22/08/2014 - 20:00
O governo brasileiro sofre de uma doença crônica chamada teimosia. Na semana passada, dois novos pacotes foram anunciados para tentar reanimar as instituições financeiras a conceder mais crédito. As medidas vão liberar, ao todo, R$ 25 bilhões para serem usados em financiamentos para a pessoa física. Os recursos virão da alteração nas regras do depósito compulsório, parcela que é obrigada a ficar parada no Banco Central, e de um afrouxamento do seguro contra calotes, que havia sido adotado em 2010.
Há menos de um mês, outros R$ 45 bilhões já haviam sido colocados à disposição dos bancos para estimular o consumo – o efeito dessa medida foi praticamente nulo. A intenção é reaquecer, principalmente, a venda de carros e imóveis, que estão num momento sofrível. Em Brasília, esse é o retrato da fraqueza da economia, que andaria patinando porque ninguém vai às compras por falta de dinheiro. Os estrategistas do Planalto parecem não perceber que o Brasil não sofre com a falta de oferta. Há recursos disponíveis para quem quiser e, claro, puder pagar os juros – que estão em alta para tentar segurar o aumento dos preços.
A carteira de crédito de Bradesco e Itaú Unibanco no primeiro semestre deste ano cresceu em torno de 9% sobre o ano anterior. É uma expansão muito acima do Pibinho e não indica uma freada. O nosso problema está na demanda saturada. A maioria das famílias trocou de carro recentemente e não tem motivos para fazer uma nova compra. Os apartamentos foram adquiridos por aqueles que precisavam, mesmo com o boom imobiliário e a valorização absurda dos imóveis. Esse movimento mexeu com a venda de geladeira, fogão, televisão, lava-roupa e demais eletrodomésticos.
O guarda-roupa também foi trocado. Uma boa parte do orçamento, hoje, está comprometida em prestações que parecem não ter fim. Por que entregar ainda mais a renda se a casa está equipada e o carro na garagem? A resposta está nos conceitos básicos da economia: expectativa e confiança. No Brasil atual, os dois estão em baixa. Os bancos privados mantiveram abertas as portas para as operações de crédito, só não enxergam vantagem em acelerar o ritmo neste momento. Olham para o futuro e acham que a estagflação atual vai demorar a se transformar em crescimento com inflação sob controle.
As empresas estão preferindo deixar o dinheiro na tesouraria ou promover uma recompra de ações a investir em produção ou expansão enquanto a economia patina e parece próxima de atolar. Na ponta final, os trabalhadores acostumados ao pleno emprego temem o desemprego. O receio de perder parte do que foi conquistado nos últimos anos indica cautela antes dos impulsos consumistas. Não há saída fácil, e a economia brasileira está mesmo entre a cruz e a caldeirinha. Se a presidenta Dilma Rousseff for reeleita, a expectativa é de um crescimento baixo para os próximos anos.
O que ela acredita está posto à mesa e a expansão do País continuará sob o deus Atlas do consumo. As transformações estruturais dificilmente estarão concluídas no curto prazo para o setor produtivo se recuperar. Caso Aécio Neves ou Marina Silva sejam os vencedores nas eleições, haverá um custo imediato para que sejam feitos os ajustes que os candidatos afirmam ser necessários. No final, as três opções indicam sacrifício de postos de trabalho. Por capricho, com o que vem pela frente, é melhor nem mexer em todo esse dinheiro que o governo quer empurrar.