Primeira manchete, quarta-feira, 23 de março: ?Lojas Base são vendidas ao Magazine Luiza?. Segunda manchete, sabádo 26: ?Casas Bahia fazem oferta irrecusável e adquirem Lojas Base?. Terceira manchete, sexta-feira, 1º de abril: ?Luiza retoma Lojas Base?. No universo do varejo, as disputas ? ou os leilões ? são corriqueiros nos processos de aquisição. O que causou surpresa no caso das Lojas Base, no entanto, é que no meio do processo, a cada dia, publicamente, surgia um vencedor. A sucessão de ?vendeu para um, foi para o outro e retornou ao primeiro? deu-se através de ampla divulgação em jornais, rádio, TV… Até mesmo os funcionários das Lojas Base passaram a semana em parafuso, sem saber a quem deveriam chamar de patrão. Seria Samuel Klein, dono das Casas Bahia, campeã do setor varejista, com R$ 9 bilhões de faturamento; ou Luiza Trajano, do Magazine Luiza, terceira do ranking, com vendas de R$ 1,4 bilhão? Deu Luiza, que agora leva para a casa a líder no varejo de Santa Catarina, com 66 lojas, R$ 180 milhões de receitas e um milhão de clientes. Só não foi revelado o valor do acordo.

DINHEIRO teve acesso aos bastidores dessa confusão corporativa. As negociações iniciaram-se em fevereiro, quando o Magazine Luiza contatou Wanderley Berlanda, dono das Lojas Base. Os entendimentos avançaram até 21 de março, dia em que Luiza mandou o avião particular a Chapecó para buscar o empresário e levá-lo à sua sede, em Franca (SP). No encontro, os executivos assinaram um pré-contrato. Previa-se a aquisição da marca, dos pontos comerciais e do estoque. Experiente, ela teria exigido a inclusão de R$ 3 milhões em caso de rescisão ? providencial medida para afastar possíveis ?atravessadores?.

Dois dias depois, a notícia da venda da Base à Luiza foi veiculada na imprensa local. Cerca de duas da tarde, o avião particular da empresa de Samuel Klein desembarcou em Chapecó. De acordo com os funcionários da Base, a aeronave pousou na cidade abarrotada de funcionários das Casas Bahia, dispostos a fazer uma devassa nas lojas e nas contas da rede catarinense. Retornou a São Paulo, no dia seguinte, com Berlanda na cabine. Além dos demais ativos, a proposta de Klein incluía os imóveis e a financeira no negócio. Ele também estaria disposto a pagar a multa rescisória. Ninguém duvidava que o acordo estava sacramentado. No sábado 26, a Base divulgou nota que citava uma ?oferta irrecusável? da Bahia.

Dali para frente, exceção feita aos envolvidos, ninguém sabe como Luiza Trajano reverteu novamente a situação, divulgada, oficialmente, no último dia 1º de abril. As Casas Bahia confirmam que houve proposta às Lojas Base, mas ela estava condicionada eticamente à desistência de outro interessado. ?Jamais quisemos atravessar o negócio ou criar clima de leilão?, declarou uma fonte ligada às Casas Bahia. ?Não é verdade. Eles chegaram a pagar a multa ao Berlanda?, rebate um executivo de Luíza. Quanto a Berlanda, ele diz que vai se dedicar ao ramo de construção civil. Mas não agora. No momento, está saboreando a vitória no mais recente leilão do varejo brasileiro.