PAPÉIS AVULSOS

O Brasil emergiu

Bacalhau da Noruega
Vem aí o fundo soberano

O que investidores americanos e norugueses têm em comum? Não é o apetite por salsichas nem por bacalhau, mas pelas ações das empresas do Brasil. Que o diga Jay Fraser, diretor-executivo da Investment Technology Group (ITG), firma de Nova York especializada em negociação eletrônica. “Cada vez mais clientes nos procuram para investir na bolsa brasileira. O Brasil evoluiu de um mercado emergente para um país que emergiu”, afirmou Fraser à DINHEIRO, na quarta-feira 12. A ITG anunciou, na semana passada, um acordo com a Ágora Corretora, para oferecer acesso direto ao mercado brasileiro aos seus clientes nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia. A média de negociação da empresa no mercado americano é de 202 milhões de ações – por dia. Outra boa notícia para o mercado local veio do outro lado do Atlântico. O fundo soberano da Noruega, o segundo maior do mundo, com ativos de US$ 370 bilhões, está procurando gestores locais para investir nos papéis negociados na BM&FBovespa. Eles já trouxeram US$ 2 bilhões ao País e querem mais. Estrangeiros como eles têm mantido a onda de alta da bolsa. No segundo trimestre de 2009, o saldo dos investimentos externos na bolsa foi de R$ 10,7 bilhões, volume 77,4% superior ao do mesmo período do ano passado. Esse apetite explica a alta do Ibovespa de 50% no ano.

DESTAQUE NO PREGÃO

A arremetida da Gol

Após uma sequência de trimestres nebulosos, a empresa de Constantino Júnior finalmente deu sinais de que pode voar alto novamente. Seu lucro líquido no segundo trimestre deste ano chegou a R$ 353,7 milhões, graças à reestruturação e aos efeitos contábeis da variação cambial. No segundo trimestre do ano passado, a Gol engoliu um prejuízo de R$ 166,5 milhões, ainda assimilando as operações da Varig. Nos últimos três meses, os resultados operacionais também surpreenderam, com ganhos de R$ 89 milhões no período, contra os R$ 295,3 milhões negativos no mesmo período do ano passado. Na quarta-feira 12, dia seguinte aos resultados, as ações preferenciais da companhia lideraram a subida da bolsa com 12,6% de alta, para R$ 17,90.

PALAVRA DE ANALISTA

O analista Luiz Peçanha, da Bradesco Corretora, elogiou o desempenho da Gol, mas afirmou que mantém o preço-alvo de R$ 23 para o papel. “Pode haver uma compensação no próximo trimestre e os resultados não serem tão bons”, pondera. Segundo Peçanha, o aumento da taxa de ocupação dos voos foi um fator decisivo para os bons resultados da empresa. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) divulgou recentemente os dados de ocupação, que passaram de 60% no primeiro trimestre, para os atuais 70%. “Isso também motivou a alta do papel. O cenário para o setor aéreo começa a se resolver.”

BM&FBOVESPA
Tesoura nas despesas

A BM&FBovespa ganhou menos e lucrou mais no segundo trimestre do ano. No período, as receitas líquidas caíram 14,7% sobre o segundo trimestre de 2008, por conta da queda nos volumes negociados com ações e derivativos. Porém, o lucro líquido ficou em R$ 188,1 milhões, em alta de 13,9%. E não foi por um ato de mágica do diretor-financeiro Carlos Kawall, mas sim pela redução das despesas operacionais. Estas caíram 25% no trimestre, na comparação anual, em parte devido aos cortes de 50,8% nos custos de processamento de dados e de 30% nos gastos com promoção e divulgação. O caixa da companhia caiu 8%, para R$ 2,9 bilhões, devido à redução das margens depositadas pelos participantes. Com a volta dos estrangeiros, as ações da BM&FBovespa subiram 115% no ano.

 

 

QUEM VEM LÁ

O IPO da Tivit

Mais uma empresa anima-se com a disparada da bolsa brasileira nas últimas semanas e entra na fila das aberturas de capital. A Tivit protocolou o pedido para sua oferta pública inicial (o chamado IPO) na Comissão de Valores Mobiliários na segunda-feira 10. Será uma oferta secundária. Presidida por Luiz Mattar, a companhia é ligada ao Grupo Votorantim e ao Pátria Investimentos. Atua no setor de terceirização de tecnologia e serviços e surgiu da fusão entre a Optiglobe e a Telefutura. No primeiro semestre, o faturamento chegou a R$ 452,2 milhões, em alta de 8% sobre igual período do ano anterior. Em duas outras ocasiões, a Tivit abortou o IPO por conta do mau humor dos mercados. Terá mais sorte desta vez?

FIQUE DE OLHO: A Tivit tem entre seus principais clientes bancos, financeiras e empresas de cartões de crédito, setor que necessita reduzir os custos diante da queda dos juros.

TOURO X URSO

                                                                                                                                                                                            

O bom desempenho do Ibovespa nas últimas semanas pode ser um indício de que o vencimento sobre opções de ações (série H), na segunda-feira 17, manterá a bolsa em alta. A boa notícia dos EUA é a melhoria na atividade imobiliária. Os dados sobre os imóveis em construção e a permissão para novas casas e edifícios, na terça- feira 18, podem confirmar o reaquecimento da economia local. Mas todo o cuidado é pouco.

A esperança do crescimento econômico mundial está depositada na China. É para lá que todos os olhos se voltam nesta semana, na expectativa de dados que indiquem o avanço dos consumidores chineses enquanto os americanos não saem da toca. Na terça-feira 18, saem os números de venda e estoques no atacado. É um bom sinal para se medir se há fôlego do império vermelho para a importação de produtos.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Se você acha que investir em ações é como ir para a guerra, pense no conselho do sábio chinês Sun Tzu: “O general que vence uma batalha é o que gasta muitas horas antes, no templo, em reflexões, antes de a batalha ser encetada.” Está no clássico “A Arte da Guerra”, relançado pela Ediouro. Antes de comprar ações, portanto, faça a lição de casa

MERCADO EM NÚMEROS

LOPES
R$ 2,2 bilhões
foi o volume de vendas contratadas pela empresa imobiliária no segundo trimestre. O aumento foi de 55% em relação aos três primeiros meses do ano.

BRASKEM
R$ 3,7 bilhões
foi a receita líquida da companhia petroquímica no segundo trimestre. O crescimento foi de 13% em relação ao trimestre anterior. O lucro da Braskem ficou em R$ 1,15 bilhão no período.

NOSSA CAIXA
R$ 17 bilhões
foi o total da carteira de crédito do banco no segundo trimestre. Trata-se de um valor 23,3% superior ao primeiro trimestre. O banco acumulou prejuízo de R$ 139 milhões de abril a junho.

BANRISUL
R$ 3,2 bilhões
foi o patrimônio líquido alcançado pelo banco gaúcho no primeiro semestre do ano. O aumento em relação ao mesmo período de 2008 foi de 10%.

COPASA
R$ 241 milhões
foi o lucro líquido semestral divulgado pela companhia de saneamento na última semana, 18,7% maior do que o registrado no primeiro semestre de 2008. A receita líquida ficou em R$ 1,07 bilhão entre janeiro e junho de 2009.

KLABIN
R$ 306 milhões
foi o lucro líquido da Klabin no segundo trimestre do ano. O valor é mais do que o dobro do registrado no mesmo período de 2008.

PERRSOGNAGEM


“Ninguém quer botaro dedo na ferida”

Roberto Setubal estava descontraído na manhã da terça-feira 11. O presidente do Itaú Unibanco fez uma concorrida palestra no encontro do Lide no Hotel Caesar Continental, em São Paulo, enquanto o banco apresentava o balanço do primeiro semestre, com lucro líquido de R$ 4,6 bilhões. A seguir, os principais pontos de vista do banqueiro.

CRISE GLOBAL
O crescimento mundial estava acelerado. Não era sustentável. O ajuste era necessário. Estamos começando a sair dessa crise. O Brasil sai com a imagem fortalecida. Passamos no teste do estresse. Todos estamos mais confiantes, agora, na economia do que antes. E investimentos são baseados em confiança.

ROBERTO SETUBAL, presidente do Itaú Unibanco

CRESCIMENTO
Estamos em um ritmo de crescimento forte, de 5%, 6% do PIB no trimestre. O PIB deve ser zero no ano. Para 2010, prevemos crescimento de 4% a 5%.

CÂMBIO
A pressão vai continuar. A tendência, especialmente com o dólar, é de desvalorização frente às moedas emergentes.

ESTADOS UNIDOS
A economia americana reage em 2010, mas fica abaixo do pico atingido antes da crise, que não será atingido antes de 2011. Depois, o crescimento será de 2% ao ano.

BRASIL DO FUTURO
O Brasil vai passar por uma transformação grande nos próximos anos. As commodities vão se acentuar mais. Somos o país das commodities. E competitivos no setor. Isso vai provocar o aumento da demanda interna por infraestrutura. Há muita coisa para ser feita.

TAXA DE JUROS
O Brasil tem condições de ter uma taxa de juros de 5% ao ano por um longo tempo. Não há razão para a taxa de juro não chegar aos padrões internacionais com política na área fiscal responsável e contas públicas em ordem, como hoje.

SPREAD BANCÁRIO
O spread vinha caindo até outubro quando precisou subir, mas está sendo reduzido novamente. Um banco não se diferencia de uma empresa. Tem receitas e despesas. Quando compro dinheiro, tem que caber no custo. O mais importante é que de 30% a 40% (do spread) são perdas de crédito. Esse é o principal nó. Houve um aumento de 80% das provisões contra perdas no primeiro semestre.

BANCOS PÚBLICOS
Os bancos públicos estão reduzindo as taxas de empréstimos. Em muitos casos, não é sustentável. Pode ter sido importante para superar a crise. É preciso ter margem para remunerar o capital. E tem que ter o mínimo de base de capital para não ter dinheiro público.

FUSÃO COM UNIBANCO
No meio da crise, fizemos a fusão com o Unibanco. Naquele momento, deu um frio na barriga. Olhando hoje, fizemos o certo e estamos felizes. O gostoso é que está sendo gostoso.

COMPRA DO BANAMEX
Nunca estivemos perto. A lição de casa vem primeiro. Fusão dá trabalho.

ELEIÇÕES EM 2010
O Brasil tem maturidade. Não tenho medo dos candidatos. Nenhum deles, Dilma, Serra ou Aécio, me preocupa ou tira o sono. Não vejo diferença entre eles no que diz respeito à política econômica.

PLANOS ECONÔMICOS
Ninguém quer botar o dedo na ferida e falar para o poupador que ele não tem direito nenhum. O passivo estaria em R$ 200 bilhões. Mas os bancos não ganharam esse dinheiro. O tema está no STF. Se destampar, os bancos vão pedir ressarcimento para o Tesouro Nacional. Espero que o bom senso prevaleça. .

CRISE
Bancos do Brasil passam no crash test

O setor bancário no Brasil passa por um momento de grande transformação. A taxa básica de juros, que baliza empréstimos e investimentos, é a mais baixa de todos os tempos (8,75% ao ano). A inadimplência dos clientes no primeiro semestre subiu. No caso do Itaú, os atrasos acima de 60 dias chegaram a 6,7% da carteira. No Bradesco, atrasos acima de 90 dias alcançaram 4,6%. Conservadores, ambos elevaram as provisões contra perdas em seus balanços semestrais. Durante anos, os bancos surfaram na economia brasileira como poucos setores, ganhando dinheiro em tempos de guerra contra a inflação e em tempos de paz. A dúvida é se os bancos nacionais conseguirão aproveitar a retomada do crescimento da economia no segundo semestre e nos próximos anos, mantendo a elevada lucratividade ao mesmo tempo em que reduzem sua margem de ganho (spread). Mas uma coisa é certa: os bancos brasileiros são muito sólidos e estão no radar dos investidores estrangeiros, que têm despejado bilhões de dólares na BM&FBovespa. Estudo preliminar da agência de rating Moody’s com 37 instituições, publicado pelo jornal O Globo, apontou que eles passariam com tranquilidade pelo crash test ao qual se submeteram os bancos americanos. Lá, eles foram obrigados a fazer uma injeção de capital de US$ 75 bilhões. Aqui, mal sentiriam cócegas se a crise apertasse. Alentador.