O dirigente do Banco Central Europeu (BCE) e presidente do BC da Itália, Fabio Panetta, defendeu uma postura mais cautelosa sobre o aperto monetário na zona do euro, afirmando que o nível restritivo dos juros pode ter “duração curta”.

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Segundo ele, a transmissão para a economia real tem sido mais forte do que o esperado e pode representar riscos para a estabilidade financeira, conforme o aperto nas condições de crédito pese sobre o lucro bancário.

“A duração dos juros restritivos dependerá de muitas variáveis, mas pode ser curta se o enfraquecimento da economia acelerar a trajetória de queda da inflação”, disse Panetta. “Precisamos evitar danos desnecessários para a economia e estabilidade financeira que acabariam colocando em risco também a estabilidade de preços.”

O dirigente reconhece que a inflação segue elevada na zona do euro e projeta uma aceleração em dezembro, antes que os preços retomem queda em 2024. Contudo, ele acredita que o nível atual dos juros é suficiente para consolidar o processo de desinflação e retornar os preços à meta de 2%.

Além disso, Panetta sinalizou que se posiciona contra a utilização do balanço patrimonial para intensificar o aperto monetário no bloco, ecoando comentários similares do dirigente Yannis Stournaras.

“Devemos proceder cautelosamente com a normalização do balanço do Eurosistema, uma vez que reduzir acentuadamente teria um efeito de contração na economia que não seria justificado pelas perspectivas da inflação”, alertou o presidente do BC italiano.

Panetta teme que uma pressão ainda maior do aperto monetário sobre a demanda, em um momento de desaceleração da inflação e arrefecimento do mercado de trabalho, possa ampliar o enfraquecimento econômico e eliminar fatores que contribuem para a força dos bancos.

Os juros restritivos levariam a custos de financiamento mais altos e reduziriam a receita de juros, além de tornar condições de liquidez menos favoráveis, pontuou o dirigente.

“Temos que tomar iniciativas agora para mitigar esses riscos, ajustando perdas de empréstimo para refletir mudanças na qualidade do crédito”, afirmou o dirigente, acrescentando que o BC da Itália já pediu a bancos sob sua supervisão direta para seguir orientações de prevenção de riscos.