Nas últimas duas décadas, Michael Eisner, executivo-chefe da The Walt Disney, fez de Wall Street o seu parque de diversões. Adorava ver o vaivém dos papéis na meca do capitalismo e acompanhar de perto a evolução da empresa no mundo dos negócios. Como ninguém ele aplicou o estilo ?Tio Patinhas? de administração austera e colocou para escanteio qualquer um que apresentasse síndrome de Pateta na obtenção dos números almejados. O resultado foi um só: uma revolução. Em 1984, quando Eisner assumiu o comando, a empresa valia US$ 2,8 bilhões na bolsa de valores. Hoje, está perto dos US$ 57 bilhões. O faturamento, que era de US$ 1,7 bilhão, deve esbarrar nos US$ 30 bilhões até o fim de 2005. Mas essas expressivas conquistas em nenhum momento aplacaram os ânimos dos investidores/adversários. Então, Eisner jogou a toalha. Mandou uma carta ao conselho de diretores no dia 9 de setembro deste ano, informando que vai deixar a empresa em 2006, quando acaba o seu contrato.

Apesar do desempenho arrancar aplausos de analistas e até um sorriso da Minnie, Eisner começou a enfrentar sérios problemas junto aos controladores. O primeiro sinal surgiu há um ano. Roy Disney, o sobrinho do fundador, e o ex-diretor Stanley Gold juntaram forças e promoveram a campanha ?Salve a Disney?. Alegavam que o executivo-chefe conduzia a empresa na direção errada, com falta de público na bilheteria dos filmes e a expansão desenfreada dos parques temáticos. Aparentemente, o executivo conseguiu reduzir o impacto da iniciativa adversária. Afinal, o faturamento pulou de US$ 25,2 bilhões em 2001 para US$ 27 bilhões no ano passado. O lucro também não decepcionou. Saiu de um prejuízo de US$ 158 milhões para um expressivo resultado positivo de US$ 1,3 bilhão no mesmo período.

Nem assim a turma de Roy Disney deu folga. Em março deste ano veio o segundo golpe. Eisner, que acumulava dois cargos, foi afastado do posto de presidente e ficou apenas com o cargo de executivo-chefe. Mesmo ainda como principal administrador do grupo, estava claro que as suas práticas já não eram tão populares, até porque 57% dos acionistas balançaram a cabeça positivamente para sua administração. Um bom número, sem dúvida, mas houve tempo em que a aprovação às decisões de Eisner beirava os 100%.

Foi aí que ele percebeu que já não agradava tanto. E basta dar uma olhada na sua carta enviada aos membros do conselho de diretores para entender a situação. O executivo fez questão de enumerar seus feitos à frente da Disney e afirmou que continuará à disposição até 30 de setembro de 2006, quando aposenta-se de vez. Até lá, pretende imprimir uma suave transição, cujo substituto ainda não foi escolhido, segundo a assessoria de imprensa da empresa nos Estados Unidos. Por enquanto, a companhia garante que não haverá qualquer mudança de rumos no jeito de tocar o negócio.

A carta aberta de Eisner teve resposta. George Mitchell, presidente do conselho de diretores da Disney, não gastou mais que cinco linhas para dizer que respeita a decisão do ?colega? e, claro, agradece os serviços prestados nos últimos 20 anos. Não há menção a qualquer problema administrativo ou a possíveis substitutos. Mas o mercado não adota o tom diplomático. Muitos analistas apontam o fraco desempenho dos filmes de animação, da TV ABC e dos parques temáticos como causadores de tantos problemas. E aí Eisner está na mira. Foi sob seu comando que a Disney arrematou a rede ABC em janeiro de 1996 por US$ 19 bilhões, abriu sete novos parques e criou mais de 800 filmes, nem todos sucesso absoluto de público (como Aladim e Hércules). O executivo-chefe apenas classificou esses movimentos de ?prósperos? e citou que o valor de mercado da ABC subiu de US$ 39,1 bilhões para US$ 53,3 bilhões de 1996 para cá.

Apesar das críticas, Eisner foi sereno na correspondência de despedida. Ressaltou que sua afeição pela Disney jamais será aposentada e, em um tom bem-humorado, garantiu que, caso alguém pergunte quais serão os seus próximos passos, vai seguir o conselho da campanha publicitária da empresa. ?Eu estou indo para a Disneylândia.?

O GRUPO QUE ELE ASSUMIU

Faturamento anual
US$ 1,7 bilhão

No de funcionários
28 mil

Valor estimado da empresa
US$ 2,8 bilhões

 

A EMPRESA QUE ELE VAI DEIXAR

Faturamento anual
US$ 30 bilhões

No de funcionários
117 mil

Valor estimado da empresa
US$ 57 bilhões