PAPÉIS AVULSOS

Sinal fraco

Ainda acreditamos em crescimento de dois dígitos

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ROBERTO LIMA, presidente da Vivo

Se 2008 foi o ano de ouro para as operadoras de telefonia celular, o cenário é mais incerto para 2009. No primeiro trimestre, as vendas de novos aparelhos foram 9,4% inferiores às do superaquecido princípio do ano passado. Em abril, a diminuição atingiu preocupantes 52%. A Vivo continua na liderança, com 29,6% de market share, mas é uma das mais penalizadas pelo mau humor dos investidores no setor. Na quintafeira 21, as preferenciais da empresa caíram 5,34%. Na semana, acumularam queda de 1,5%, enquanto o Ibovespa subiu 2,2%. ?O mercado já não é o que foi no ano passado, mas ainda acreditamos em um crescimento de mais de dois dígitos?, avalia Roberto Lima, presidente da Vivo. Os analistas não estão tão confiantes. A expectativa para o ano é de redução no ritmo de crescimento, causada, em parte, pela rápida disseminação dos celulares pelo País. No Brasil, já são 80,98 celulares para cada 100 habitantes. Um ano atrás, havia 66,84 celulares por 100 habitantes.?A penetração da telefonia móvel no Brasil já está muito alta e ainda há a piora no cenário econômico em 2009?, afirma Beatriz Batelli, analista do Banif. O acirramento da concorrência, com a portabilidade, também influi nas ações. ?A Vivo foi prejudicada pela expansão da Oi no território da Brasil Telecom e pelos planos de reestruturação da TIM. As duas empresas, apesar da queda nas vendas, apresentaram bons resultados na base de clientes?, diz a analista. Em 2009, as ações das três companhias ainda acumulam alta.

 

DESTAQUE NO PREGÃO

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Negócio da China?

No último dia 18, as ações da MMX e da LLX, ambas sob o guardachuva da holding EBX, de Eike Batista, oscilaram tanto que despertaram a curiosidade da CVM. Ambas subiram, respectivamente, 8,3% e 18,3% em apenas um dia, enquanto o Ibovespa teve alta de ?apenas? 5%. Tanto burburinho no mercado tinha uma razão de ser. Eike Batista estava na China conversando com o grupo chinês Wuhan Iron and Steel Co. sobre uma possível ?parceria estratégica? com suas duas empresas. Tal parceria consiste na construção de uma siderúrgica no Porto de Açúcar, no Rio de Janeiro, que demandará investimentos no valor de US$ 4 bilhões. Segundo o próprio Batista, a companhia chinesa investirá US$ 3,5 bilhões no projeto, o maior investimento da China feito no Brasil, e levará ainda 27% de participação na MMX.

 

PALAVRA DE ANALISTA

A alegria durou pouco. De 19 a 21 de maio, as ações ordinárias da MMX caíram 18,6%, e as da LLX, 10,8%. ?O negócio foi anunciado, mas não foram divulgados números relevantes. Então, o mercado está apreensivo. Estrategicamente é positivo, pois significa que há uma grande empresa interessada no minério da MMX. Mas, para o acionista, ainda não se pode avaliar o impacto?, afirma Juliana Chu, analista do Banco Espírito Santo. No caso da LLX, o mercado esperava que viesse também a confirmação de uma fusão no Porto Sudeste, o que não aconteceu. Segundo Ricardo Antunes, presidente da LLX, o porto começará a ser construído ainda neste ano.

 

BANCO DO BRASIL

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Gestão técnica

As ações do Banco do Brasil subiram 7% em sete dias e 15% em um mês, até a quarta-feira 20, recuperando o fôlego perdido com a troca do presidente do banco, em abril. Aldemir Bendine substituiu Antônio Francisco de Lima Neto supostamente para baixar os juros, mas ocorreu o oposto. Segundo dados do Banco Central, os juros médios do BB subiram de 2,16% para 2,46% ao mês no financiamento de bens e no crédito pessoal passaram de 2,35% para 2,53% ao mês. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reiterou o apoio a Bendine após reunião na terça- feira 19. Para o grande investidor Lírio Parisotto, o episódio mostra que a gestão do BB é bem mais técnica do que parece.

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Justiça

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?Sadigão? quer R$ 4 bi

Será de R$ 4 bilhões a oferta pública de ações da recém-criada BRF Brasil Foods, resultado da fusão da Perdigão com a Sadia. A operação deverá chegar ao Novo Mercado da BM&FBovespa até o final de julho, espera o presidente da Perdigão, Nildemar Secches. A ?Sadigão? nasce com receita de R$ 22 bilhões ao ano. Será, em pouco tempo, a maior exportadora de carnes processadas do mundo, diz o ex-ministro do Desenvolvimento e presidente da Sadia, Luiz Fernando Furlan. No dia do anúncio, na terçafeira 19, em que o Ibovespa perdeu 0,23%, as ações preferenciais da Sadia caíram 5,05% e as ordinárias da Perdigão cederam 6,36%. É bom ter em conta que a operação ainda vai passar pelo Cade, organismo de defesa da concorrência.

FIQUE DE OLHO: A Standard & Poor?s colocou em revisão as notas de crédito (rating) das duas empresas. No caso da Perdigão, com implicações negativas. No caso da Sadia, com perspectivas positivas.

 

TOURO X URSO

 

O mercado de ações atravessa um período de alta (bull market) em plena depressão (bear market). Isso significa pouca consistência nos fundamentos. O investidor deve continuar preparado para os ralis. Neste momento, é importante acompanhar a trajetória do dólar. Na quarta-feira 27, o BC apresenta os dados da política monetária e das operações de crédito. No dia seguinte, é a vez da política fiscal. Na mesma quinta 28, o CMN estará reunido.

Na segunda-feira 25, os EUA comemoram o feriado do ?memorial day?. A semana será de expectativa com o anúncio da prévia do PIB americano do primeiro trimestre na sexta-feira 29. A pergunta que dominará os investidores é se os números irão mostrar o início de uma recuperação da economia do governo de Barack Obama. Qualquer demonstração no sentido contrário pode mudar o ânimo do investidor.

 

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

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Ler sobre a quebra do Bear Stearns e a derrocada do seu expresidente Jimmy Cayne, em 2008, é uma boa maneira de aprender como funciona o mundo financeiro de Wall Street, tão influente no Brasil. A jornalista Kate Kelly, do The Wall Street Journal, conta essa história no livro ?Street Fighters? (Portfolio, 247 págs.). Novo, o livro sai por US$ 16,52, na Amazon.com.

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MERCADO EM NÚMEROS

ULTRAPAR
R$ 1,2 bilhão
é a proposta de emissão de debêntures simples pela Ultrapar. O prazo será de três anos, com remuneração de CDI mais 3% ao ano.

BRADESPAR
R$ 531,2 milhões
foi o valor recebido pela Bradespar pela venda de 3,46% das ações da CPFL Energia. O montante será usado para reduzir as dívidas da companhia.

COTEMINAS
R$ 3,9 milhões
foi o lucro líquido da Coteminas no primeiro trimestre deste ano, queda de 29,1% em relação ao mesmo período do ano passado.

CSN
50% de alta
é a previsão de aumento nas vendas da CSN para o segundo trimestre em relação ao primeiro.

SANTOS BRASIL
R$ 114,3 milhões
foi a oferta vencedora apresentada pela Santos Brasil para explorar o terminal de veículos no Porto de Santos por 25 anos.

ELETROBRAS
US$ 16 bilhões
é o investimento previsto pela Eletrobrás para a construção de seis usinas no Peru. O lucro líquido de R$ 101,3 milhões da companhia no primeiro trimestre de 2009 caiu 88% em relação ao primeiro trimestre do ano passado..

COPASA
R$ 132,7 milhões
foi o lucro líquido da Copasa no primeiro trimestre deste ano, alta de 52,7%, em comparação com o mesmo período de 2008.

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PERSONAGEM
Pine retoma o crédito

O índice de inadimplência do Banco Pine está próximo do seu pico histórico de 2%, registrado em 2000. O diretor de relações com investidores, Clive Botelho, está controlando o calote de 1,64% atualmente na carteira. ?Não passaremos o pico histórico este ano?, garante ele. A confiança está no aumento das provisões, feito desde o quarto trimestre do ano passado, e no retorno do ciclo de crédito, apesar da queda de 16,9% nas operações de empréstimos na comparação entre o quarto trimestre de 2008 e o primeiro deste ano. ?A carteira está voltando a crescer?, conta Botelho. Depois da divulgação dos resultados, há duas semanas, as acões do banco subiram. No ano, acumulavam alta de 135% até a quarta-feira 20. Botelho conversou com a DINHEIRO.

Recursos não estão em falta

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CLIVE BOTELHO, diretor de relações com investidores do Banco Pine

 

DINHEIRO – O crédito está de volta?
CLIVE BOTELHO – O ambiente está melhor. No quarto trimestre do ano passado e no primeiro trimestre deste ano houve uma desalavancagem de ativos financeiros em todo o mundo. Essa fase, que foi muito difícil, ficou para trás. A carteira está voltando a crescer e o segundo semestre deve ser bem mais positivo. Mas o crédito não voltará aos patamares pré-crise neste ano.

DINHEIRO – O lucro de R$ 20,1 milhões no trimestre, 48,3% menor que o quarto trimestre do ano passado, é satisfatório?
BOTELHO – Com a magnitude desta crise, o resultado ficou dentro do imaginado. Mesmo com o cenário adverso, o retorno anualizado sobre o patrimônio líquido médio foi de 10,1%. O pior ficou para trás, esse é o ponto de consenso de todos no mundo. Vamos recuperar com calma a carteira de clientes.

DINHEIRO – O retorno de 10,1% não está muito abaixo do de outros bancos?
BOTELHO – Os bancos médios não têm o amortecedor dos grandes bancos em cenários desfavoráveis, como o atual. Não temos tarifas ou outros produtos financeiros, como seguros. Sentimos bastante o impacto na economia real. Em cenários positivos, os bancos médios conseguem retornos acima de 20%.

DINHEIRO – O índice de solvência, conhecido como Índice de Basileia, mínimo exigido pelo Banco Central é de 11%. O Pine está bem acima dessa exigência. O Banco pensa em diminuir suas reservas?
BOTELHO – 18,6% é confortável para retornarmos ao ciclo de crédito. A diminuição do saldo da carteira do crédito consignado abre um espaço de migração para o crédito. Bancos vivem de alavancagem. Ter quase 19% nos permite aumentar o crédito outra vez.

DINHEIRO – Onde o banco buscará recursos caso precise este ano?
BOTELHO – Todos os bancos médios têm tranquilidade de recursos desde que o CMN instituiu garantias de R$ 20 milhões para investidores nos depósitos a prazo por meio do Fundo Garantidor de Crédito. Com isso, os bancos médios terão recursos por muito tempo. Além disso, na primeira oportunidade os bancos médios vão ser chamados para emitir dívida. Faz parte do processo e da reabertura dos mercados. Recursos não estão em falta.

DINHEIRO -Alguns bancos estrangeiros, como o UBS, saíram do País recentemente. Eles podem voltar?
BOTELHO – Sim, passada a fase da crise, é difícil não ter um grande estrangeiro aqui. Há um leque enorme de coisas a fazer. E o potencial de consumo é enorme, com uma transformação piramidal da população até 2030. O consumo interno está incrível.

 

SETOR AÉREO

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?Sucatão? na bolsa

A crise econômica mundial pegou o setor aéreo de jeito. Nem mesmo a queda do petróleo desde julho passado melhorou o desempenho das companhias aéreas na bolsa. Elas caíram bem mais que o Ibovespa em 12 meses e não acompanharam a recuperação do mercado em 2009 (veja quadro ao lado) ? um desempenho digno do ?Sucatão?, o antigo avião da Presidência. ?O setor aéreo é duplamente afetado pela crise, pois depende da atividade econômica e utiliza capital intensivo. Como há recessão e o crédito sumiu, a percepção de risco do setor aumentou?, diz Caio Dias, analista do Santander. Enquanto TAM e Gol sofrem com a queda na demanda, a Embraer amarga a situação crítica de suas principais clientes: as companhias internacionais. A previsão de entrega de aeronaves foi revista duas vezes este ano: de 320 para 270 e, mais recentemente, para 242. Esse número já inclui as aeronaves que seriam fornecidas para uma companhia na China e encalharam por falta de autorização do governo de Hu Jintao. Nem a visita de Lula a Pequim contribuiu para mudar esse cenário.