Em depoimentos de delação premiada, Diogo Ferreira, ex-chefe de  gabinete do senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS, agora sem partido),  contou que pagamentos para comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras  Nestor Cerveró foram feitos em caixas de vinho e de sapato. O assessor  admitiu ser o responsável por coletar o dinheiro, repassando-o ao  advogado do ex-diretor envolvido no desvio de recursos da estatal.

As  declarações de Ferreira reforçam depoimentos de Delcídio, que, também  em colaboração com a Procuradoria-Geral da República (PGR), reconheceu  ter montado uma estratégia para evitar que Cerveró fechasse acordo de  colaboração e contasse o que sabia à Lava Jato. Segundo ele, a ordem  teria partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, supostamente  por temer eventuais revelações do ex-diretor. Lula nega.

O  ex-chefe de gabinete confirmou que os pagamentos foram feitos por  Maurício Bumlai, filho do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do  ex-presidente Lula. Ele foi preso no ano passado pela Lava Jato, mas  acabou sendo liberado do regime fechado para tratar de um câncer.

“Em  mais de uma ocasião, o senador comentou com o depoente que o  ex-presidente Lula manifestava preocupação com a Lava Jato,  especificamente com sua incisividade. Ao que se recorda, entre abril e  maio de 2015, Delcídio comentou que participou de uma reunião com Lula  no complexo hoteleiro onde ficam os hotéis Golden e Royal Tulip, em  Brasília. Na ocasião, o ex-presidente manifestou preocupação de Cerveró  vir a fazer acordo de colaboração”, afirmou Ferreira, conforme  transcrição do depoimento feita pela PGR.

Ele disse que, em  ao menos três ocasiões, fez viagens a São Paulo para coletar os  recursos e entregá-los a Edson Ribeiro, advogado de Cerveró. Na  primeira, em junho do ano passado, o motorista de Maurício Bumlai o  buscou. “No assoalho havia uma sacola com uma caixa de um vinho. O  motorista disse que aquela era a encomenda de Mauricio Bumlai”, contou o  assessor. Em seguida, ele teria entregado o dinheiro ao defensor de  Cerveró, Edson Ribeiro.

Na segunda viagem, em julho do ano  passado, o depoente entrou no mesmo carro, no qual estariam o motorista e  Maurício Bumlai. O filho do pecuarista teria parado numa agência do  Bradesco, de onde sacou o dinheiro a ser entregue mais tarde ao  advogado.

Na terceira ocasião, em agosto do mesmo ano,  Ferreira se encontrou com “Alexandre”, emissário de Ângelo Paccelli  Cipriano Rabello, coronel da reserva da Polícia Militar do Mato Grosso  do Sul e ex-assessor de Delcídio. “Alexandre passou uma sacola, ao que  se recorda da loja Renner, com uma caixa de sapatos fechada com fita  adesiva. Havia um buraco na caixa de sapatos, permitindo ver, como  efetivamente viu, que havia dinheiro em espécie em seu interior”,  explicou Ferreira, acrescentando que, mais uma vez, repassou os recursos  a Edson Ribeiro.