05/12/2012 - 21:00
Uma das regras clássicas do mercado financeiro é não se apaixonar pelo investimento, para não perder a capacidade de tomar decisões racionais. A gestora de recursos francesa Pink Capital, criada em janeiro de 2011, propõe justamente o contrário. Sua estratégia de investimentos concentra-se nos chamados fundos exóticos, que mantêm em carteira ativos como vinhos, joias e relógios. “Em épocas de crise, como a que acontece na Europa, as pessoas tendem a buscar aplicações mais tangíveis, com ativos reais e com baixa correlação com o mercado financeiro”, diz Arnaud Daury, presidente da Pink Capital. Daury e Dominique Bourel, diretor-geral da gestora, estiveram no País em busca de alvos.
“Queremos conhecer o mercado brasileiro e buscar ideias para novos produtos”, diz. A gestora administra cerca de € 100 milhões e planeja duplicar esse valor nos próximos 12 meses. “Os fundos exóticos têm muito espaço para crescer, mesmo sendo restritos a clientes qualificados”, afirma Daury. Seu público-alvo não poderia ser mais promissor. Segundo a edição de 2012 do relatório sobre a riqueza mundial da consultoria francesa Capgemini, o interesse por produtos diferenciados tende a crescer. Os investidores buscam diversificar aplicações em períodos como o atual, em que é difícil conseguir bons retornos com os produtos financeiros tradicionais.
Dominique Bourel (à esq.), da Pink Capital, que esteve com seu sócio, Arnaud Daury, no Brasil:
“Os produtos alternativos são uma maneira prazerosa de fugir do óbvio e ter bons retornos”
Segundo os executivos da Pink Capital, os investidores que se interessam pela modalidade dedicam, em média, de 10% a 15% do portfólio para aplicações diferenciadas, que exigem um investimento inicial de € 125 mil. No Brasil, esse tipo de investimento ainda é restrito a investidores com um patrimônio elevado, para os quais faz sentido diversificar as aplicações. O Bordeaux Wine Fund, gerido pela paulista Cultinvest, investe em vinhos de produtores consagrados da região francesa de Bordeaux. Lançado em meados de 2010, o fundo destina 100% de sua carteira a ativos offshore e, por isso, é restrito a clientes superqualificados, com pelo menos R$ 1 milhão para aplicar.
Os vinhos que fazem parte do portfólio do fundo são negociados na Liv-ex, bolsa eletrônica londrina especializada nessa bebida. Um parâmetro para acompanhar a valorização desse ativo é o índice de mercado Liv-ex Fine Wine Investables Index, que engloba as safras de 24 produtores de primeira linha de Bordeaux. Em dez anos, segundo a Liv-ex, o índice acumula alta de 173% em dólar. Outro exemplo é o fundo Brazil Golden Art (BGA), gerido pelo banco Brasil Plural e voltado para o segmento de artes plásticas. Com cerca de 600 obras de artistas contemporâneos brasileiros na carteira – e com o objetivo de chegar a um milhar até o início de 2014 –, o fundo ficou aberto para captação durante apenas 15 dias, a partir do lançamento, em janeiro de 2011.
Apoio à arte: obra da artista brasileira Lúcia Laguna está na carteira
do fundo Brazil Golden Art
“O sucesso foi tão grande que atingimos nosso objetivo de captar R$ 40 milhões em apenas um mês”, diz Heitor Reis, responsável pelo fundo. O objetivo dos gestores é formar uma coleção que represente a arte contemporânea brasileira e ofereça grande potencial de valorização. O fundo tem 70 cotistas, com aplicações individuais que vão de R$ 100 mil a R$ 5 milhões. Segundo Reis, há demanda por mais. “Estamos apenas amadurecendo as ideias antes de lançar um novo produto do tipo”, diz. Segundo o gestor, em um mercado como o brasileiro, no qual a rentabilidade da renda fixa caiu e a renda variável assusta devido à volatilidade, há muito espaço para aplicações alternativas. A opinião é compartilhada por Daniela Assumpção Romero, sócia da paulista Lacan Investimentos.
A Lacan é gestora dos Fundos de Financiamento da Indústria Cinematográfica Nacional (Funcine). “É a única maneira de investir em cinema”, afirma. Em 2007, a Lacan lançou o primeiro dos quatro fundos desse tipo que gerencia. O Funcine Lacan Downtown já investiu R$ 17 milhões em filmes, como o sucesso de bilheteria “Divã”. Atualmente há dez fundos do gênero, com investimentos de R$ 67 milhões. Para Reis, do Brasil Plural, não é preciso ser um apreciador de vinhos ou das artes para investir neles. “É possível focar apenas no ganho de capital”, diz ele. Mas uma dose de paixão pelo investimento também ajuda. “Os produtos alternativos são uma maneira prazerosa de fugir do óbvio e ter bons retornos”, diz Bourel.