28/08/2002 - 7:00
A cena aconteceu há exatos dois anos no bairro da Saúde, em São Paulo. O empresário Arnoldo Figueiredo estava saindo para almoçar e, ao chegar à calçada em frente a sua empresa, um Gol estacionado a poucos metros arrancou e, de dentro do veículo, um homem disparou tiros contra Figueiredo. A morte foi imediata. As investigações caíram em um impasse e o crime continua sem solução. O assassinato interrompeu bruscamente a vida de Figueiredo, mas despertou uma desconhecida vocação empresarial de uma mulher. Sem herdeiros prontos para assumir os negócios, a viúva Renata tomou as rédeas da companhia, a RevPlast, fabricante de tintas de textura especial. Em momento algum, ao longo dos 45 anos de vida, Renata havia se sentado atrás de uma mesa de trabalho. Apesar do diploma em Administração pela FGV, ela nunca havia dirigido qualquer organização além de sua própria casa. De uma hora para outra, foi guindada à presidência de uma empresa que concorria com gigantes como Suvinil e Sherwin Willians. Desde então, Renata promoveu uma profunda reviravolta nos rumos da RevPlast. Transferiu a fábrica para uma unidade moderna em Ribeirão Preto, profissionalizou a equipe de vendas e lançou produtos. O faturamento subiu 25% e bate, segundo estimativas do mercado, em R$ 1,2 milhão por mês. ?Não sabia mexer em computador e sequer conhecia o processo de fabricação?, confessa. ?A travessia foi dura e várias vezes pensei em vender o negócio.?
Mas Renata era mãe de três filhos e ganhou a responsabilidade
por outros tipos de órfãos: os 45 funcionários da RevPlast.
Por isso, sua saga começou apenas três dias após a morte do marido. Desembarcou nos escritórios, reuniu gerentes e garantiu
a continuidade da RevPlast. Sua segurança seria menor, caso conhecesse a situação da empresa. O maior desafio foi enfrentar
a ?presença? de Arnoldo. Empreendedor intuitivo, ele criara a empresa a partir do zero. Tudo girava em torno dele. Qualquer decisão só era implantada depois de sua palavra final. Planejamento de vendas, fluxo de caixa, estratégia ? tudo, absolutamente
tudo, estava arquivado na memória de Figueiredo. ?Ele era onipresente na gestão?, diz Renata. ?Tudo era decidido por ele.?
Esse estilo levou a situações desesperadoras. Certo dia Renata recebeu a visita de um fiscal da Cetesb. Há um ano, ele pedira o fechamento da fábrica na Saúde, pois a região tornara-se residencial. O tempo estava se esgotando. Renata ergueu a
fábrica de Ribeirão Preto a toque de caixa.
A informalidade de Figueiredo na contabilidade também provocou dores de cabeça. ?Volta e meia, surgia alguém dizendo que havia uma dívida a pagar?, diz ela. Às vezes, o queixoso tinha razão. Em outras, não. Para quitar uma delas, vendeu um carro. ?Se fosse hoje, eu não pagaria, pois tenho dúvidas se a dívida realmente existia.? A desconfiança dos funcionários também era grande, sobretudo diante das propostas de organização do trabalho. ?Os resultados diminuíram as resistências?, diz ela. Com a casa em ordem, Renata lançou produtos (látex e massa corrida), criou uma tabela de preços, modernizou o logotipo e dá os últimos retoques em um show- room em São Paulo. ?Meu grande mérito foi profissionalizar a empresa?, diz ela.