31/08/2020 - 10:16
As autoridades políticas libanesas designaram, nesta segunda-feira (31), um novo primeiro-ministro, o embaixador na Alemanha Mustapha Adib, sob pressão do presidente francês Emmanuel Macron, que é esperado esta noite em Beirute.
Adib, um acadêmico de 48 anos relativamente desconhecido, foi nomeado pela maioria dos parlamentares após consultas realizadas no palácio presidencial.
Imediatamente após sua nomeação, o novo primeiro-ministro se dirigiu para um dos bairros devastados pela explosão no porto de Beirute em 4 de agosto, onde declarou que deseja “a confiança” da população.
“Agora é hora de agir”, afirmou o novo primeiro-ministro, prometendo formar rapidamente uma equipe de especialistas e pessoas competentes para “conduzir reformas imediatamente”.
“A tarefa que aceitei baseia-se no fato de que todas as forças políticas (…) estão cientes da necessidade de formar um governo em tempo recorde e de começar a implementar reformas, a partir de um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI)”, expressou Adib em um discurso televisionado.
Macron, que visitará o Líbano pela segunda vez desde a explosão, exortou os líderes libaneses a constituir rapidamente um “governo de missão” para tirar o país da crise econômica e política.
Mustapha Adib havia sido escolhido no domingo à noite pelos pesos-pesados da comunidade sunita, da qual o chefe de governo deve vir, a presidência indo para um cristão maronita e a presidência do parlamento para um muçulmano xiita.
Mas esse professor universitário, próximo do ex-primeiro-ministro e bilionário Najib Mikati, de quem era chefe de gabinete, deve ser rejeitado pelo movimento de contestação popular.
Hassan Sinno, integrante de um grupo da sociedade civil, advertiu que seu movimento rejeitaria qualquer candidato do sistema.
“Não daremos tempo, como alguns de nós erroneamente deram a Hassan Diab, para ter sucesso. Não temos mais o luxo do tempo”, disse ele à AFP.
O ex-primeiro-ministro Hassan Diab, indicado pelos partidos governantes, renunciou em 10 de agosto após a explosão que deixou pelo menos 188 mortos e devastou bairros inteiros da capital.
A tragédia, decorrente da presença de uma enorme quantidade de nitrato de amônio no porto de Beirute, fato de conhecimento das autoridades, alimentou a ira da população, que acusa a classe política de negligência e corrupção.
Macron, como outras autoridades estrangeiras que estiveram em Beirute desde então, enfatizou a necessidade de reformas profundas. Ele deseja “um governo de missão, limpo, eficiente, capaz de implementar as reformas necessárias no Líbano”, segundo uma fonte do Palácio do Eliseu.
– “O diabo que defende a virtude” –
Adib obteve a aprovação das principais bancadas parlamentares. Apenas o partido cristão das Forças Libanesas, que se posicionou na oposição desde o levante popular em outubro de 2019, apoiou o independente Nawaf Salam, um ex-embaixador na ONU.
O presidente francês deverá visitar esta noite a famosa cantora Fairouz, símbolo de unidade em um país fragmentado. Na terça-feira, ele se reunirá com líderes políticos.
No domingo, o presidente Aoun, de 85 anos, surdo até então aos pedidos de reforma, reconheceu em um discurso por ocasião do centenário do Líbano, celebrado na terça-feira, a necessidade de mudar o sistema político.
Cada vez mais criticado desde a catástrofe de 4 de agosto, chegou a apelar à proclamação de um “Estado laico”.
Algumas horas antes, o chefe do poderoso Hezbollah, Hassan Nasrallah, disse que estava pronto para discutir um novo “pacto político” no Líbano, onde as comunidades religiosas compartilham o poder.
Neste sentido, o presidente do Parlamento e líder do movimento xiita Amal, Nabih Berri, pediu nesta segunda para “mudar o sistema confessional” que governa a política no Líbano, “a fonte de todo o mal” de acordo com ele.
Mas alguns acreditam que tais discursos se devem unicamente à visita de Macron.
“Quando a classe política fala de um Estado laico, isso me faz pensar no diabo que defende a virtude, não faz sentido”, disse Hilal Khashan, professor de ciência política da Universidade Americana de Beirute.
A nomeação de Adib “não dará início a uma nova era na história do Líbano e não acredito que colocará o Líbano no caminho para o desenvolvimento político real”, conclui.