O grupo francês PSA, holding que controla as montadoras Peugeot e Citroën, tem como política aproveitar as sinergias de ambas operações, trabalhando cada marca independentemente. Trata-se de uma estratégia aplicada no mundo inteiro e que, de certa forma, faz as duas companhias competirem como rivais. Em quase todos os lugares em que atua, a Peugeot leva a melhor. No Brasil não é diferente. Mas, ao que parece, a Citroën deverá pisar no calo de sua “irmã” até o fim do ano. Os números não mentem: em 2000, a Citroën vendeu 8,7 mil unidades, enquanto a Peugeot comercializou 21,5 mil carros, quase o triplo dos da concorrente. Passados dez anos, a Citroën está cada vez mais próxima. 

 

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“Consegui passar a Peugeot por duas vezes quando dirigi a Citroën da Bélgica”

Ivan Segal, presidente da Citroën do Brasil

 

Os dados mais recentes da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) revelam que, de janeiro a agosto, a Citroën vendeu 51,4 mil unidades e a Peugeot alcançou 58,6 mil exemplares. 

 

“Consegui passar a Peugeot por uma ou duas vezes quando era presidente da Citroën na Bélgica”, diz Ivan Segal, presidente da Citroën no Brasil, deixando claro que não comemora esse tipo de resultado. “Pertencemos todos a um mesmo grupo e desta forma trabalhamos sempre para fortalecê-lo como um todo”, afirma Segal com um ar diplomático. 

 

Os executivos da Peugeot mantêm o mesmo tom. “É possível que, de acordo com o calendário de lançamentos, uma marca possa acabar ultrapassando a outra em determinado momento. Isso é normal e não nos preocupa”, diz Laurent Benard, diretor de vendas da Peugeot no Brasil. 

 

Muito da situação atual da Citroën se deve à atuação do executivo, que desembarcou no Brasil em fevereiro do ano passado, para assumir a direção da montadora em uma situação delicada. Ele chegou no momento em que a empresa dava férias coletivas aos funcionários por falta de peças na fábrica de Porto Real – o que fez a marca perder espaço. 

 

De lá para cá, ele coordenou a mudança do novo padrão visual implementado pela matriz em suas concessionárias no mundo inteiro e lançou novos modelos no mercado. A Citroën passou a vender o C4 hatch, o C5, renovou toda a linha de comerciais leves da empresa e criou o departamento de vendas a frotistas. Essas medidas surtiram efeito e a marca já projeta vender 85 mil carros até o fim do ano, um crescimento de 24% sobre 2009. 

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Detalhe: essa porcentagem é três vezes maior do que a média nacional do setor projetada pela Anfavea para este ano. Para isso, a Citroën investiu 180 milhões de euros na fábrica de Porto Real, no Rio de Janeiro, no lançamento de um novo carro: o Aircross. 

 

O veículo, com visual off-road, vai disputar um mercado de 110 mil carros anuais no qual as vedetes são o EcoSport, da Ford, o Cross Fox, da Volkswagen, e o Idea Adventure, da Fiat. “A expectativa é vender pelo menos dois mil carros por mês e conquistar pouco mais de 20% deste segmento” diz Nívea Morato, diretora de marketing da Citroën.

 

As ambições da Citroën com o mercado nacional são grandes. “Em 2020 o mercado nacional deverá avançar 46%, chegando a 4,58 milhões de veículos comercializados. Nesse mesmo período, a Citroen crescerá nada menos do que 180% chegando perto dos 200 mil carros vendidos”, diz Frederick Banzet, presidente mundial da Citroën.

 

Justamente por isso, o grupo PSA vai ampliar sua produção. “Iremos injetar cerca de 700 milhões de euros nos próximos três anos apenas na área fabril no Brasil e na Argentina para desenvolvimento de novos produtos”, diz Carlos Gomes, presidente do grupo PSA para a América Latina. 

 

O grupo, aliás, pretende vender 151 mil carros, no Brasil, até o fim do ano – um crescimento de 9% em relação ao ano passado. Esse número só não é maior porque a Peugeot está com o freio de mão puxado e vem segurando esse crescimento. No primeiro semestre do ano, a Peugeot cresceu apenas 4% contra 15% da Citroën no mesmo período.

 

“Nós também estamos com alguns carros no fim de um ciclo, mas faremos vários lançamentos no Salão do Automóvel de São Paulo. Além disso, nosso segundo semestre será bem mais forte que o primeiro”, diz Benard, da Peugeot, projetando fechar o ano com 90 mil carros vendidos.