O diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, disse nesta terça-feira, 8, que a desinflação esperada para o País está “em linha ou melhor” do que a do restante dos pares emergentes. Ele participou de evento da Moody’s na manhã desta terça.

Durante a apresentação, Serra afirmou que o aperto monetário antecipado conduzido pela autarquia deve puxar a desinflação no País, com o aperto das condições financeiras já aparecendo nos principais canais. Ele citou a queda das vendas de setores do varejo mais dependentes de crédito como exemplo.

O diretor acrescentou que o Brasil sofreu choques inflacionários antes de outros pares, devido a fatores como a depreciação do real durante a pandemia e a crise hídrica, que levou a uma disparada dos preços de energia no País. Agora, a devolução desses fatores pode contribuir negativamente com a inflação.

Serra destacou que o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-10) chegou a atingir recentemente a maior deflação mensal desde 2008, o que sugere um arrefecimento da inflação de bens. O diretor reconheceu, no entanto, que a desinflação de serviços pode ser mais desafiadora.

Ciclos

O diretor de Política Monetária do Banco Central disse que a inflação está acelerando em todos os países do mundo. Ele lembrou que houve vários ciclos de inflação de dois dígitos, mas que o atual se dá globalmente. “A gente teve vários ciclos de inflação em dois dígitos, mas desta vez foi um fenômeno global”, afirmou.

Segundo ele, o mercado de trabalho mundial encontra-se muito apertado, dado que o movimento de imigração durante a pandemia foi menor nos países que usam esse tipo de mão de obra. Com isso, houve um choque inflacionário ao qual os países, como os Estados Unidos, por exemplo, não estão acostumados. Num momento seguinte, em função da inflação elevada, o salário real do trabalhador americano caiu 4%, mais ou menos na comparação anual.

“É uma perda de salário real para o americano bastante significativa”, observou Serra, para quem, agora, “há um risco enorme de pressão inflacionária via recomposição salarial nos países desenvolvidos”.

Recessão

O diretor de Política Monetária do Banco Central disse também, de maneia enfática, que existe consenso de que a Europa vai entrar em recessão em 2023 e de que os Estados Unidos já estão quase lá.

Serra lembrou que a curva dos Treasuries já voltaram a seu pior momento desde a pandemia e que a queda de valor de investimentos das pessoas aumenta o risco de vento de cauda.

Em relação ao Brasil, o diretor do BC disse que o País tem sido aplaudido lá fora por estar conseguindo reverter a inflação e porque há revisão para cima da taxa de crescimento. “Diria que os ativos brasileiros performaram de forma espetacular em relação ao resto do mundo”.

Commodities

Bruno Serra disse também que a pressão sobre as cadeias de produção está refreando e que os preços das commodities começam a ceder.

Ele iniciou sua apresentação fazendo um balanço do impacto da pandemia na economia e, ao mesmo tempo, uma comparação dos impactos da crise sanitária com os choque decorrentes da crise do Sub Prime de 2008/20009, que incorporava o conceito de “moral hazard” (risco moral referente à possibilidade de um agente econômico mudar seu comportamento de acordo com os diferentes contextos nos quais ocorrem as transações econômicas) enquanto na pandemia o maior problema foi a ruptura das cadeias globais ao mesmo tempo em que o consumo de bens acelerou por todo o planeta e o consumo de serviços despencou.

Isso, de acordo com Serra, levou à justificada necessidade de os governos injetarem recursos na economia. Alguns picos foram observados, como o consumo de energia e disparada do preço da gasolina (referência EUA) de abril de 2020 para outubro de 2022 depois de ter atingido o pico em meados de julho.

A inflação respondeu a tudo isso e os bancos centrais, puxados pelo brasileiro reagiram com elevação das suas taxas básicas de juros e consequente desaceleração da economia global. Agora, de acordo com a apresentação de Bruno Serra, o mundo se depara com o risco de uma recessão global puxada por Estados Unidos e Zona do Euro em 2023.