Disputas familiares envolvendo dinheiro e poder são corriqueiras no mundo dos milionários. Mas quando essas batalhas vão parar no universo dos bilionários elas ganham proporções colossais. A briga do momento traz à luz uma das monarquias mais excêntricas do planeta, a do pequeno Brunei, país sentado na terceira maior reserva de petróleo do sul da Ásia e na maior reserva mundial de gás natural, comandado pelo sultão Hassanal Bolkiah, de 61 anos. Dono de uma fortuna estimada em US$ 22 bilhões, o sultão trava uma briga judicial com o seu irmão caçula Jefri, conhecido como o príncipe playboy. A pendenga? US$ 14,7 bilhões.

De acordo com o sultão, nos anos 90, quando Jefri era ministro das Finanças do país, o príncipe teria desviado essa montanha de dinheiro, parte de um fundo de US$ 25 bilhões da Agência de Investimentos de Brunei, para o próprio bolso. Do total do fundo, Jefri ainda destinou US$ 7,4 bilhões para o próprio sultão e mais US$ 2,9 bilhões para projetos estatais. Tudo, diz Jefri, com o consentimento do sultão. O sultão discorda e conseguiu o que queria nos tribunais. Depois de ver frustrado um acordo assinado em 2000 no qual Jefri se comprometia a devolver US$ 6,3 bilhões, o sultão ganhou a causa no Privy Council de Londres, a última instância da Justiça de Brunei, ex-colônia inglesa.

Pelo que foi definido por cinco juízes ingleses, Jefri não ficará um pouco mais pobre, mas, sim, menos rico. O príncipe playboy terá de devolver mansões localizadas no bairro de Regent?s Park, em Londres; palácios em Cingapura; propriedades na Place Vendôme, em Paris; o hotel New York Palace, cravado no coração de Manhattan; o hotel Bel-Air, de Los Angeles, jóias; obras de arte e uma montanha de dinheiro aplicada em diversos fundos de investimentos. Jefri promete ir à forra e diz que recorrerá na Justiça de cada um dos países onde seus bens estão registrados. A discussão ainda levará tempo para ser definida, mas ela revelou, além da disputa entre membros da família real de Brunei, o estilo de vida nababesco do sultão. Isso porque, durante o processo, o sultão foi obrigado a fornecer detalhes de seus gastos pessoais. Não é nenhum exagero dizer que trabalhar para o sultão é um dos melhores negócios do mundo. Sua governanta tem um salário anual de US$ 15,4 milhões, o mordomo recebe US$ 13,9 milhões, cada uma das suas cinco relações-públicas ganha US$ 12,3 milhões. Ele ainda pagou US$ 2,6 milhões para o professor de badminton e gastou outros US$ 2,6 milhões com massagem e acupuntura. Até o tratador de seus pássaros ganha uma pequena fortuna: US$ 103 mil por ano. Para quem já pediu para um de seus empregados trazer de helicóptero as botas de pólo eqüestre que ele havia esquecido, é mero detalhe mesmo.

O sultão mora em um palácio maior do que o Vaticano ? com 1.788 cômodos, tem um zoológico particular e uma coleção de arte com quadros de Renoir e Gauguin. Com cinco mil carros estacionados na garagem, ele tem a maior frota de Rolls-Royce do mundo com 165 automóveis da montadora inglesa. Joga pólo com o príncipe Charles e possui 650 cavalos de raça ? transporta- os pelo mundo em um Boeing adaptado para os animais. Quando viaja, usa o seu Boeing 747, que consumiu US$ 120 milhões na decoração com pias de ouro e de cristal Lalique, além de suíte com banheira de hidromassagem. Ao hospedar-se nas suítes presidenciais dos hotéis, costuma ser gen eroso com os funcionários. Certa vez, deixou uma gorjeta de US$ 170 mil. As festas organizadas pela família real do Brunei também são vistas como eventos das mil e uma noites. Nos 25 anos de seu filho, o príncipe Aziz, o sultão gastou US$ 10,5 milhões, com direito até a um show particular de Michael Jackson. No casamento de seu outro filho, o príncipe Al-Muhtadee, o sultão gastou outros US$ 5 milhões em uma festa para milhares de pessoas, onde o príncipe desfilou em um Rolls-Royce aberto seguido por 100 limusines. O dinheiro de Hassanal Bolkiah jorra sem parar.

No processo julgado em Londres, viu-se que, nos últimos quatro anos, o sultão transferiu US$ 8 bilhões do Estado para as suas contas pessoais. Nenhum dos 370 mil habitantes de Brunei reclama da atitude de Hassanal. Afinal de contas, ele manda no Estado, a população não paga impostos, escolas e hospitais. Além disso, de acordo com dados da ONU, os cidadãos têm uma renda per capita anual de US$ 19,2 mil ? mais que o dobro da apresentada no Brasil. Mas, mesmo com toda essa fortuna, sentado sobre milhões de barris de óleo negro, os tempos são outros. Isso, é bom salientar, em se tratando de alguém como o sultão de Brunei. Hassanal Bolkiah já foi considerado o homem mais rico do mundo. Em 1999, ele tinha uma fortuna de US$ 40 bilhões, hoje é dono de US$ 22 bilhões. Vai ver que é por isso que ele foi para cima de Jefri. Para quem joga dinheiro para o ar e tem o ego do tamanho da conta bancária, um bilhão a menos faz toda diferença.