A advocacia contemporânea está em um ponto de inflexão. Longe de ser apenas uma prática formal de aplicação de leis, ela se vê impelida a incorporar princípios de gestão, estratégias de mercado e as mais recentes inovações tecnológicas. A convergência entre direito, empreendedorismo e inovação não é mais uma opção, mas uma condição para a relevância e o sucesso.

Historicamente, o universo jurídico cultivou uma percepção de “casta”, avessa às lógicas empresariais. No entanto, a realidade do mercado exige uma mudança de postura. A mentalidade empreendedora, por exemplo, surge não apenas como um diferencial, mas como um pilar fundamental. “O advogado tem que ser empreendedor”, afirma Saulo Michiles, advogado e empreendedor, que exemplifica essa transição.

Para ele, isso significa “ter a mentalidade de resolução de problemas, de ‘high agency’, de adequação de suas soluções ao que o mercado precisa”, e, igualmente importante, “tratar o escritório como uma empresa, que precisa ter tudo que uma empresa tem: gestão, marketing, vendas, financeiro, RH, inovação, etc.” Sua própria jornada ilustra essa virada: sua paixão pelo empreendedorismo floresceu ao abrir uma cafeteria aos 23 anos, moldando sua visão sobre a advocacia desde cedo, mesmo enfrentando uma cultura que via essa abordagem como “quase abominável”.

A gestão eficaz emerge como um componente crítico. Experiências como a quebra de um escritório por erros de gestão, como a vivida por Michiles, reforçam que “a gestão é essencial para qualquer empresa e qualquer escritório. Para quem deseja crescer, ainda mais”. Tratar um escritório como uma empresa, com processos bem definidos em todas as áreas, é uma medida de sobrevivência e crescimento, permitindo lidar com os riscos inerentes à expansão.

No campo da inovação, a Inteligência Artificial (IA) tem se mostrado uma força disruptiva. Sua aplicação na pesquisa, automação de documentos e análise de dados está redefinindo a eficiência operacional. Contudo, o grande desafio reside em integrar essa tecnologia sem perder a essência do serviço jurídico. “Enxergo que o maior desafio da advocacia para os próximos anos seja adequar o uso da IA com um atendimento próximo, artesanal e humano”, ressalta Michiles, cuja equipe já utiliza agentes de IA treinados com base em seus contratos e petições. A aposta é na fusão: “a união entre conhecimento jurídico, estratégia, visão empreendedora e tecnologia é imbatível.” É uma visão que prevê a superação de um perfil profissional obsoleto: “Creio que o profissional padrão médio será eliminado pela tecnologia.”

A digitalização e a construção de autoridade também são facetas cruciais do empreendedorismo e da inovação no Direito. A criação de conteúdo estratégico, como podcasts e artigos, serve não apenas para disseminar conhecimento, mas para posicionar o profissional como uma referência em sua área. O podcast “Rainmakers”, por exemplo, surge da crença de Michiles de que “a mentalidade empreendedora e o empreendedorismo são ferramentas poderosíssimos para mudar a vida das pessoas para melhor”, ao mesmo tempo em que serve como um canal para consolidar sua autoridade e gerar networking qualificado.

A prática jurídica que abraça esses pilares oferece soluções que vão além do convencional. Escritórios que atuam em áreas como Planejamento Patrimonial e Holding, M&A, Venture Capital e Sucessão de Empresas Familiares, como o Michiles Tavares Advocacia Empresarial, demonstram a aplicação prática dessa sinergia. A visão empresarial de advogados que também são empreendedores e investidores permite que “conversem de igual para igual com os clientes empresários”, oferecendo “soluções jurídicas que não são padrão ou de prateleira, porque vão se adequar exatamente para a realidade e visão de cada cliente”.

O futuro da advocacia pertence aos profissionais que souberem aliar um conhecimento técnico aprofundado a uma visão transversal de mundo e um atendimento personalizado. É uma advocacia que, ao se reinventar, não apenas garante sua sobrevivência, mas expande seu valor e impacto na sociedade. “A mensagem que eu deixo para advogados que iniciam sua carreira é para buscar fortalecer uma mentalidade empreendedora e estudar os impactos que a tecnologia terá em nossa profissão, não só para utilizá-la, mas, também, para se antecipar a movimentos de mercado e aproveitá-los”, conclui Michiles, apontando o caminho para uma profissão em constante evolução.