feira, 17.
PELO MUNDO
RUIM DE UM LADO …
Os resultados das vendas das licenças da Oracle no primeiro trimestre fiscal dos EUA foram decepcionantes para os analistas. As estimativas eram de receitas de US$ 826 milhões, mas a companhia de tecnologia da presidente Safra Catz registrou US$ 711 milhões. A ação despencou 2,8% no dia do anúncio, quinta 17, e foi uma das forças a puxar o índice Dow Jones para baixo. …
E DO OUTRO TAMBÉM
Quem também contribuiu para a baixa da bolsa de Nova York foi a FedEx. A gigantesca empresa de logística informou que seu lucro recuou 53% no último trimestre fiscal. Sua ação caiu 2,2%. Más notícias para o CEO Frederick Smith, que terá que fazer muitas entregas e baixar custos para recuperar os bons resultados.
SOB NOVO DIREÇÃO
Após vender sua empresa de software, Opsware, por US$ 1,6 bilhão para a Hewlett-Packard (HP) há dois anos, Marc Andreessen foi anunciado como novo diretor da fabricante de computadores na quinta 17. Ele fará companhia a outros 10 diretores. Com salário de US$ 100 mil anuais mais bônus de US$ 150 mil, Andreessen foi bem recebido pelo mercado. A ação da HP na NYSE subiu 0,15%.