09/05/2022 - 19:59
Por Pavel Polityuk e Jonathan Landay
KIEV/KHARKIV, Ucrânia (Reuters) – O presidente da Rússia, Vladimir Putin, exortou os russos a lutarem em um discurso desafiador no Dia da Vitória, nesta segunda-feira, mas ficou em silêncio sobre os planos para qualquer escalada na Ucrânia, apesar das advertências ocidentais de que ele poderia usar sua fala na Praça Vermelha para ordenar uma mobilização nacional.
Na Ucrânia, não houve trégua nos combates, com Kiev relatando ataques com mísseis na cidade portuária de Odessa, no sul, e um esforço renovado das forças russas para derrotar as últimas tropas ucranianas que resistem em uma siderúrgica nas ruínas de Mariupol.
O desfile anual de segunda-feira em Moscou –com os habituais mísseis balísticos e tanques– foi de longe o mais observado desde a derrota dos nazistas em 1945, que o evento celebra.
As capitais ocidentais especularam abertamente por semanas que Putin estava conduzindo suas forças para alcançar progresso suficiente até a data simbólica para declarar vitória, mas, com poucos ganhos até agora, ele poderia anunciar uma convocação nacional para a guerra.
O presidente russo não fez nada disso, mas repetiu as afirmações de que suas forças estavam novamente lutando contra os nazistas.
“Vocês estão lutando pela Pátria, por seu futuro, para que ninguém esqueça as lições da Segunda Guerra Mundial. Para que não haja lugar no mundo para carrascos, castigadores e nazistas”, disse Putin da tribuna.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, em seu próprio discurso, prometeu aos ucranianos que eles vencerão.
“No Dia da Vitória sobre o nazismo, lutamos por uma nova vitória. O caminho para isso é difícil, mas não temos dúvidas de que venceremos”, disse Zelenskiy, vestindo um uniforme militar simples com as mangas da camisa arregaçadas.
Em Washington, onde fontes dizem que os parlamentares democratas concordaram com uma proposta de ajuda de 40 bilhões de dólares para a Ucrânia, incluindo um enorme pacote de novas armas, a Casa Branca descreveu os comentários de Putin como “história revisionista que assumiu a forma de desinformação”.
Putin afirmou que a “operação militar especial” da Rússia é uma medida puramente defensiva e inevitável contra os planos, apoiados pela aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), de invasão de terras, as quais, segundo ele, são historicamente da Rússia, incluindo a Crimeia.
“A Rússia repeliu preventivamente o agressor”, disse ele, sem oferecer evidências do que chamou de preparativos abertos para atacar a Crimeia e a região de Donbas, na Ucrânia.
Em 2014, separatistas apoiados pela Rússia tomaram partes de Donbas no leste da Ucrânia e a Rússia anexou a Crimeia da Ucrânia no mesmo ano. Moscou então concentrou tropas em torno da Ucrânia no ano passado antes de uma invasão total que a Ucrânia e seus aliados ocidentais dizem ter sido totalmente não provocada.
“Os países da Otan não iriam atacar a Rússia. A Ucrânia não planejava atacar a Crimeia”, disse o assessor presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak após os comentários de Putin.
Putin não mencionou a Ucrânia pelo nome em seu discurso e não deu nenhuma indicação de quanto tempo a guerra pode continuar.
Também não houve referência à sangrenta batalha de Mariupol, onde um dos defensores ucranianos escondido nas ruínas da siderúrgica de Azovstal pediu à comunidade internacional que ajudasse a retirar os soldados feridos.
“Continuaremos lutando enquanto estivermos vivos para repelir os ocupantes russos”, disse o capitão Sviatoslav Palamar.
As forças russas devastaram vilarejos, vilas e cidades e levaram quase seis milhões de ucranianos a fugirem desde que invadiram a Ucrânia em 24 de fevereiro.
A vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Hanna Malyar, disse que as forças russas agora estão tentando avançar no leste da Ucrânia, onde a situação é “difícil”, mas recuaram da cidade de Kharkiv, onde uma autoridade local relatou intenso bombardeio russo.