Os estereótipos negativos sobre os idosos incluídos nos sistemas de Inteligência Artificial (IA), cada vez mais presentes no campo da saúde, ameaçam diretamente a qualidade do tratamento dos idosos, alertou nesta quarta-feira(9) a Organização Mundial da Saúde (OMS).

No setor da saúde, a IA tem grande potencial para melhorar a qualidade do tratamento, mas “a codificação de estereótipos, preconceitos ou discriminação na IA ou sua manifestação na forma como é utilizada pode prejudicar a qualidade do atendimento ao idoso”, disse a OMS em um novo relatório sobre o assunto.

A IA baseia-se no uso de extensos bancos de dados que muitas vezes são feitos, compartilhados e analisados de forma pouco transparente.

Como já foi demonstrado ao nível de gênero e origem, estas bases de dados podem ser cruzadas e reproduzir, ou exacerbar, práticas discriminatórias baseadas na idade, já difundidas nos sistemas de saúde.

“Os homens mais velhos geralmente se beneficiam de exames mais aprofundados do que as mulheres mais velhas, ou são mais propensos a receber certos tratamentos ou cuidados preventivos”, disse em entrevista à AFP a Dra. Vania de la Fuente-Núñez, que faz parte da célula “envelhecimento saudável” da OMS.

A responsável destaca ainda o acesso a cuidados intensivos e oxigênio decididos com base na idade durante os momentos mais críticos da pandemia de covid-19.

“Os algoritmos de IA podem incorporar desigualdades de saúde existentes e discriminar sistematicamente em uma escala muito mais ampla do que vieses individuais”, diz o artigo.

Esses defeitos podem ser agravados pela subrepresentação dos idosos nas bases de dados utilizadas.

Como os algoritmos são baseados em informações acumuladas de populações jovens, existe o risco de faltar o que é específico para grupos etários mais velhos.

No entanto, o relatório também destaca os benefícios que os idosos podem obter com esses sistemas de IA na saúde, como na prevenção de quedas ou outras emergências médicas, graças à coleta de dados por meio de acessórios conectados.

A IA também pode atuar na medicina preventiva, prevendo com mais precisão a evolução de uma doença e seus riscos.

– “Brecha digital” –

Mas, embora ajude a compensar parte da falta de pessoal, a IA também pode reduzir o contato físico entre profissionais de saúde e pacientes mais velhos.

E isso significa que “as oportunidades para combater a discriminação etária por meio de interações entre gerações são limitadas”, diz o Dr. de la Fuente-Núñez.

E há também “uma enorme exclusão digital”, alerta o médico, o que contribui para isolar os idosos, menos acostumados às novas tecnologias, e deixá-los à margem de um sistema de saúde onde a digitalização ganha espado em grande velocidade.

O relatório aconselha combater este problema informando melhor os idosos sobre os sistemas digitais, mas também envolvendo-os mais em todos os aspectos que podem afetar a forma como são cuidados.

Além de associá-los no desenvolvimento de algoritmos, é preciso incluí-los em comitês de ética, por exemplo, e garantir que os órgãos de saúde os consultem para detectar e eliminar vieses.

“A IA é promissora, mas você deve ser cauteloso porque também apresenta riscos”, diz De la Fuente-Núñez.