No olho do furacão político desde que foi eleito, na quarta-feira (5), com o apoio da extrema direita, o líder alemão da Turíngia, Thomas Kemmerich, renunciou hoje e abriu caminho para novas eleições, conforme pedido pela chanceler Angela Merkel.

“Decidimos solicitar a dissolução do Parlamento da Turíngia (…), e minha renúncia é inevitável”, afirmou o controverso presidente regional eleito ontem, em resposta a Merkel, que descreveu o episódio como “imperdoável”.

Diante do estupor geral, o Parlamento regional da Turíngia (leste da Alemanha) elegeu Thomas Kemmerich. Este deputado do Partido Democrático Liberal (FDP) foi eleito chefe do governo local, graças aos votos em “coalizão” dos representantes da União Democrática Cristã da Alemanha (CDU), o partido Merkel, e da Alternativa para a Alemanha (AfD), o principal partido de extrema direita.

Desde a criação da AfD há sete anos, e ao contrário do que aconteceu na vizinha Áustria, todas as formações políticas, incluindo a direita tradicional, descartaram qualquer aliança, ou cooperação, com esse partido anti-imigração.

“É um ato imperdoável e um dia ruim para a democracia”, afirmou Merkel nesta quinta-feira na África do Sul.

O resultado dessas eleições “deve ser anulado” através de novas eleições, acrescentou a dirigente.

Ao tornar pública sua decisão de renunciar e convocar eleições antecipadas, Kemmerich assegurou que quer “limpar o estigma do apoio da AfD”.

“Os democratas precisam de maiorias democráticas e, obviamente, não podem ser obtidas neste Parlamento”, afirmou.

“Não houve trabalho conjunto com a AfD, não existe e não haverá”, insistiu Kemmerich em entrevista coletiva.

– “Vergonha” –

Desde a noite de quarta-feira, ocorreram manifestações espontâneas em várias cidades da Alemanha para se opor à votação e lembrar o que aconteceu na década de 1930, quando o partido de Adolf Hitler conseguiu, graças a alianças com a direita tradicional, alcançar gradualmente o poder.

A AfD é, hoje, a principal força de oposição na Câmara nacional, com 89 representantes.

Sua ala mais radical, dirigida diretamente da Turíngia, questiona a cultura alemã do arrependimento pelos crimes do Terceiro Reich.

“Um tabu foi quebrado”, era a manchete de vários jornais nesta quinta-feira. Para “Der Spiegel”, tratou-se “da eleição da vergonha”.

Em 1930, e precisamente na região da Turíngia, os líderes nazistas entraram pela primeira vez em um governo regional. Três anos depois, em 30 de janeiro de 1933, Adolf Hitler se tornou chanceler.

Nas redes sociais, a foto do aperto de mão entre o novo líder desse estado regional e o chefe local da AfD, o radical Björn Höcke, aparece ao lado de outra saudação histórica: entre Hitler e o presidente Paul von Hindenburg, quando ele o nomeou chanceler.

Höcke, um ex-professor de história que no passado já havia pedido uma “virada de 180°” na cultura histórica alemã, comemorou a eleição ontem e assegurou que se tornaria um exemplo para o restante do país.

Segundo os responsáveis da CDU, os deputados do partido de Merkel, ao votarem em conjunto com a extrema direita, “não respeitaram as convicções fundamentais” do Partido Democrata-Cristão.

A AfD é um dos opositores mais virulentos de Angela Merkel e de sua política de imigração, a qual levou o país a receber um milhão de refugiados entre 2015 e 2016.

A chanceler enfrenta dois grandes problemas: um partido dividido e seu governo de coalizão cada vez mais debilitado.

Seu parceiro social-democrata ameaçou questionar a atual aliança com os conservadores, se a situação na Turíngia não fosse esclarecida.

“O que aconteceu (na Turíngia) é um sinal e não podemos deixar isso sem resposta”, disse o líder do Partido Social-Democrata, Walter-Borjans.