Tudo indica que, enfim, o Brasil terá seus representantes no Guia Michelin, a bíblia dos restaurateurs de todo o mundo. E não se trata de nenhum mestre-cuca da moda. Quem promete brilhar na cozinha do classudo Hostellerie La Briquetterie, restaurante da região de Champagne, na França, são a manga e o abacaxi. Isso porque as duas frutas, das mais comuns do Brasil, caíram nas graças do chef belga Michael Nizzero, encarregado das caçarolas do Briquetterie, que visitou o País no fim do ano passado. 

 

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No roteiro, o chef – dono de uma estrela no guia francês – esteve no Mercado Municipal de São Paulo, de onde saiu extasiado com o sabor das iguarias. “Já havia experimentado antes, mas na França a manga não tem o mesmo frescor da fruta brasileira”, disse Nizzero, que gostou também do palmito natural e do limão-tahiti. Da admiração à ação, foi um pulo. No dia seguinte à visita ao Mercadão, Nizzero incorporou as duas frutas ao seu menu: a manga passou a acompanhar a casquinha de siri e os abacaxis viraram molho, misturados ao champanhe, para temperar o robalo.

 

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Tropicalização: cubos de abacaxi no molho do robalo ao champanhe,

uma das adaptações do chef Michael Nizzero

 

DESCOBERTA A missão do belga em terras brasileiras era provar ingredientes e pratos típicos para incorporar às suas receitas. Segundo Marcelo Pinheiro, chef do restaurante Tarsila e cicerone do colega famoso, essa vem sendo apontada como uma das saídas para manter a popularidade da gastronomia francesa inclusive nas mesas de lá. “Este intercâmbio entre as culinárias é o segredo para se manter no ramo”, afirma Pinheiro. 


“Se você parar no tempo, corre o risco de ter de fechar seu estabelecimento.” Para Nizzero, os pratos clássicos franceses, quando elaborados com ingredientes produzidos em outro país, costumam adquirir um sabor diferente do original. “E isso é ótimo! Cada país tem as suas particularidades de sabor, o que só enriquece ainda mais a gastronomia mundial”, diz o chef, que virou fã do caldinho de feijão e da moqueca capixaba. Só se enrolou na hora de pronunciar bem o nome do prato. “Ca-pi-xxxaba?”