Aplicar em ações sem a estressante tarefa de acompanhar o sobe-e-desce dos índices da bolsa de valores. O que parece hipótese mágica é de fato uma promissora alternativa de investimento para este ano. A novidade é que o lucro das empresas distribuído aos seus acionistas passou a ser mais um indicador efetivo do mercado acionário. Graças à estabilidade econômica e à queda dos juros, as companhias de capital aberto voltaram a pagar dividendos significativos e a influenciar na rentabilidade das aplicações em ações. Mas atenção: trata-se de uma opção de longo prazo destinado aos investidores que querem ter rendimentos anuais constantes, acima da renda fixa e longe dos riscos do mercado acionário. Para quem tem esse perfil, é um prato cheio. Em 2000, por exemplo, os dividendos cresceram em média 60% em relação a 99. Pelas regras da Comissão de Valores Mobiliários, CVM, as companhias de capital aberto são obrigadas a distribuir 25% dos lucros para os acionistas, sendo que as ações preferenciais devem receber 10% a mais do que as ordinárias.

A tendência de aumento dos dividendos foi identificada por bancos e corretoras e alguns deles já oferecem fundos formados exclusivamente por empresas distribuidoras de lucros, sem o compromisso de seguir os índices do mercado acionário. A carteira do fundo Lloyds Ace FITVM, por exemplo, tem ações de 25 empresas tradicionais pagadoras de dividendos. A aplicação mínima é de R$ 5 mil e livre para clientes private. ?Assim como as companhias americanas, os empresários brasileiros estão aumentando o porcentual do lucro a ser distribuído?, afirma Gilberto Poso, diretor de operações com o cliente do Lloyds Asset Management. Foi por isso que o banco resolveu trocar o referencial desse fundo, que antes acompanhava o Índice Brasil, IBX, para abocanhar uma fatia dos ganhos do caixa das empresas.

O BBM também aposta na oferta dos ?fundos dividendos? como alternativa para diversificar as aplicações acionárias. ?O cliente pode ganhar sem movimentar a carteira?, diz Hegler Horta, gestor de fundos de renda variável do BBM. Ele cita o exemplo das ações da Copene. Em dezembro de 99, o lote de mil ações da empresa valia R$ 598. No final de 2000, fechou com a cotação de R$ 706 e pagou R$ 69. Quem investiu, teve o lucro da valorização e o do dividendo.

Os analistas de mercado utilizam o indicador dividend yield para escolher as ações dos fundos. Ele é calculado com a divisão do valor dos dividendos pelo preço da ação. Dessa forma, é possível avaliar o custo-benefício da aplicação. Quanto maior o resultado, melhor a classificação da empresa (veja tabela). A Geração Corretora de Valores montou uma carteira teórica com as ações das principais companhias pagadoras de dividendos para orientar os clientes. ?Esse tipo de aplicação pode substituir a renda fixa, porque não tem os mesmos riscos de oscilação do mercado acionário e tem rendimentos constantes?, explica Milton Luiz Milioni, diretor da corretora. Para os investimentos diretos, o investidor deve comprar ações de no mínimo dez empresas de setores diferentes, para reduzir riscos e aumentar as chances de ganhos.

Na mesma proporção que esse tipo de fundo tem menos risco ? porque não acompanha os índices da bolsa ?, a valorização e a liquidez também são menores que os convencionais. De praxe, em caso de grande queda da bolsa, os fundos de dividendos terão perdas menores, só que isso também ocorre quando há grandes valorizações. O ganho será inferior. Muitas vezes, os fundos podem não conter os papéis de alta sazonal. Além disso, essas empresas nem sempre são as mais negociadas, o que compromete a liquidez. Por esse motivo, o Banco Safra optou em mesclar a composição do fundo Multidividendos. Cerca de 50% da carteira é de ações de empresas com essa tradição e o restante varia conforme oportunidades do mercado. ?Assim, atendemos a demanda dos clientes um pouco mais ousados?, diz Valmir Rendalh Celestino, gestor de renda variável do Safra. Mesmo sem ousadia para aplicar em bolsa, o engenheiro Sérgio Carettoni não tem do que reclamar. Ele fez sua carteira apenas com papéis de empresas que têm históricos de distribuição de lucros. Quando recebeu o extrato das suas aplicações de 2000, descobriu que os dividendos a serem pagos serão em média 50% maiores que os recebidos ano anterior. Se essa tendência se confirmar, os dividendos, mais que uma aplicação, poderão ser uma fonte de renda para os investidores brasileiros, como já é para muitos americanos.