08/08/2025 - 11:06
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse nesta sexta-feira, 8, que o entupimento dos canais de transmissão da política monetária que vem sendo citado pelo presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, é um problema estrutural, e não conjuntural. “Quando a gente faz as nossas estimativas, a gente não vê mudança de potência no período recente”, disse Guillen, em um evento do Jota, em São Paulo. “Esse é um tema que eu estou estudando a fundo, e é muito mais estrutural do que conjuntural.”
Ele também afirmou que o uso da expressão “continuação da interrupção do ciclo” pelo Comitê de Política Monetária (Copom) é clara, por mostrar o momento em que o colegiado está.
“Eu vejo essa expressão, na verdade, como muito clara sobre onde estamos, que é esse momento de, dado toda a incerteza, a gente ter cautela. E a cautela sugere uma interrupção para olhar, ver se a taxa de juros é apropriada. Uma vez definida essa taxa apropriada, vai ser um período bastante prolongado de taxa significativamente contracionista”, disse Guillen.
Na última reunião, do dia 30 de julho, o Copom manteve a taxa Selic em 15% e disse esperar a “continuação da interrupção do ciclo”.
Em tom de brincadeira, Guillen lembrou que houve reclamações sobre a escrita dessa sinalização. “Eu brinquei que foi a crítica agora do Português. Faltava essa para completar o álbum de figurinhas de críticas”, afirmou.
O diretor também destacou que o comitê comprometido com a convergência da inflação à meta, vai seguir vigilante e pode ajustar os passos futuros.
Desaceleração doméstica
O diretor de Política Econômica do Banco Central reforçou também que a visão do Copom é a de que a atividade doméstica tem desacelerado e que isso ocorre conforme o esperado.
Guillen também lembrou a atividade tem dado alguns sinais divergentes, uma vez que em parâmetros como o crédito a desaceleração é mais nítida, ao passo que os indicadores de mercado de trabalho seguem resilientes.
“O mercado de trabalho segue dinâmico, tanto na parte de rendimentos quanto na parte de contratação. Então você começa a ter esses dados mistos, mas com essa moderação”, afirmou Guillen, em linha com o que o Copom já havia mencionado na ata da última reunião, divulgada na terça-feira.
Ao iniciar sua fala no evento, Guillen mencionou que sua intenção nesta sexta-feira era justamente a de reforçar os pontos já trazidos na ata.
Hiato
O diretor de Política Econômica do Banco Central detalhou que a autoridade monetária projeta uma abertura de hiato relevante nos próximos meses – ou seja, espera que a economia passe a operar abaixo do potencial. A expectativa é de que a variável chegue ao final do ano que vem em -0,8% do Produto Interno Bruto (PIB).
Questionado sobre se o BC se sente confortável em trabalhar com uma taxa de juro real neutro mais baixa que a do mercado, Guillen respondeu que não é muito favorável a fazer atualizações constantes dessa estimativa, porque isso pode trazer muita volatilidade. No final do ano passado, o BC atualizou de 4,75% para 5% a estimativa para juro real neutro da economia brasileira.
“Se a gente julgar que deve alterar, a gente vai comunicar. Nesse momento a gente não mudou a taxa neutra”, frisou ele.
Política fiscal
Falando sobre o cenário fiscal, Guillen disse que o BC trabalha com expectativas próximas do Focus e do Questionário Pré-Copom (QPC). Isso inclui uma execução maior no segundo semestre, ele afirmou.
O diretor lembrou, ainda, que a autarquia já reconheceu que o impacto fiscal na economia pode ser maior do que no seu modelo.
Ambiente internacional
Em relação ao ambiente internacional, ele voltou a dizer que o cenário é adverso e incerto. O diretor mencionou especialmente a nova política tarifária dos Estados Unidos que passou a ter o Brasil como um dos focos, ao mesmo tempo que o País já lidava com outras incertezas, como as do front fiscal.
Guillen também lembrou que, uma das discussões no âmbito das últimas reuniões do Copom, é o como as moedas estão se correlacionado com o nível de juros de maneira distinta ao que era no passado, e como isso tem afetado os países emergentes.