28/01/2025 - 0:06
As memórias de sobreviventes do Holocausto que lembraram nesta segunda-feira, em Nova York, o 80° aniversário da libertação do campo de concentração nazista de Auschwitz, serão imortalizadas pela inteligência artificial (IA).
Os sobreviventes, que têm mais de 90 anos e vivem há décadas nos Estados Unidos, reuniram-se no Museum of Jewish Heritage (MJH), não muito longe de Ellis Island, porta de entrada no país de muitos dos que sobreviveram ao horror.
Enquanto acompanhavam pelas telas a cerimônia que marcou os 80 anos da libertação do campo, alguns deles não escondiam o medo causado pelo retorno “do ódio” e do antissemitismo.
“Conseguimos. Setenta e cinco anos depois, estou aqui nos Estados Unidos e refizemos nossas vidas”, diz Toby Levy, nascida em 1933, perto de Lviv, então Polônia e hoje Ucrânia. Quando criança, ela se escondeu com a família nos guetos da Polônia, antes de eles serem libertados pelo Exército Vermelho soviético, em 1944.
Toby chegou a Nova Orleans em 1949, antes de escolher Nova York, cidade multicultural construída por ondas sucessivas de imigrantes. Seu depoimento, assim como o de outros nove sobreviventes do Holocausto que vivem há mais de 70 anos nos Estados Unidos, será imortalizado pela IA, explicou à AFP Mike Jones, pai desse projeto tecnológico inédito, realizado em colaboração com o MJH e as bibliotecas da Universidade do Sul da Califórnia (USC).
As respostas de Toby a perguntas sobre a sua infância antes de seu país ser invadido pela Alemanha nazista, sobre a sua sobrevivência nos campos de extermínio, sobre a sua libertação e sua vida nos Estados Unidos foram registradas em vídeo e texto em uma base de dados. Os visitantes do museu ou do site da instituição podem fazer perguntas, e os sobreviventes responderão de maneira interativa, segundo frases pré-gravadas.
“Independentemente de quem estiver no poder nos Estados Unidos, da retórica antissemita, as memórias e experiências dos sobreviventes são, fundamentalmente, atemporais”, ressaltou Mike Jones.
– Atrocidades –
São “histórias de seres humanos que cometeram atrocidades imperdoáveis contra outros seres humanos”, disse Jones.
Nascida em 1933, na então Tchecoslováquia e hoje Hungria, Alice Ginsburg foi deportada em 1944 para Auschwitz, onde quase morreu “de fome e devido ao trabalho forçado”. Ela chegou aos Estados Unidos dois anos após a libertação do campo.
“Era a desumanidade do homem contra o homem. Por que tanto ódio, quando os judeus não tinham feito nada? Por que assassinar 1,5 milhão de crianças?”, questionou Alice.
Oitenta anos depois de sobreviver ao ódio antissemita, essa nova-iorquina se preocupa com “os negacionistas do Holocausto, uma nova forma de antissemitismo”, assim como Jerry Lindenstraus, nascido na Alemanha no começo da década de 1930 e radicado em Nova York em 1953, após um exílio em Xangai e na América do Sul.
Lindenstraus quer que suas memórias sirvam “para que nunca esqueçamos o que aconteceu”, principalmente os jovens estudantes que “não têm nem ideia”.
“Nossa responsabilidade compartilhada e obrigação moral é honrar os 6 milhões de judeus que foram tirados de nós e as muitíssimas outras vidas que foram transformadas para sempre pelos horrores do Holocausto”, ressaltou Bruce Ratner, presidente do MJH. “Temos que garantir que essas lições sejam sempre lembradas, e que transmitimos para a próxima geração uma parte da História, comprometidos em lembrar que os dias mais sombrios possíveis aconteceram e que não os esqueceremos.”