09/09/2009 - 7:00
PAPÉIS AVULSOS
O posfácio do pré-sal
O antigo mantra Compre no boato, venda no fato ajuda a explicar parte da queda das ações da Petrobras no dia do anúncio do modelo de exploração da camada de petróleo do pré-sal. Na segunda 31, depois de subir mais de 45% no ano, a bluechip recuou 4,5% (ON) e 3,6% (PN). Nos três dias seguintes, as ordinárias subiram 0,64% e as preferenciais, 2,58%, recuperando parte dos ganhos acumulados por conta dos rumores – confirmados – de que a empresa seria a única operadora do présal. Nessa condição, a Petrobras terá acesso a informações estratégicas, controle sobre produção e custos e desenvolvimento de tecnologia, lembram Rodrigo Fernandes e Hering Shen, analistas da Fator Corretora. Outra boa notícia foi a manutenção das regras nas áreas já licitadas, acrescenta Luiz Otávio Broad, da Ágora. Noves fora, os papéis poderiam se valorizar ainda mais, não fosse a preocupação dos investidores vendedores quanto à capitalização da companhia presidida por José Sérgio Gabrielli (mais detalhes na pág. 50). Como o aumento de capital será atrelado a cinco bilhões de barris cujos preços ainda serão calculados, não se sabe ainda quanto será levantado, nem quando. Nos cálculos da Fator, o valor presente do fluxo de caixa da reserva em questão equivale a cerca de US$ 3 o barril, tomando-se o preço de longo prazo de US$ 75. Com isso, o governo entraria com US$ 15 bilhões, numa operação total de US$ 47 bilhões. Há risco de diluição dos minoritários, dado o tamanho da operação. Mesmo assim, a Fator recomenda a manutenção das PN, com preço-alvo de R$ 40,50 para junho de 2010. A Ágora indica a compra, com preço- alvo de R$ 39,00.
DESTAQUE NO PREGÃO
Gigante endividado
Nasceu bastante endividada a maior fabricante de celulose do mundo, a Fibria. União da Votorantim Celulose e Papel (VCP) e da Aracruz Celulose, será dirigida pelo atual comandante da segunda, Carlos Augusto Lira Aguiar. Seu principal objetivo será desalavancar as operações e reduzir o endividamento da empresa, por volta de R$ 13 bilhões. Boa parte dessa conta foi criada pela Aracruz em 2008 com as operações de derivativos cambiais, que a enfraqueceram e resultaram em sua incorporação pela VCP. O grupo Votorantim, com 29%% do capital total, indicou quatro dos sete conselheiros da Fibria e o BNDESpar (35%), dois. José Luciano Penido, da VCP, presidirá o conselho. A empresa pretende ingressar no Novo Mercado da Bovespa até o final de 2009.
PALAVRA DE ANALISTA
A boa notícia da criação da Fribia, que terá 37% do mercado brasileiro de celulose, vai chegar com atraso na bolsa. O endividamento de R$ 13 bilhões vai consumir o caixa da empresa. A relação da dívida é de 7,2 vezes o ebtida. “É uma das maiores entre as empresas brasileiras. Não acontecerão grandes investimentos no curto prazo”, diz Denise Messer, da Brascan Corretora. Uma possível solução caso a geração de caixa fique abaixo do esperado seria a venda da operação de papel, mas os executivos do Fibria negam essa possibilidade. Resta aumentar a receita. “O aumento de preço no mercado internacional foi bem recebido. As perspectivas para o setor são boas”, afirma Denise.
MMX
Eike Batista no Ibovespa
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) negou, na quarta-feira 26, recurso apresentado pela Redecard contra medida preventiva adotada pela Secretaria de Direito Econômico em julho. A empresa, acusada de abuso de poder contra os facilitadores de pagamento via internet, continua proibida de exigir desses intermediários a lista de clientes e seu credenciamento, de impor que as transações sejam liquidadas e processadas pelo sistema próprio da Redecard, e de descredenciar ou desconectar facilitadores que decidam não aderir ao novo modelo contratual. A decisão não impede que as partes continuem negociando as bases dos novos contratos. As ações ordinárias da empresa caíram 1,69% no dia da decisão, para R$ 26,25 (leia mais sobre o setor na página 96)
QUEM VEM LÁ
A vez da Cetip
A pista de lançamento de ações da BM&FBovespa recebeu na semana passada duas novas candidatas a decolagem: a Gol Linhas Aéreas e a Multiplan. A empresa de Constantino Júnior quer levantar recursos no Brasil e nos Estados Unidos e comenta-se no mercado que poderá captar até R$ 1 bilhão. No caso da Multiplan, a intenção é atrair R$ 650 milhões (leia Destaque no Pregão). O interessante na pretensão da Gol, que ainda precisa registrar a operação na CVM, é que a oferta de ações ordinárias e preferenciais será primária, ou seja, colocará dinheiro novo no caixa da empresa, que poderá reduzir seu endividamento. Nos Estados Unidos, a aérea pediu registro para fazer distribuição primária e secundária de ações preferenciais, por meio de recibos (ADS).
FIQUE DE OLHO: A Comissão de Valores Mobiliários já fala em permitir, no futuro, negociações de ações de companhias abertas em outros mercados que não a bolsa de valores. Mas não há prazo para isso.
TOURO X URSO
O feriado de segunda-feira 7 deixa a semana mais curta no Brasil e nos Estados Unidos, onde se comemora o dia do trabalho. No dia seguinte, enquanto o IBGE mostra o comportamento do mercado de trabalho em julho, o Fed divulga os números do crédito ao consumidor. A expectativa com o conteúdo do livro bege, na quarta-feira 9, poderá se transformar em otimismo para o encerramento da semana.
A China é o grande fiel da balança. Nesse início de setembro, os principais números do mês anterior poderão mostrar ao investidor a capacidade dos chineses continuarem sustentando o otimismo mundial. Na quinta-feira 10, uma enxurrada de dados econômicos. Os principais serão o volume da produção industrial (importante para o setor siderúrgico) e as vendas ao varejo. A balança comercial será divulgada na sexta-feira 11.
EDUCAÇÃO FINANCEIRA
A Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento de São Paulo promove o 19º Curso de Introdução ao Mercado de Capitais. Segundo o presidente da Apimec SP, Reginaldo Alexandre, serão abordados temas básicos e as novidades do mercado. Para participar, basta fazer a inscrição até 10/09 pelo telefone (11) 3107-1571 ou pelo e-mail eventos@apimecsp.com.br. As aulas serão de 14 a 25 de Setembro, das 09h às 12h.
MERCADO EM NÚMEROS
BM&FBOVESPA
6,6 milhões
foi o total de contratos negociados no segmento BM&F pelas ordens diretas (co-location) em agosto. Na Bovespa, foram 7,9 milhões.
ESTRANGEIROS
R$ 1,25 bilhão
Foi o saldo líquido dos investimentos estrangeiros na Bovespa em agosto. No ano, as compras superam as vendas em R$ 13,6 bilhões.
AMBEV
R$ 12 milhões
foi a proposta apresentada pela AmBev ao Cade para o encerramento de um processo administrativo, cuja multa era de R$ 352 milhões. O Tribunal Regional Federal concedeu uma liminar para a cervejaria na quarta-feira 2.
CYRELA
R$ 350 milhões
é o valor total das debêntures simples que a Cyrela vai emitir com prazo de cinco anos. O rendimento será CDI mais 0,81% ao ano.
POSITIVO
R$ 200 milhões
foi o montante recebido pelo Pão de Açúcar do Itaú Unibanco para encerrar a exclusividade entre as operações de serviços financeiros.
VIVO
R$ 902,2 milhões
foi o pagamento feito pela Vivo para a Anatel. O objetivo é receber a autorização para operar em 12 regiões.
PERSONAGEM
Passaporte carimbado
Muito antes de a BM&FBovespa iniciar suas conversas com a Nasdaq, há duas semanas, a Souza Barros Corretora fincou seus pés nos EUA. Em abril, Carlos Souza Barros viajou até a Flórida para inaugurar sua filial em Miami. Era uma maneira de abrir as portas para o residente na terra de Tio Sam comprar ativos brasileiros. Neste momento, a corretora brasileira quer continuar expandindo suas fronteiras. Conversas com corretoras da América Latina estão adiantadas, e elas abrirão mais um canal de compra de ações em outras bolsas do mundo. E vem mais por aí. “Em breve também estaremos na Europa”, disse Souza Barros à DINHEIRO, em Campos do Jordão (SP), durante o 4º Congresso dos Mercados Financeiro e de Capitais, promovido pela BM&FBovespa. Após a rápida recuperação da bolsa brasileira, ele recomenda cautela aos investidores neste final de ano.
DINHEIRO – O que muda com as conversas de parceria entre a BM&FBovespa e a Nasdaq?
CARLOS SOUZA BARROS – Para nós, não faz grande diferença. As portas e as barreiras estão, cada vez mais, se abrindo para o investidor estrangeiro. A conversa entre as bolsas é uma confirmação do que nós já fazemos.
DINHEIRO – O escritório da Souza Barros nos EUA já tem um peso relevante?
SOUZA BARROS – Por enquanto, não tem fluxo de brasileiros investindo nos EUA. De lá para cá, são as instituições financeiras que utilizam esse canal para acessar o Brasil.
DINHEIRO – Quais são os principais investidores estrangeiros?
SOUZA BARROS – Temos visto investidores sul-americanos com bastante apetite. Essa foi a nossa maior surpresa. É impressionante quanto o chileno, o argentino, o uruguaio e o colombiano conhecem e estão ávidos para investir no Brasil.
DINHEIRO – O perfil é o mesmo dos clientes brasileiros?
SOUZA BARROS – Estamos em busca de pessoas com poder de investimento entre US$ 100 mil e US$ 150 mil. É bem diferente do cliente brasileiro, que tem entre R$ 5 mil e R$ 10 mil para investir. Porém, as ferramentas oferecidas são muito parecidas para quem opera pela Souza Barros Securities e pelo home broker aqui no Brasil.
DINHEIRO – A bolsa vai continuar subindo?
SOUZA BARROS – Paramos em um vácuo. A valorização da bolsa até o final do ano não é tão grande. Para quem não está na bolsa, não recomendaria entrar agora. Neste momento, o POP, o investimento protegido, é a melhor alternativa para a renda variável.
DINHEIRO – Os fundos de índice (ETFs) poderiam ser a outra alternativa?
SOUZA BARROS – Nos EUA e no resto do mundo, o ETF é um produto muito popular para o pequeno investidor. Ele ainda vai ter um grande apelo por aqui. No passado, lançamos os primeiros fundos negociados em pregão. Agora, optamos por não fazer gestão para ter a liberdade de recomendar sem nenhum compromisso com o que temos em casa.
DINHEIRO – As corretoras continuarão oferecendo apenas as ferramentas de compra e venda de ações?
SOUZA BARROS – Não acredito que serão só corretagem e eficiência das ferramentas oferecidas aos clientes. Não é a nossa estratégia. Corretoras independentes terão que prestar, cada vez mais, consultoria. Quem for para a renda variável ou para produtos mais sofisticados, vai encontrar o corretor como um consultor de investimento, alguém que vai olhar para a carteira e o perfil dele e fazer as recomendações. Haverá uma migração para um conceito mais profundo de finanças pessoais nas corretoras.
AVISO – Esta seção tem caráter meramente informativo e seu conteúdo não deve ser interpretado como recomendação de investimentos. A revista DINHEIRO não se responsabiliza por decisões de investi-mento tomadas por seus leitores. Os autores detêm ações das seguintes empresas: Banco do Brasil, BM&FBovespa, Bradesco, Itaú Unibanco, Marfrig, Pão de Açúcar, Petrobras, Redecard, Usiminas e Vale.
GOVERNANÇA CORPORATIVA
O fim do Nível 1 e a reforma do Novo Mercado
Com mais de um ano de atraso em relação às suas principais concorrentes, a agência de classificação de riscos de crédito Moody’s Investor Service prepara-se para elevar a nota do Brasil para grau de investimento. Espera-se que a decisão seja tomada em setembro. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, teria sido avisado pelo vice-presidente da Moody’s Mauro Leos, em recente reunião em Nova York. Isso significa que os títulos do Brasil deixarão de ser considerados investimentos de risco, algo que a Standard & Poor’s e a Fitch Ratings já perceberam há muito tempo. Antes tarde do que nunca? Com certeza. Num momento em que a economia mundial começa a sair do buraco, a notícia só reforça a percepção externa de que o Brasil sai da crise mundial de maneira privilegiada. Em julho, a bolsa recebeu US$ 6,7 bilhões dos estrangeiros, lembra Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco. “A crise global continua a fortalecer o Brasil como destino dos investimentos. Pode não ser uma tendência permanente, mas parece natural que ela persista enquanto o Brasil crescer mais do que seus pares. Tudo indica que este será o caso em 2009 e 2010”, argumenta.