Os gatos fascinam há milênios – seja como divindades, amuletos da sorte ou, atualmente, mascotes da internet. Nem mesmo Vladimir Putin parece resistir aos encantos dos felinos.Para milhões de fãs de gatos ao redor do mundo, o Dia Mundial do Gato não se celebra apenas nesta sexta-feira (08/08), e sim todos os dias. Isso é verdade sobretudo nas redes sociais, onde o conteúdo sobre estes pequenos predadores domésticos estão entre os mais populares e clicados da internet. No Instagram, ninguém é páreo para nala_cat, a gata com o maior número de seguidores na plataforma: 4,4 milhões. Mestiça de gato siamês, ela lançou sua própria marca de ração com uma ampla variedade de sabores em seu “cat-álogo”.

Ao lado de seus amigos peludos, até mesmo grandes astros mundiais como Taylor Swift, Miley Cyrus e Justin Bieber parecem pessoas normais ao postarem fotos com seus bichanos, hoje também famosos.

Mas gatos-celebridades definitivamente não são uma invenção das redes.

Há mais de 10 mil anos ao nosso lado

Independentes como são, gatos não dependem da internet para serem populares – afinal, o amor dos humanos por esses caçadores silenciosos remonta a mais de 10 mil anos.

A aproximação entre gatos e humanos começou com o advento da agricultura e do armazenamento de suprimentos. Isso foi por volta de 9000 a.C. na região do Crescente Fértil, no Oriente Médio. Logo os felinos também passaram a ser levados em navios como caçadores de camundongos e ratos. Foi então que eles acabaram se espalhando por quase todo o globo. Hoje, os bichanos estão em todos os continentes, com exceção da Antártida.

Em quase todas as culturas, eles eram considerados úteis e fascinantes. Muito estimados como controladores de pragas, os gatos também sempre cativaram a imaginação das pessoas por sua natureza jamais completamente domesticável.

Gatos na história cultural: do Egito ao leste asiático

No Antigo Egito, por exemplo, o gato doméstico simbolizava as qualidades positivas da deusa Bastet. Filha de Rá em forma de gato, a divindade era considerada a guardiã da casa, afastando maus espíritos e doenças.

Os egípcios, aliás, veneravam seus gatos. De acordo com os relatos do historiador grego Heródoto (490/480 – 424 a.C.), após a morte de um animal de estimação querido, eles raspavam as sobrancelhas em sinal de luto, mandavam embalsamá-lo e enterrá-lo em um vaso consagrado.

Os gatos também têm uma história longa e complexa na cultura do leste asiático, com sua presença sendo frequentemente associada a sorte, prosperidade e proteção. Não é à toa: na China, os gatos protegem as preciosas plantações de bicho-da-seda e chá de ratos e pássaros desde sua domesticação, por volta de 1400 a.C. Já no Japão, humanos e gatos só se entenderam cerca de 1.800 anos depois – por muito tempo, acreditava-se por lá que o gato tinha a capacidade de se transformar em demônio.

Maneki-Neko: o gato da sorte do Japão

Hoje, o Maneki-Neko japonês (ou “gato acenando”, em português) é onipresente – e não apenas no Japão: segundo a crença, o famoso gato com a patinha em movimento atrai sorte e riqueza. Com seu sorriso eterno, o gato da sorte já se espalhou por grande parte do globo há muito tempo, assim como os gatos na vida real.

A propósito: a pata com a qual ele acena traz diferentes significados. Segundo a tradição popular, gatos com a pata direita levantada representam gatos machos, que supostamente atraem prosperidade e boa sorte. Já um Maneki-Neko erguendo a pata esquerda é considerado uma fêmea e serve para atrair clientes e visitantes.

Gatos na Idade Média: de amuleto da sorte a bode expiatório

Mas os bichanos nem sempre gozaram de boa fama pelo mundo. Na Europa medieval, por exemplo, eles foram por muito tempo suspeitos de serem os causadores da Peste. O Papa Inocêncio 8º (1432-1492), que aparentemente abominava gatos, declarou-os oficialmente “animais pagãos em aliança com o diabo”. Por causa disso, os felinos foram atormentados, torturados e até queimados por muitos anos.

Gatos pelo mundo: onde eles são especialmente populares

Ainda que existam regiões do mundo onde os gatos são hoje, na melhor das hipóteses, apenas tolerados, eles têm se tornado cada vez mais populares como animais de estimação. A maioria dos gatos domésticos, cerca de 74 milhões, vive nos Estados Unidos, seguida pela China, com 53 milhões – o Brasil aparece na lista em sexto lugar, com 12,5 milhões de gatos. A maioria dos donos de gatos, no entanto, encontra-se na Rússia: 58% de todas as famílias russas têm um ou mais gatos.

Mas de onde vem tanto fascínio? Ao contrário dos católicos, a Igreja Ortodoxa via os gatos com bons olhos devido à sua utilidade e, assim, como símbolo de riqueza, eles se tornaram inquilinos bem-vindos em casas abastadas. Durante séculos, dezenas de gatos, a maioria machos, viveram no Museu Hermitage de São Petersburgo para manter as extensas adegas praticamente livres de roedores. Hoje, é possível inclusive “adotar” os gatos do Hermitage. Os bichanos ganham assim garantia de comida e cuidados – custos não cobertos pelo Estado russo.

Entretanto, espera-se que o grande amor da Rússia por gatos agora também beneficie o presidente russo, Vladimir Putin: ele formará uma dupla com o gato Matroskin na popular série de animação Prostokvashino, de acordo com a produtora do programa. O Kremlin, oficialmente, não tem objeções. Fiéis à sua natureza, os gatos, provavelmente, também não estão nem aí.