PAPÉIS AVULSOS

Fique de olho nos dividendos

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Idésio Coelho, sócio da Ernst & Young

As mudanças contábeis em curso no Brasil já começam a afetar os resultados das empresas abertas. Em 2008, segundo a consultoria Ernst & Young, o lucro líquido de 40 grandes companhias não financeiras caiu quase 20% após a adoção de 14 novas regras, baixadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em consonância com o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Na prática, isso significou uma redução de lucros da ordem de R$ 16,5 bilhões, para R$ 67 bilhões. Segundo Idésio Coelho, sócio da Ernst & Young, a crise mundial também afetou o desempenho do grupo, pois teve impacto no câmbio e no valor de mercado dos ativos. Mas o alerta está feito. “A volatilidade dos resultados vai aumentar e as companhias terão de se proteger”, diz Coelho. “A grande maioria não faz isso.” É importante que você fique de olho para saber se a adequação contábil aos padrões internacionais afetará o pagamento de sua parcela no lucro. No ano passado, segundo a Economática, 339 companhias desembolsaram R$ 64,7 bilhões a título de dividendos. Os bancos, melhores pagadores em volume total (veja quadro), não aparecem no estudo da E&Y. Reginaldo Alexandre, presidente da Apimec-SP, está tranquilo com relação aos dividendos. “As empresas já distribuem acima do mínimo (25% do lucro) e irão compensar a queda na base de cálculo com uma distribuição proporcional maior”, aposta.

 

DESTAQUE NO PREGÃO

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Ele quer dólares

Enquanto no Brasil acontece a largada para o período de novas captações acionárias, há quem prefira captar recursos de dívida no Exterior. A Eletrobrás anunciou na última semana que emitirá títulos com vencimento em dez anos no mercado internacional. Se a emissão se concretizar, o valor captado pela companhia presidida por José Antônio Muniz deverá ser entre US$ 600 milhões e US$ 1 bilhão. A expectativa é de que os títulos sejam lançados entre julho e setembro deste ano, após aprovação do Tesouro Nacional. A empresa planejava fazer a captação ainda em 2008, mas adiou devido à deterioração do cenário econômico. Após o anúncio, as ações ON da elétrica subiram 5,6% na BM&FBovespa e suas ADRs, 4,1% na bolsa de Nova York.

 

PALAVRA DE ANALISTA

A captação é positiva, mas é preciso atenção ao uso dos recursos. Há pouco mais de um mês, a Eletrobrás anunciou um audacioso plano de investimento de R$ 30,2 bilhões entre 2009 e 2012. Só em 2009, a empresa espera investir R$ 8,7 bilhões. “Como a Eletrobrás não possui caixa suficiente para isso, a captação externa certamente servirá para ajudá-la a manter seus compromissos de investimento”, afirma Eduardo Roche, chefe de análise da Modal Asset. O valor também poderá ser usado para ajudar a pagar a Reserva Especial de Dividendos, que já acumula R$ 8,5 bilhões. “Esses dividendos antigos estão registrados no balanço como dívida”, explica Roche.

 

Energia
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Um gás para a Comgás

A Comgás fechou na quinta-feira 18 os detalhes finais do empréstimo de R$ 665 milhões com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O montante equivale a 45,5% do total que a distribuidora paulista de gás investirá até 2011 na expansão e modernização da sua rede de gás canalizado. A Comgás quer aumentar sua participação no mercado residencial na cidade de São Paulo e nas regiões metropolitanas de Campinas, Vale do Paraíba e Baixada Santista. O foco estratégico continua sendo o aumento do fornecimento para o público residencial, conforme adiantou Roberto Lage, diretor de relações com investidores da empresa, para a DINHEIRO EM AÇÃO em outubro do ano passado. A ação PN da companhia está em alta de 11% neste ano.

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Justiça

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A nova viagem da Trip

Depois de ter o seu pedido de abertura de capital indeferido pela CVM no início deste ano, a Trip Linhas Aéreas planeja fazer uma oferta pública de ações até 2011. Esses são os planos do presidente da empresa, José Mário Caprioli. Até o final de 2009, ele quer transformar a Trip em uma empresa de capital aberto. O segundo passo é oferecer os papéis na bolsa. A ousadia do executivo contrasta com os números do mercado. Os investidores continuam mal-humorados com o setor aéreo. No ano passado, a Trip registrou prejuízo de R$ 7 milhões.

 

FIQUE DE OLHO: As empresas aéreas estão entre os piores desempenhos da bolsa nos últimos 18 meses. A ação da GOL desvalorizou-se 76,6% no período. TAM e Embraer perderam 56,3% e 59,9% na bolsa, respectivamente. No período, o Ibovespa recuou 16,67%, segundo a Economática.

 

TOURO X URSO

 

O comitê de política monetária do Fed inicia seus dois dias de reunião na terça-feira 23. A expectativa é sobre a manutenção ou um possível aumento dos juros básicos dos EUA. Na quinta-feira 25, será anunciada a segunda revisão do PIB americano do primeiro trimestre. Nesse mesmo dia, o CMN brasileiro se reúne e os dados de política monetária e operações de crédito do mês de junho serão divulgados.

Se há alguns meses estava difícil enxergar quais acontecimentos econômicos seriam capazes de animar o desempenho das bolsas mundiais, agora é a hora de se perguntar: qual notícia pode abalar a confiança do investidor? A BM&FBovespa, na semana passada, andou de lado em razão dos vencimentos de opções sobre ações e sobre o índice. Atenção ao desempenho dos novos lançamentos de ações, como o da VisaNet.

 

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

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Quer entender o impacto setorial das novas regras contábeis? A Apimec-SP está promovendo palestras sobre o tema, em São Paulo. As próximas serão nesta semana, na quinta-feira (concessões públicas e telecomunicações) e na sexta (mercado imobiliário). No dia 2 de julho, o tema será a tributação. Mais informações no site www.apimec.com.br (clique em São Paulo).

 

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MERCADO EM NÚMEROS

 

MARCOPOLO
R$ 30 milhões
foi o investimento feito pela Marcopolo na sua nova geração de ônibus. Os modelos serão 500 quilos mais leves e possibilitarão uma redução de 10% no consumo de combustível.

SANTOS BRASIL
R$ 26,4 milhões
é o valor total que a Santos Brasil irá distribuir para os seus acionistas na forma de juros sobre o capital próprio. Cada ação receberá R$ 0,04 referente ao lucro dos cinco primeiros meses deste ano.

TRANSMISÃO PAULISTA
R$ 70,5 milhões
é o aumento de capital aprovado pelo conselho da Transmissão Paulista. Será emitido 1,5 milhão de novas ações ordinárias e preferenciais. O valor unitário será de R$ 45,97.

BRADESCO
R$ 0,17
é o valor que os acionistas preferenciais do Bradesco receberão na forma de dividendos. Os ordinaristas ganharão R$ 0,15 por papel. O pagamento acontecerá em 20 de julho.

LIGHT
R$ 250 milhões
é o valor total da emissão de debêntures simples da Light. O valor unitário será de R$ 1 mil. O papel não poderá ser convertido em ações.

PÃO DE AÇÚCAR
R$ 36
era o preço-alvo da equipe de análise do Citibank para as ações preferenciais do Pão de Açúcar. A recomendação do banco americano é de venda do papel. Na quinta-feira 18, o PCAR PN fechou cotado a R$ 36.

 

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PERSONAGEM
A Vale e a China

Inácio Ponchet, sócio da Duna Asset Management, foi cinco vezes à China nos últimos 18 meses. Na última viagem, neste mês, voltou bem impressionado. “Eles estão mais confiantes, o que faz toda a diferença para o crescimento econômico”, afirma. E daí? O apetite chinês afeta o desempenho da bolsa brasileira, pois 60% do Ibovespa está ligado às commodities. Ex-gestor do Credit Suisse, Ponchet criou a Duna há um ano com os sócios João Grilo Simões e Luciano Jugdar. O fundo Duna Long Short 60 está com rentabilidade de 16,8% no ano. Ele falou à DINHEIRO.

 

A Vale depende mais da volta da economia mundial

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Inácio Ponchet, sócio da Duna Asset Management

 

DINHEIRO – A economia da China voltou a se aquecer?
INÁCIO PONCHET – Olha-se muito para Pequim e Xangai, onde está a concentração de estrangeiros e o PIB cresce 2% a 3% ao ano. O importante é olhar para o interior, onde o crescimento é de 13% a 14% e o consumo chega a 15%. As empresas estão indo para lá, em razão dos custos, e o governo está investindo maciçamente em infraestrutura. Dentro da China está pegando fogo. O primeiro semestre está sendo de estímulo fiscal. No segundo, será a vez do investimento privado. Os preços dos terrenos voltaram a subir e já estão maiores que o pico de 2007.

DINHEIRO – A retomada da construção civil é uma boa notícia para a Vale?
PONCHET – Nem tanto, mas poderia ser pior. A Vale está com uma exposição na China maior do que esperava. Antes, a exportação para a China era de um terço. Depois da crise, principalmente na Europa, passou para dois terços. Por um lado, é claro que é bom o aquecimento da economia chinesa. Mas a Vale depende mais da volta da economia mundial.

DINHEIRO – E as siderúrgicas?
PONCHET – Para o setor de aço, nem tanto. A China está trabalhando para ter o máximo de suprimento local.

DINHEIRO – Como explica a alta recente da BM&FBovespa?
PONCHET – Otimismo e fluxo de capitais. E isso mundialmente: EUA, Europa, Japão registram entrada de dinheiro na bolsa. Aqui, o fluxo parou neste mês à espera dos novos IPOs. Quando o fluxo é intenso, a compra não se dá pelo preço. Quando o Ibovespa estava em 30 mil pontos, o investidor não comprava porque o índice chegaria aos 25 mil. Acima de 50 mil pontos, ele compra, porque vai chegar a 60 mil. É uma questão de fluxo, não de preço.

DINHEIRO – As empresas brasileiras estão saudáveis?
PONCHET – Os balanços do segundo trimestre serão um choque de realidade. Muitas vão reavaliar os resultados do ano.

DINHEIRO – É o momento de comprar?
PONCHET – Existem bons papéis, mas agora é preciso ter tranquilidade. Não é o melhor momento. A bolsa está estranha. É melhor aguardar um mês.

 

PELO MUNDO

Fiat corta custos
Após tomar o controle da Chrysler, a Fiat anunciou plano de corte de gastos para se adaptar ao novo cenário da indústria automobilística. No entanto, afirmou que não demitirá seus funcionários nem desativará fábricas na Itália. Essa é a moeda de troca para que o governo italiano continue a ajudar financeiramente a companhia. Na quinta-feira 18, as ações da Fiat fecharam em queda de 2% na NYSE.

 

Bancos em alta

Divulgados na quarta-feira 17, os dados da inflação americana surpreenderam positivamente os analistas e ajudaram a injetar bom humor no mercado, sobretudo no setor bancário. No dia seguinte, as ações do JP Morgan e do Bank of America registraram alta de 4,4% e 4,9%, respectivamente, na bolsa de Nova York.

O plano da Sainsbury

A maior rede de supermercados da Inglaterra, J Sainsbury, anunciou um agressivo plano de expansão no mercado doméstico depois de levantar £ 445 milhões em emissão de ações e títulos. Justin King, CEO da companhia, afirmou que o dinheiro será usado para abrir 50 novos supermercados em 2009 e mais 50 nos próximos dois anos. As ações da empresa subiram 2,3% em Nova York, na quinta-feira 18.

Efeito China

Segundo um analista do banco UBS, a Coca-Cola deverá ser uma das empresas a buscar o mercado acionário chinês. John Tang, de uma agência do UBS situada em Hong Kong, afirmou que a empresa é uma das mais propensas a fazer um IPO na China. As ações da Coca-Cola subiram 3,4% na NYSE, na quinta-feira 18.