PAPÉIS AVULSOS

Quem chamou o xerife?

A festa da VisaNet estava tão animada na semana passada e a demanda, tão forte, que o preço mínimo da ação ordinária foi definido no teto da oferta pública inicial, a R$ 15. Pena que alguém chamou o enfezado xerife do mercado, a CVM, e milhares de pessoas físicas que estavam na fila do maior IPO da bolsa brasileira ficaram de fora. Investidores de todo o País não puderam participar da operação, que atingiu R$ 8,4 bilhões na quinta-feira 25 e pode alcançar R$ 9,7 bilhões com o exercício da opção suplementar, até 29 de julho. Das 79 corretoras participantes da distribuição, 21 foram afastadas na semana passada pelo coordenador, o Bradesco BBI, comandado por José Luiz Acar Pedro, após pressão da CVM. Dentre elas, a Corretora Bradesco e a Ágora, do próprio grupo. Os clientes de varejotiveram de procurar outras corretoras. Quem não conseguiu abrir conta a tempo, dançou. E qual foi a bronca do xerife? Corretores e agentes autônomos utilizaram material publicitário não autorizado para convencer investidores que era um bom negócio. Esses participantes não assimilaram ainda o rigor da CVM nas ofertas públicas, demonstrado em 2007 com a suspensão de algumas operações pelas mesmas razões. E a autoridade não abriu mão da linha dura, justificada pela necessidade de proteger o investidor individual dos vendedores de sonhos. Se as ações caírem na estreia, prevista para a segunda-feira 29, muitos agradecerão à CVM. Se subirem, ficarão furiosos. No caso da concorrente Redecard, as ações caíram 7% em 2008 e subiram 25% em 2009.

 

DESTAQUE NO PREGÃO

Nem choro nem vela

A crise levou grandes consumidores de energia a apagar a luz. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em maio o consumo de energia no País caiu pelo sexto mês consecutivo. O gasto energético foi 4,4% inferior a maio de 2008. Na indústria, a queda foi de 12,4%, enquanto nas residências houve uma leve alta de 3,6%. A retração, no entanto, não afetou o desempenho das ações das companhias elétricas. O Índice de Energia Elétrica (IEE) acumula alta de 33,58%. Desde janeiro, os papéis preferenciais da AES Tietê tiveram alta de 46,4%. Os da Eletropaulo subiram 51,61% e os da Energisa, 53,91%.

 

PALAVRA DE ANALISTA

Enquanto o mercado derretia no final de 2008, as ações das elétricas, salvo algumas exceções, mantinhamse estáveis. Este ano, sobem, mesmo com o consumo em queda. “Elas são muito defensivas. São um conforto para o investidor que sabe que o consumo residencial tende a crescer sempre, mesmo que o industrial se retraia”, explica o analista do Banif, Vicente Koki. A Eletropaulo é um exemplo. Apenas 30% de sua produção é voltada para a indústria. Já a Cesp acumula uma alta menos expressiva no ano, 27,38%. “O governo está fazendo uma lei que poderá determinar um preço máximo para a energia. Esse preço poderá ser menor do que o cobrado pela Cesp”, diz.

 

MARFRIG
A dona do peru

Enquanto o mercado aguarda com ansiedade a decisão de compra do grupo Bertin pela Marfrig, a empresa de Marcos Molina corre pela tangente e faz outras aquisições paralelas. Com a compra do segmento de perus da Doux Frangosul, por R$ 65 milhões, a Marfrig entra timidamente no mercado dominado pela dupla Sadia e Perdigão. A aquisição reforça a estratégia de atuação no mercado de alimentos processados. Os recursos são um montante importante do caixa, que tinha R$ 162,6 milhões disponíveis no fim do primeiro trimestre. Em maio, a Marfrig contratou uma linha de crédito de R$ 250 milhões com o Banco do Brasil. As ações ON da companhia já acumulam alta de 102,93% em 2009. Na quarta-feira 24, dia seguinte ao anúncio da compra, os papéis da empresa subiram 7%.

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Justiça

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Oferta relâmpago

Como em uma liquidação relâmpago, a oferta pública primária e secundária da BRMalls só aceitará reservas na terça-feira 30. Sua intenção é captar R$ 800 milhões, que irão ajudar na construção de cinco shoppings, entre eles o da Granja Viana, reduto da classe média alta na Grande São Paulo. O início da negociação acontecerá na sexta-feira 3. O papel da BRMalls, que estreou na Bovespa em 2007, caiu 62% em 2008. Neste ano, até a quinta-feira 25, subia 78,5%.

 

FIQUE DE OLHO: A BRMalls não é um Iguatemi, dono de shoppings de luxo. Seus 34 centros de consumo estão direcionados para a classe média, segmento mais sensível aos efeitos das crises econômicas. O investidor precisa olhar com atenção a previsão de recuperação da economia e a retomada do consumo. Atualmente, o endividamento bruto da companhia é de R$ 1,4 bilhão.

 

TOURO X URSO

 

O investidor vai acompanhar a abertura de capital de uma empresa depois de 12 meses de espera. Com a expectativa sobre a estreia da VisaNet no pregão, na segunda-feira 29, espera-se uma avalanche de dinheiro na bolsa, principalmente por estrangeiros. Na sexta 3, é a vez da BRMalls. Se o otimismo prevalecer, outras companhias, especialmente as blue chips, podem ter seus papéis valorizados durante a semana.

O urso, símbolo de baixa na bolsa, está em alta. O Ibovespa, que chegou a 55 mil pontos, mergulhou abaixo de 49 mil pontos na semana passada. Para alguns analistas, houve realização de lucros para a compra de novas ações em IPOs. Não se vislumbram motivos para novas quedas nesta semana. Os dados fiscais de junho serão divulgados pelo BC na segunda-feira 29. Na terça-feira, sai o índice de confiança do consumidor nos EUA.

 

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Os gritos frenéticos dos operadores do pregão viva voz deixarão de ecoar na BM&FBovespa a partir de quarta-feira 1o. O próprio mercado colocou o último prego no caixão dessa profissão centenária ao migrar espontaneamente para os negócios eletrônicos. Perde-se o charme, ganhase agilidade. Enquanto uma operação ao vivo leva dois minutos para ser fechada e lançada nos sistemas, no computador gastase apenas 0,1 segundo.

 

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MERCADO EM NÚMEROS

 

GERDAU
US$ 3,7 bilhões
é o total da dívida da Gerdau. Na semana passada, a empresa renegociou com 40 instituições financeiras o pagamento dos seus contratos. O custo pode chegar a US$ 60 milhões. O preço-alvo das ações da empresa (GGBR4) foi definido pelos analistas da Bradesco Corretora em R$ 17,40. Diante da cotação de R$ 19,62, o potencial de perda é de 11,3%.

 

BRASIL ECODIESEL
R$ 104 milhões
é o aumento de capital da Brasil Ecodiesel. Será realizada a emissão de 148,5 milhões de novas ações ordinárias, com preço unitário de R$ 0,70.

 

PETROBRAS
R$ 0,30
é o valor do juro sobre capital próprio que a Petrobras distribuirá para cada ação ON e PN. O total a ser desembolsado pela companhia é de R$ 2,6 bilhões.

 

VALE
US$ 150 milhões
é a economia anual prevista pela Vale com a utilização de biodiesel em suas locomotivas no sistema norte e nos equipamentos de grande porte da mina de Carajás.

 

CCR
R$ 500 milhões
é o valor total da emissão simples de debêntures da CCR Rodovias. O valor nominal unitário é de R$ 1 mil, o prazo é de 36 meses e o prêmio será de 121% do CDI.

 

TRANSMISÃO PA ULISTA
R$ 63,9 milhões
é o total de juros sobre o capital próprio que a Transmissão Paulista distribuirá para sua base acionária. Cada ação receberá R$ 0,42.

 

PERSONAGEM
O novo teorema da Pitágoras

Esqueça a soma dos quadrados dos catetos e o quadrado da hipotenusa. O novo teorema da Pitágoras, controladora da Kroton Educacional, não tem nada a ver com a trigonometria clássica. A Pitágoras fez uma divisão simples e admitiu um novo sócio, o fundo de private equity americano Advent. Por R$ 280 milhões, o Advent comprou 50% da empresa de participações. O dinheiro vai reforçar o caixa da Kroton, agora sob controle compartilhado. “Vamos acelerar o crescimento”, diz Walter Braga, presidente da empresa.

 

Vamos acelerar o crescimento

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Walter Braga, presidente da Kroton

 

DINHEIRO – Havia necessidade de um novo sócio?
WALTER BRAGA – Não era necessidade. Embora estivéssemos com uma posição privilegiada de caixa, a crise financeira trouxe dificuldades com as fontes de financiamento. Com o cenário atual, é possível acelerar o crescimento. Por isso, o aumento de capital é interessante, além de agregar a experiência financeira da Advent.

DINHEIRO – Qual é o tamanho do conforto no caixa?
BRAGA – Temos em caixa R$ 80 milhões. O aumento de capital garante um mínimo de R$ 220 milhões. Se os outros acionistas subscreverem, esse aumento pode chegar a quase R$ 390 milhões. É uma posição sólida.

DINHEIRO – De que maneira os investidores poderão manter suas posições atuais?
BRAGA – Haverá emissão de novas ações. As units sairão a R$ 12,53, o que dá 20% de desconto sobre o preço atual. O objetivo é incentivar a adesão dos demais acionistas.

DINHEIRO – Seria difícil pensar em crescimento sem isso?
BRAGA – Não diria difícil. Mas quanto menor o capital, menor é o ritmo de crescimento. A organização agora vai aperfeiçoar a sua governança corporativa. Nosso conselho de administração, que tinha cinco membros, sem um independente, passa a ter nove com o novo acordo. Serão três indicados pela Pitágoras, três pela Advent e três independentes. É mais transparência e conforto para os acionistas. Estamos mais fortalecidos e com potencial de crescimento.

DINHEIRO – A dívida líquida chega a 3,6% do patrimônio da empresa. Na Anhanguera Educacional é de 15% e na SEB, 0,8%. Qual perfil vocês buscam?
BRAGA – Depende mais do tipo de endividamento e do perfil dessa dívida. Se for de médio e longo prazo, como já buscamos no passado com os bancos de fomento, é bem-vinda. O peso da dívida e seu perfil são confortáveis.

DINHEIRO – A bolsa já se recuperou da crise?
BRAGA – Vejo o cenário atual com otimismo, mas com cautela.

 

PELO MUNDO

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Pressão nupcial
A mineradora Xstrata emitiu uma carta para pressionar a fusão com a Anglo American. Juntas, formariam um conglomerado de US$ 66 bilhões, suficiente para competir com a Rio Tinto e a BHP Billiton. Cynthia Caroll, CEO da Anglo American, estava no Brasil quando recebeu a carta. Especula-se que ela queira fazer uma joint venture com a Vale. As ações da Xstrata fecharam em queda de 1% em Londres, na quinta-feira 25.

 

Nokia quer mais

A fabricante de aparelhos de telefonia móvel Nokia fechou um acordo com a Intel para investir em pesquisas com o objetivo de criar um novo aparelho com tecnologia mais avançada que os smartphones e os netbooks. As ações de ambas as companhias estavam em alta de 1% na Nasdaq, na quinta-feira 25.

 

Nike derrapa

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A Nike apresentou seus resultados do último trimestre e decepcionou. O lucro registrado foi de US$ 341,4 milhões. No mesmo período de 2008, o resultado foi de US$ 490,5 milhões. A receita teve queda de 7%. Na quinta-feira 25, as ações da companhia operavam em queda de 4,6% na NYSE.

 

Genérico francês

A fabricante francesa de remédios Sanofi-Aventis prepara sua grande entrada no mundo dos genéricos e também anuncia cortes de investimento em pesquisa. A redução se deve à perda da patente do Plavix, que ocorrerá dentro de dois anos e fará a empresa deixar de ganhar mais de US$ 8 bilhões ao ano. As ações da companhia caíram 5% na NYSE, na quinta-feira 25.