SÃO PAULO (Reuters) – O arrefecimento da economia brasileira iniciado no final do ano passado provavelmente se estenderá para 2023, dizem economistas, o que deve elevar a pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aliados por juros mais baixos.

No entanto, com a expectativa de que a desaceleração econômica projetada não seja suficiente para reduzir a inflação de forma convincente, o Banco Central provavelmente seguirá firme com sua política monetária restritiva, afirmam especialistas.

Dados divulgados pelo IBGE mais cedo nesta quinta-feira mostraram quer o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil encolheu 0,2% no quarto trimestre de 2022 sobre o trimestre imediatamente anterior, embora tenha acumulado no ano uma alta de 2,9%.

“A gente vê claramente um impacto da política monetária contracionista”, disse à Reuters Yihao Lin, coordenador de economia da Genial Investimentos, em referência à leitura do quarto trimestre.

O Banco Central interrompeu no ano passado um longo e intenso ciclo de aperto monetário que, em sua batalha para controlar a alta dos preços e segurar as expectativas de inflação, elevou a taxa básica de juros de uma mínima histórica de 2% para o nível atual de 13,75%.

Como a política monetária tem efeitos defasados, o impacto total desse aperto só deve ser sentido em sua totalidade a partir do primeiro trimestre deste ano, disse Lin, o que continuará promovendo desaceleração da atividade. “A economia brasileira ainda tende a enfrentar um processo inflacionário nos próximos meses, o que vai exigir do BC uma política monetária mais ‘hawkish’ (dura com a inflação).”

Para Claudia Moreno, economista do C6 Bank, consolida a perspectiva de desaquecimento o fato de que os fatores que beneficiaram a economia brasileira em 2022 –como a reabertura pós-pandemia– não se fazem mais presentes.

Nesse contexto, disse Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama, “com esse PIB fraco (no 4° tri), a pressão por queda nos juros deve aumentar”.

Lula e vários de seus aliados têm criticado de forma recorrente o nível dos juros, argumentando que uma Selic alta prejudica a população ao minar a expansão da economia. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, argumentam que o governo está fazendo um esforço para mostrar responsabilidade fiscal que deve ser respondido com reduções nos juros pelo BC.

Mas, mesmo diante da pressão política, não se espera abrandamento da postura do BC, já que ainda há um longo caminho até o arrefecimento da inflação em direção às metas oficiais.

“Essa desaceleração do PIB (no 4° tri) ainda não facilita muito a vida do Banco Central; ela tem ajudado a inflação a ceder, mas ela não está cedendo na velocidade necessária”, disse Carlos Lopes, economista do BV. “Por isso, o BC tem mostrado muita cautela e sinalizou que, se necessário, vai manter os juros em nível elevado por bastante tempo.”

Na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deste ano, o Banco Central ressaltou que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste nos juros caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.

A expectativa de analistas é que a inflação feche este ano em 5,9%, e chegue a 4,02% em 2024, segundo a mais recente pesquisa Focus do BC com economistas. Nos dois casos, as projeções estão acima das metas centrais –de 3,25% e 3%, respectivamente.

Para Lin, da Genial, o fato de o Banco Central ter autonomia é um fator positivo, já que evita interferências do governo na política monetária. “Acredito que o BC esteja no caminho certo de manter a postura firme de combate à inflação, e a desaceleração econômica está dentro do esperado para desaquecer a economia e a inflação.”

Após a divulgação dos dados do PIB do ano passado pelo IBGE, o Ministério da Fazenda afirmou nesta quinta-feira que a política monetária no campo significativamente contracionista é “vetor negativo para o crescimento prospectivo” da economia.

(Por Luana Maria Benedito)

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