04/04/2022 - 18:34
As instituições e os governos devem atuar com “transparência” e, em tempos de crise, centralizar suas políticas nos pobres, muito prejudicados pela guerra na Ucrânia e a inflação, declarou à AFP Axel van Trotsenburg, diretor de operações do Banco Mundial.
“Necessitamos transparência em muitas áreas da vida pública”, afirmou van Trotsenburg.
“Deveriam ser transparentes os gastos e também como se financia o governo”, sustentou.
Em muitas regiões, o Banco Mundial encontra “deficiências institucionais, que incluem a corrupção”, explicou.
É importante que “tudo seja público, assim todos poderão saber quais são os termos, quanto custa, qual é o conteúdo” de cada coisa, recomenda o diretor.
Como credor, o Banco Mundial encontrou um concorrente de peso: a China, com contratos suspeitos de incluírem cláusulas de confidencialidade obscuras.
Van Trotsenburg propõe novamente “a maior transparência possível”, ou até mesmo, “total”.
– Inflação –
Na América Central, para onde o diretor viaja esta semana, o BM enfrenta outro problema de igual calibre: a pobreza, que pode agravar-se devido às consequências da invasão russa da Ucrânia, em um contexto de forte inflação.
“Quero insistir que, com altos níveis de pobreza que afetam 30% da população, a desigualdade na distribuição de renda na América Central está entre as piores do mundo”, destacou.
A guerra na Ucrânia afeta de forma desigual os países latino-americanos. Em termos gerais, o setor de energia beneficia os exportadores e prejudica os importadores, e repercute no âmbito agrícola porque tanto Ucrânia como Rússia são grandes produtores de fertilizantes.
A onda expansiva chega no entanto a todas partes, especialmente nos preços.
“O que é muito importante –e quero destacar– é que os que pagam de forma desproporcional são os pobres” porque a situação faz subir os preços dos alimentos, indicou.
O Banco Mundial recomenda aos governos que “deem prioridade e se concentrem nos grupos mais vulneráveis para que ao menos possam amortizar o impacto negativo” das altas de preços.
A inflação vem desgastando os bolsos dos cidadãos desde antes da guerra, devido em parte às interrupções das redes de abastecimento provocadas pela pandemia.
A América Latina tem uma taxa de inflação média anual de 8%, chegando a mais de 50% na Argentina, mais de 10% no Brasil e hiper inflação endêmica na Venezuela.
“Eu sempre a chamei de pior inimiga dos pobres porque faz com que os pobres fiquem ainda mais pobres”, conclui Van Trotsenburg.