25/02/2009 - 7:00
PAPÉIS AVULSOS
Um pote, menos cheio
A desaceleração da economia mundial no último trimestre de 2008 interrompeu o ciclo de crescimento das siderúrgicas brasileiras. Os resultados de Gerdau e Usiminas, divulgados na quinta-feira 19, confirmaram que o pote dessas companhias está menos cheio. As vendas da Gerdau caíram 24% de outubro a dezembro e as da Usiminas, 26%. A produção de aço também diminuiu. Mesmo assim, os resultados consolidados do ano foram vistosos. O lucro líquido da Gerdau cresceu 14,9%, para R$ 4,9 bilhões. E o da Usiminas aumentou 2%, para R$ 3,2 bilhões. O passado já está refletido no preço das ações. Em 12 meses, as preferenciais da Gerdau caíram 40% e as da Usiminas, 52%. Mas e o futuro, já foi descontado?
O mercado de ações vive de expectativas, mas o fato é que ninguém pode afirmar com algum grau de certeza qual é o cenário mais provável para a economia mundial. A maior incógnita é a China, que aparentemente já assimilou o golpe e preparase para voltar a crescer com força, com benefícios para o Brasil, segundo os economistas do HSBC. Os programas oficiais devem beneficiar as siderúrgicas, prevê o empresário André Gerdau Johannpeter. ?As medidas de estímulo aos investimentos em infraestrutura, que estão sendo tomadas nos vários países onde atuamos, devem aumentar o consumo do aço?, diz.
DESTAQUE NO PREGÃO
O freio da Randon
Se até o final de 2008 as empresas da família Randon não estavam sentindo os efeitos da desaceleração econômica, os ventos trazidos pelo novo ano já afetaram os resultados do grupo. A Randon Participações divulgou a receita líquida de R$ 153,6 milhões no primeiro mês do ano, um número 24,3% inferior ao de janeiro de 2008. Já a Fras-le acumulou queda de 20,2% na receita durante o mesmo período, fechando o mês com R$ 235,8 milhões. O resultado não surpreendeu. Como afirmou o presidente da Fras-le, Daniel Randon, à DINHEIRO, edição nº 589, já se esperava uma queda de 20% na demanda das montadoras em 2009. No dia do anúncio dos resultados, o papel RAPT4 teve queda de 2,23%, enquanto o FRAS4 subiu 4,46%.
PALAVRA DE ANALISTA
A Randon desacelerou a produção e estendeu os prazos dos pedidos que deveriam ser entregues no primeiro semestre. A estratégia é equilibrar a atividade da fábrica durante o ano. ?Os pedidos diminuíram. Se a Randon mantivesse o mesmo ritmo, poderia ter uma produção estável no semestre, mas também sofreria uma queda brusca a partir de junho?, diz Wagner Salaverry, chefe de análise da Geração Futuro. Daí o recuo nas receitas. A Fras-le ainda poderá ter um bom 2009. ?As montadoras estão voltando a produzir e a Fras-le será beneficiada. O dólar valorizado também é um fator positivo, principalmente para a exportação. Ela está bem melhor que a média das empresas do setor.?
TOTVS
Crise? Que crise?
O quarto trimestre foi ruim para muitas empresas. A Totvs, porém, não tem do que se queixar. Após adquirir a Datasul em julho, a empresa, que comercializa e desenvolve softwares de gestão empresarial e é comandada por Laércio Cosentino, conseguiu um ajuste milimétrico na união das duas estruturas e fechou o último trimestre de 2008 com expansão de 26,3% da receita líquida sobre o período anterior. No ano, a receita de R$ 844,8 milhões foi 27,6% superior. As taxas de licenciamento e de serviço foram recorde, contribuindo com R$ 233,7 milhões e R$ 284,8 milhões, respectivamente, no resultado bruto. O lucro líquido anual ficou em R$ 129,3 milhões, alta de 20%. O sinal de alerta foi dado no aumento de 155,8% da provisão para crédito de liquidação duvidosa, para R$ 6,2 milhões. A Totvs afirma que não houve deterioração da carteira brasileira.
QUEM VEM LÁ
Ajuste fino
O Bradesco anunciou na semana passada que realizará o grupamento de seus papéis, na proporção de 50 ações ordinárias e preferenciais para uma ação. Os 3,069 bilhões de papéis serão reduzidos para 61,3 milhões. A decisão busca reduzir a base de acionistas, que contém muitos investidores inativos, o que gera um custo operacional excessivo. Após a operação, o banco realizará a operação inversa: ocorrerá o desdobramento dos 61,3 milhões de ações para 3,069 bilhões. Com o ajuste fino, o Bradesco não mexerá no preço do papel e melhorará a liquidez no pregão. As dúvidas podem ser esclarecidas por e-mail: investidores@bradesco.com.br.
FIQUE DE OLHO: O Bradesco realiza muitos encontros anuais com investidores pessoa física, através da Apimec. A primeira reunião acontece em março, Santos (SP), na noite de quinta-feira 5.
TOURO X URSO
Os dados econômicos que podem influenciar o desempenho da bolsa nesta curta semana de Carnaval estarão concentrados na quinta-feira. O IGP-M de fevereiro, medido pela FGV, e as operações de crédito em janeiro, divulgadas pelo Banco Central, podem fazer o investidor retomar a confiança, que anda em baixa. Isso, claro, se a inflação estiver sob controle e ter havido retomada dos empréstimos.
Não há notícia ruim que venha de outro endereço: os Estados Unidos. Os investidores esperam que Barack Obama e o Congresso acertem a mão nos pacotes de socorro ao sistema financeiro. Na semana passada, a bolsa brasileira refletiu na terça-feira 17 o péssimo humor de Wall Street, com a queda de mais de 4% do Ibovespa. As atenções da semana ficarão concentradas na sexta 27, quando será divulgada a última revisão do PIB americano do quarto trimestre.
EDUCAÇÃO FINANCEIRA
Que tal investir somente R$ 50 para fazer um curso de Introdução ao Mercado de Capitais, com duração 30 horas-aula? É o que oferece a Apimec- SP, em conjunto com Abrasca, Anbid, Amec, Ibgc e Ibri. As aulas começam em 23 de março, em São Paulo. Inscrições podem ser feitas por e-mail (eventos@apimecsp.com.br) ou telefone (11-3107 1571).
MERCADO EM NÚMEROS
DAYCOVAL
R$ 400 milhões
Foi quanto o banco Daycoval captou com uma oferta privada de bônus de subscrição de ações.
NATURA
17,3%
foi o crescimento do lucro líquido da Natura em 2008, para R$ 542,2 milhões. A receita líquida cresceu 17,7%, para R$ 3,6 bilhões..
PORTO SEGURO
7 milhões
ações é o total da recompra dos papéis da Porto Seguro, o que equivale a 8,2% das ações em circulação.
LIGHT
9,3%
foi a queda do lucro líquido da Light em 2008, para R$ 974,5 milhões. O Ebtida, de R$ 1,5 bilhão, foi 32,2% superior a 2007.
REDECARD
R$ 1,1 bilhão
foi o lucro líquido da Redecard no ano passado, cifra 43,4% maior que a de 2007.
VALE
R$ 2,4 milhões
é o investimento previsto pela Vale para o projeto de trens movidos a biocombustíveis.
EMBRATEL
22,4%
foi o recuo do lucro líquido de R$ 612,7 milhões da Embratel em 2008, em relação ao ano anterior. A receita líquida totalizou R$ 9,8 bilhões, alta de 13,4%.
VIVO
5,81 milhões
em novas ações serão lançadas pela Vivo no aumento de capital de R$ 189,9 milhões. O lucro líquido de R$ 389,7 milhões no ano passado reverteu o prejuízo de R$ 99,8 milhões em 2007.
PERSONAGEM
Fábrica de dividendos
O cigarro é um dos maiores vilões da saúde pública, mas continua sendo um negócio rentável para o governo e os investidores em ações. No ano passado, a Souza Cruz recolheu R$ 5,7 bilhões em tributos e distribuiu R$ 1,2 bilhão na forma de dividendos e em juros sobre o capital próprio, equivalentes a 96% do lucro líquido. Listada no Novo Mercado da BM&FBovespa, o papel da empresa tem um desempenho muito regular, com valorizações de 40% em 2006 e 39% em 2007. No ano passado, a queda de 2% foi muito inferior à perda de 41,2% do Ibovespa. O diretor financeiro e de relações com investidores, Luiz Cláudio Rapparini, falou à DINHEIRO:
DINHEIRO – Por que a ação teve um resultado consistente nos últimos anos?
LUIZ RAPPARINI ? A Souza Cruz não é uma ação especulativa, é defensiva. Nosso negócio é bastante maduro e com forte geração de caixa. Não crescemos aceleradamente, não provocamos grandes impactos, mas a previsibilidade de geração de caixa é alta. Nossa política de dividendos é bastante agressiva. Essa estabilidade, em meio a um mercado de alta volatilidade, se reflete no preço do papel.
DINHEIRO – A política de dividendos é o maior atrativo?
RAPPARINI ? Poucas empresas têm uma política agressiva de distribuir o caixa excedente quando não é necessário para o negócio. Distribuímos, em média, quase 100% do lucro líquido como dividendos em 10 anos. Com esse retorno, a especulação com a ação é baixa. Seis mil acionistas de vários tamanhos detêm 24,7% das nossas ações. Metade deles são estrangeiros, que venderam nosso papel em menor quantidade (na crise).
DINHEIRO – Os derivativos causaram problemas?
RAPPARINI ? A tesouraria é conservadora e não temos derivativos. Nosso negócio é fabricar e vender cigarros. O foco é o lado operacional e não a alavancagem do resultado com operações financeiras.
DINHEIRO – A nocividade do cigarro não afasta investidores?
RAPPARINI ? Investidores que optam pelo papel conhecem a natureza do negócio. Certamente por política de investimento, outros não optam. É completamente normal e uma decisão de investimento. O papel é de baixa volatilidade e alto retorno, por isso temos perfis diversos de fundos nacionais e estrangeiros. Os riscos do consumo dos nossos produtos são conhecidos.
PELO MUNDO
ESTATIZAÇÃO À VISTA
O Congresso da Alemanha aprovou uma lei que permite a estatização das instituições financeiras, caso seja a última opção para evitar uma quebra. A primeira-ministra Angela Merkel confirmou que a medida permitirá que o governo assuma o controle da casa hipotecária alemã Hypo Real Estate Holding.
PREJUÍZO MENOR
As ações da rede de hotéis Marriott International caíram até 7,8% na Bolsa de Nova York na quintafeira 12, depois do anúncio de um prejuízo de US$ 10 milhões no quarto trimestre. Um ano antes, o lucro alcançou US$ 176 milhões no período. As receitas caíram de US$ 4 bilhões para US$ 3,8 bilhões. Pior, as perspectivas para 2009 não são muito animadoras para o setor de turismo.
UBS DELATA
O suíço UBS aceitou pagar US$ 780 milhões aos EUA para encerrar um processo judicial por facilitar a sonegação fiscal naquele país. O banco presidido por Peter Kurer admitiu o erro e entregou à Justiça americana uma lista com nomes de sonegadores. Na quintafeira 19, as ações do UBS abriram em alta de 7% na NYSE.
TELMEX PUXA O FREIO
A Telmex Internacional, empresa de Carlos Slim que controla a Embratel, a NET e a Claro, anunciou que reduzirá seus investimentos de US$ 1,6 bilhão em 2008 para US$ 1,1 bilhão em 2009. O Brasil foi o destino de mais de 60% dos investimentos da empresa em 2008. Suas ações caíram 0,12% na NYSE, na quinta-feira 19.
Com Márcio Kroehn
AVISO ? Esta seção tem caráter meramente informativo e seu conteúdo não deve ser interpretado como recomendação de investimentos. A revista DINHEIRO não se responsabiliza por decisões de investimento tomadas por seus leitores. Os autores detêm ações das seguintes empresas: Vale, Petrobras, Usiminas, BM&FBovespa, Bradesco, Itaú e Redecard.