PAPÉIS AVULSOS

Batismo de fogo da Bovespa

A primeira assembléia você nunca esquece. A Bovespa Holding reuniu investidores na quinta-feira 10 para a sua primeira assembléia geral ordinária (AGO). Em pauta, a aprovação do balanço de 2007, a destinação do lucro líquido (o resultado “pro forma” ficou em R$ 478,5 milhões, alta de 140% no ano) e a remuneração dos diretores e conselheiros. Os resultados apresentados mostraram o que já se sabia: 2007 foi um ano espetacular para a Bovespa e o primeiro trimestre de 2008 não foi nenhuma Brastemp. O volume diário negociado, que gera receitas, subiu para R$ 5,9 bilhões até março, abaixo das expectativas. “Esperávamos uma média de R$ 6,5 bilhões”, diz Victor Mizusaki, da Itaú Corretora. O mercado puniu o papel: queda de 4,8%, num dia em que o Ibovespa ficou estável. Otimista, Mizusaki recomenda a compra da ação. “O mercado vai crescer muito e a fusão com a BM&F vai gerar uma economia importante de despesas”, justifica.

Democracia é aceitar o diferente. Unanimidade não é democracia

RAYMUNDO MAGLIANO FILHO, presidente da Bovespa

O lado pitoresco da AGO ficou por conta dos votos contrários da pequena acionista Elizabeth de Oliveira, viúva e aposentada, que reclamou da falta de transparência da Bolsa em algumas questões. Os presentes riram, alguns ficaram irritados, mas todos a trataram com respeito. “Na fusão, eu voto no senhor”, disse ela ao presidente da Bovespa, Raymundo Magliano Filho, sobre a escolha da direção da Nova Bolsa. “Obrigado”, respondeu. “Nem conheço o Manoel (Cintra Neto, presidente da BM&F)”, acrescentou ela. Político, Magliano nem piscou: “Ele é um ótimo nome”.

DESTAQUE NO PREGÃO

O avanço da M.Dias Branco

s ações da cearense M.Dias Branco, fabricante de massas e biscoitos, subiram 14% até quinta-feira 10. Não foi obra do acaso. A novata do Novo Mercado fez o que os investidores gostam: ampliou suas perspectivas de crescimento ao anunciar a compra da Indústria de Alimentos Bongosto, conhecida como Vitarella, por R$ 595 milhões. Líder no segmento no Brasil, a M.Dias Branco reforça sua presença no Nordeste com a compra da concorrente pernambucana. E daí? O Nordeste, depois do Bolsa Família, é a nova fronteira dos negócios no varejo. O empresário Francisco Dias Branco reina nesse mercado, também descoberto pelo bilionário mexicano Ricardo Salinas. As recentes chuvas na região da seca comprovam: o sertão vai virar mar – de dinheiro.

PALAVRA DE ANALISTA

André Paes, analista da Infinity Corretora, recomenda a compra da ação (MDIA3). Seu preço-alvo é de R$ 30 em 12 meses. O papel, depois da alta na semana, chegou a R$ 19,59 na quinta. A M.Dias Branco e a Bongosto são focadas em alimentos, especificamente biscoitos, e mesmo com o aumento do preço do trigo elas levarão vantagem. “A Bongosto tem prejuízos fiscais a compensar. No próximo ano fiscal, as duas empresas juntas pagarão menos impostos”, diz ele. A capacidade produtiva das duas empresas também será bem maior e a possibilidade de ganharem uma fatia mais significativa do mercado é grande.

 

ELETROBRÁS

Super-holding ou supermico?

O governo Lula decidiu transformar a Eletrobrás numa espécie de Petrobras do setor elétrico. Agora, a empresa poderá participar como sócia majoritária nos leilões de concessão de energia e atuar no Exterior. “Não se trata de reestatização”, diz o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Será? O analista Vicente Koki, da Banif Securities, acha cedo para fazer previsões sobre as mudanças no setor diante do novo papel da empresa.

“Precisamos ver os projetos da Eletrobras e os preços que irá levar aos leilões”, diz. O risco é o mercado aceitar uma queda de rentabilidade, o que prejudicaria as concorrentes. No curto prazo, outra questão incomoda muitos investidores: o pagamento de dividendos retidos pela Eletrobrás, de R$ 8 bilhões. Vai pagar, ministro?

QUEM VEM LÁ

O IPO da Le Lis Blanc

A janela de oportunidade para as emissões de novas ações continua praticamente fechada. Mesmo assim, outra empresa corajosa depois da Hypermarcas decidiu encarar o mercado com seu IPO: a Le Lis Blanc, grife de moda feminina controlada pela gestora de recursos Artesia. Se der certo, será a primeira do ramo a estrear na Bovespa. A emissão será de R$ 305,6 milhões, caso o preço médio das ações fique dentro do previsto no prospecto (R$ 11,50 por ação). A Le Lis Blanc é uma empresa pequena, sem estilistas de renome, mas está crescendo bastante. Faturou R$ 145 milhões em 2007, 26,5% acima do ano anterior. Tem 11 lojas próprias, 20 licenciadas e planeja abrir mais 19 este ano. O setor de moda, um dos mais inovadores, tem boas perspectivas. “As empresas brasileiras de moda são muito reconhecidas no Exterior”, diz Carlos Miranda, sócio da consultoria Ernst & Young.

FIQUE DE OLHO O prospecto da Le Lis Blanc pode ser baixado pela internet, no www.lelis.com.br/ri. Atenção aos fatores de risco, nas páginas 38 a 47.

TOURO X URSO

Os fatores de alta na bolsa continuam atrelados ao cenário internacional. A “boa notícia” para esta semana é que não há indicadores importantes para serem divulgados nos EUA. Nas atuais circunstâncias, os analistas de mercado consideram ser esse um sinal positivo. Os pessimistas, porém, aguardam declarações do presidente do Fed., Ben Bernanke sobre os indícios de novas perdas financeiras relacionadas ao subprime.

Os fatores de baixa na bolsa estão ligados ao mercado interno. Na quarta 16, o País saberá se o Banco Central irá mesmo aumentar a taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 11,25%. A alta recente da inflação (leia a seção DINHEIRO em Números) poderá justificar o aumento de 0,25 ponto percentual ou de 0,50 ponto, acreditam os analistas. Os reflexos da medida podem puxar o mercado de ações para baixo.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Antes de colocar dinheiro em ações, os iniciantes devem treinar em simuladores do mercado. O conselho é de Gustavo Cerbasi, autor do livro Cartas a um jovem investidor (Campus/Elsevier, R$ 33,90). “Muitos jovens se vêem como investidores arrojados, mas são desorientados. Acham que aprenderão investindo, enquanto poderiam treinar e só então investir de maneira inteligente na bolsa”, diz.

MERCADO EM NÚMEROS

ENERGIA

R$ 91 por megawatt-hora
é o preço teto definido para o leilão da segunda hidrelétrica do rio Madeira, a usina Jirau. O mercado esperava R$ 122, preço máximo fixado para a primeira, a Santo Antônio. Em tempo: a dupla vencedora (Odebrecht e Furnas) ofereceu tarifa de R$ 78,87.

AGRICULTURA

5,6% de crescimento
é a previsão do IBGE para a safra agrícola de 2008. A produção de grãos chegará a R$ 140,5 milhões de toneladas. O destaque é o milho, insumo de empresas de alimentos, como a Sadia e Perdigão, e matéria-prima do etanol nos EUA.

INDÚSTRIA

3,2% de aumento
foi o desempenho da atividade industrial no País em fevereiro, comparada a igual mês de 2007, segundo o IBGE. No mês, a alta foi de 0,6%. O BNDES irá liberar R$ 250 bilhões para a política industrial. O setor está entre os piores desempenhos na bolsa, com queda de cotações de 1,97% em 12 meses (leia quadro nesta página).

SIDERURGIA

US$ 2,5 bilhões de investimentos
serão necessários para a Vale construir uma nova usina siderúrgica no Ceará. Na terça-feira 8, a Vale assinou memorando de entendimento com a gignte japonesa JFE Steel, segunda maior do País e terceira no ranking mundial, e a coreana Dongkuk. Ambas serão sócias no empreendimento. A Ceará Steel será movida a carvão, e não mais a gás, o que elevou o custo do projeto inicial, previsto em US$ 800 milhões.

 

PERSONAGEM

A tacada da Parmalat

Estamos seguindo o nosso plano de negócios descrito no IPO

MARCUS ELIAS presidente da Laep

Marcus Elias, presidente da Laep Investments, controladora da Parmalat no Brasil, está dando a volta por cima. As ações da Laep, que sofreram com a crise do leite no ano passado, subiram 9,3% na quinta-feira 10, quando anunciou a compra da marca Poços de Caldas e o direito de uso da Paulista por 15 anos, ambas da Danone. Ele falou à DINHEIRO.

DINHEIRO – Qual foi o valor do negócio?
MARCUS ELIAS – Ainda não posso revelar.

DINHEIRO – Quando poderá?
ELIAS – Em 30 dias.

DINHEIRO -De onde vem o dinheiro?
ELIAS – Do IPO, quando captamos R$ 507 milhões. Estamos seguindo o nosso plano de negócios, descrito no prospecto.

DINHEIRO – Sobrou para novas aquisições?
ELIAS – Não, completamos o nosso portfólio. Agora vamos tirar melhor proveito da nossa estratégia de consolidação de marcas e de produção.

DINHEIRO – Quanto vai crescer o faturamento da Parmalat este ano? Comenta-se no mercado que seria de R$ 1,6 bilhão, R$ 500 milhões acima do ano passado.
ELIAS – Não posso fazer previsões. Nossa perspectiva é de crescimento, pois o mercado está bom e fizemos aquisições no ano passado. Compramos a Ibituruna, a Só Nata.

DINHEIRO – Dá para recuperar a imagem da Parmalat, abalada na crise do leite contaminado?
ELIAS – A Parmalat já se recuperou. As pessoas perceberam que aquela crise foi fraudada. Não tinha contaminação nenhuma.

DINHEIRO – Vai processar os acusadores?
ELIAS – Não. Somos meio mineiros.

DINHEIRO – O que há de novo na empresa, além da compra da Poços de Caldas?
ELIAS – Acabamos de comprar uma fazenda de vacas de leite no Uruguai, por R$ 10 milhões. Eles têm o melhor rebanho da região. Vamos trazer óvulos de lá e melhorar as vacas que fornecemos aos nossos produtores. Para isso, compramos a In Vitro. É a nossa nova fábrica de vacas de alta qualidade. Ninguém faz isso como a gente no Brasil.

DINHEIRO – Qual é a diferença, para o produtor?
ELIAS – Eles irão produzir mais, com melhor qualidade e menos custo. A média de produção diária de leite é de três litros por vaca no Brasil. No Uruguai, é de 30 litros. Aqui, com os cruzamentos genéticos, conseguiremos aumentar para 15 a 17 litros. Isso traz economia de custos e de insumos ambientais, pois cinco vacas comem e bebem bem mais do que uma.

PELO MUNDO

O TOMBO DA GE
A General Eletric anunciou, na sexta- feira 11, uma queda não esperada de 5,8% nos lucros do primeiro trimestre. Suas ações, tão logo abriram os negócios na Bolsa de Nova York, caíram 11,4%. O resultado trimestral, de US$ 4,3 bilhões, foi comprometido pela crise do subprime, que atingiu a área de serviços financeiros da GE.

BRASIL LEVANTA ACCOR
As ações do grupo Accor na Bolsa de Paris tiveram alta modesta, de 0,71%, na quinta-feira 10, com o anúncio de que o grupo hoteleiro fechou parceria com a construtora brasileira WTorre na construção de 20 hotéis no País até 2010. Os analistas franceses gostaram da novidade e passaram a recomendar a compra do papel da empresa, presidida por Gilles Pélisson.

PORTFÓLIO NO FACEBOOK
O site mais popular de relacionamento dos EUA, o Facebook, possui ferramentas muito úteis para investidores que querem acompanhar o desempenho de suas ações sem sair da página de seus perfis pessoais. A Forbes e a Simple Stock Quotes saíram na frente e lançaram os aplicativos de acompanhamento de ações mais usados no Facebook. Eles, por enquanto, só funcionam para as bolsas americanas.

AÉREA NA BERLINDA
As ações da American Airlines caíram mais de 10% na quarta-feira 9. A companhia cancelou em apenas quatro dias nada menos que 1.500 vôos para revisar as aeronaves. Gerard Arpey, CEO da empresa, disse que o prejuízo será de dezenas de milhões de dólares.

Colaboraram Ana Clara Costa e Márcio Kroehn