Horário para entrar e para sair, pressão por resultados, falta de satisfação no trabalho e reuniões que parecem intermináveis. Para muitos executivos, o custo desse dia a dia estressante é pesado demais para ter, em troca, uma relativa segurança financeira. Não por acaso, alguns deles tomaram um novo rumo, aposentaram a gravata e resolveram buscar alternativas mais prazerosas, que ao mesmo tempo se revelassem um negócio rentável. Como a gastronomia, por exemplo. ?Aquela rotina só me fazia pensar em como seria muito mais feliz longe dali?, diz o engenheiro argentino Facundo Guerra, ex-executivo do portal America Online (AOL), atualmente dono do Riviera Bar, na região da avenida Paulista, em São Paulo. 

 

89.jpg

Em busca do sonho: os diretores do grupo Chez Seba Orth (à esquerda) e Rafael Pelosini

largaram agências de publicidade para investir em bares e restaurantes

 

Cansado da vida no escritório e disposto a correr riscos, Guerra investiu em uma casa noturna paulistana, o extinto Vegas, na rua Augusta, logo depois de ser demitido da empresa multinacional em que trabalhava. Oito anos depois, ele é reconhecido como um dos grandes nomes da noite de São Paulo, dono de boates e bares moderninhos, como o Z Carniceria, Volt, Cine Joia, Lions e Yatch Club, por onde passam mais de 250 mil pessoas por mês. Mais recentemente, em setembro do ano passado, reabriu o lendário Riviera Bar, ao lado do chef Alex Atala, dono dos restaurantes D.O.M. e Dalva e Dito, em São Paulo. ?Eu sempre disse que nunca entraria na gastronomia, mas achei uma boa ideia, já que era uma parceria com o Alex?, afirma o empresário. 

 

?É uma área que dá muita dor de cabeça, ainda mais tendo de atender o público paulistano, um dos mais exigentes do mundo.? Retorno? Guerra diz não pensar nisso, por enquanto. ?Muitos homens à beira dos 40 anos sempre pensaram em abrir um bar ou um restaurante?, diz. ?A diferença é que agora as pes­soas estão se agarrando menos à ideia de que emprego garante felicidade e não se importam em correr riscos.? Guerra não é o único que trocou o escritório pela cozinha. Atentos a uma crescente valorização da gastronomia nacional por parte do público e até da imprensa internacional, um número crescente de executivos como ele pendurou o terno para investir no desafiante ramo da culinária. 

 

90.jpg

Paixão: ex-sócio de Alex Atala no prestigiado D.O.M., o empresário Marcelo Fernandes se desfez

de sua empresa de produtos de higiene para focar nos seus restaurantes

 

Alguns desses novos empresários afirmam que a decisão ainda é feita com o coração, e não com o bolso, assim como antigamente, quando a paixão pela gastronomia costumava ser uma herança de família. O negócio, no entanto, mostra-se rentável, com grupos, como o Egeu (lanchonetes e restaurantes como o General Prime Burger e o Girarrosto) e a Companhia Tradicional do Comércio (bares e pizzarias como Pirajá, Astor e Braz), que trazem uma visão empresarial para o segmento e faturam cerca de R$ 100 milhões por ano, segundo estimam especialistas do setor. Ainda novo no mercado paulistano, o grupo Chez parece estar seguindo o mesmo caminho dos gigantes do mercado. 

 

De um investimento inicial de R$ 100 mil na criação, em 2008, de um bar descolado no Largo da Batata, na região de Pinheiros, na capital paulista, os cinco sócios obtiveram uma receita de R$ 30 milhões no ano passado. Atualmente, além do Bar Secreto, os cinco sócios ? Rafael Pelosini, Seba Orth, Karina Mota, David Laloum e Lucas Mello ?, todos ex-publicitários, são donos de três restaurantes: o Chez Burger, no bairro Jardins; o Chez MIS, localizado dentro do Museu da Imagem e do Som; e o Chez Oscar, na rua Oscar Freire, um dos principais endereços do consumo de luxo paulistano. O Chez Oscar, inaugurado em dezembro do ano passado, é um megaempreendimento. 

 

91.jpg

Riscos: Dono de boates e casas de show em São Paulo, o empresário Facundo Guerra reabriu

o lendário Riviera Bar. Ele afirma não se preocupar com o retorno rápido, mas garante que trabalhar

com gastronomia é um desafio constante

 

Ocupa uma área de mil metros quadrados e quatro andares, e chega a receber mais de mil clientes no sábado, o dia mais concorrido da semana. ?A ideia, agora, é conseguir investidores para acelerar o crescimento do grupo?, afirma Pelosini, diretor-administrativo do grupo Chez. ?Queremos expandir para outros Estados e até para novos setores, como a hotelaria.? Quem também aposta na diversificação é a marca de moda carioca Reserva, que, recentemente, abriu uma hamburgueria gourmet, a T.T. Burguer, em parceria com o chef Thomas Troisgros, na Galeria River, na zona sul do Rio de Janeiro. O endereço, disputado pela clientela carioca, sugere mais uma vez que entrar na onda da gastronomia pode ser lucrativo, caso exista uma visão de negócios apurada, é claro. 

 

?Só uma boa gastronomia não é suficiente, é preciso entregar a experiência completa, com o melhor serviço possível?, afirma Pelosini. Ao contrário dos sócios do grupo Chez, o empresário Marcelo Fernandes só quer saber da área da gastronomia. Ex-sócio de Atala, no D.O.M., Fernandes chegou a se desfazer de sua empresa de distribuição de produtos de higiene e descartáveis para se concentrar no ramo da culinária. Atualmente, ele é proprietário de seis restaurantes em São Paulo (a Mercearia do Francês, de comida francesa, com três unidades nos bairros de Higienópolis, Moema e Perdizes; o japonês Kinoshita e o italiano Attimo, na Vila Nova Conceição; e o espanhol Clos de Tapas, também em Moema). 

 

Fernandes já se prepara para mais uma inauguração este ano, na mesma linha do Attimo, além de um bar/bistrô japonês. ?Herdei essa paixão do meu avô materno, que já teve restaurante e mercearia?, afirma. Algum arrependimento? Nada disso. ?Mui­tas vezes eu me comparei ao meu irmão, bem-sucedido no banco em que trabalha, mas acho que fiz a escolha certa, pois tenho mais trabalho e responsabilidade, mas também ganho em prazer?, diz ele, que passou a noite anterior da entrevista à DINHEIRO degustando o novo cardápio de seu restaurante espanhol. Fernandes planeja expandir suas bandeiras por outras cidades. Afinal, juntos, seus estabelecimentos faturam cerca de R$ 800 mil por mês. Nada mal para quem afirma fazer o que ama.

 

> Siga a DINHEIRO no Twitter 

> Curta a DINHEIRO no Facebook