27/10/2020 - 11:27
Seja para pagar uma passagem de avião, a conta de luz, ou o supermercado, o aplicativo de pagamento Alipay, cujo proprietário Ant Group teve a maior largada da história na Bolsa, tornou-se quase indispensável na China.
Tao Rui, um engenheiro aeronáutico de 22 anos que vive em Xangai, não larga seu celular nem por um minuto.
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Durante uma recente visita à cidade, ele usou o Alipay para comprar um chá com leite, almôndegas de polvo, para jogar em um salão de jogos, ou para dar dinheiro a um artista de rua.
Pela noite com seus amigos, jantou duas tigelas fumegantes de macarrão japonês. A conta foi paga escaneando um código QR… do Alipay.
Esses exemplos dão a ideia da importância do grupo Ant (filial da gigante do comércio eletrônico Alibaba) na China e de sua iminente entrada recorde na Bolsa (US$ 34 bilhões).
E Tao Rui admite: a vida sem o Alipay seria mais difícil.
Mesmo que o dinheiro em notas continue sendo utilizado na China, o Alipay se tornou “indispensável”, opina este jovem.
– “Moedinha” eletrônica –
O grande crescimento da Ant animou os investidores.
O Alipay afirma ter 731 milhões de usuários mensais – metade da população da China – e se tornou um símbolo da economia do futuro.
Dos caixas de mercado às entradas do metrô (que leem os códigos QR), passando por moradores de rua que pedem “uma moedinha” eletrônica, essa revolução atingiu todas as esferas.
“Pagamos tudo com o Alipay, que desconta diretamente o valor”, inclusive as contas de água, ou de luz, explica Tao Rui. “Não é preciso sair, tudo pode ser feito em casa”, completa.
O aplicativo vai além do simples sistema de pagamentos. É um verdadeiro ecossistema que abriga a multidão de vendedores externos, como entregadores de comida, agências de viagem, ou bicicletas de aluguel.
O Ant Group explica que metade de sua renda é gerada pelos provedores externos, embora os serviços financeiros também sejam outra fonte importante, como empréstimos para particulares, ou para empresas.
– Dados pessoais –
Embora o crescimento chinês tenha sido exponencial durante os últimos 40 anos, sustentava até recentemente um modelo considerado frágil pelo Estado: a indústria manufatureira e o investimento público.
A mudança para o comércio e para os serviços on-line é incentivada pelo governo, já que permite aumentar o poder aquisitivo dos cidadãos, uma maneira que o Partido Comunista encontrou de se legitimar no poder.
A presença do Alipay na vida cotidiana pode criar, no entanto, problemas em relação à gestão dos dados pessoais.
O Ant pediu desculpas em 2018 por ter inscrito os usuários contra sua vontade em seu sistema de qualificação, Zhima Credit.
O Zhima Credit analisa os comportamentos de compra e venda on-line e qualifica a reputação dos internautas. Na China, foi o precursor do “crédito social”, um vasto sistema de análise de dados e vigilância, criado pelas autoridades para incentivar empresas e cidadãos a terem uma conduta íntegra.
Já Tao Rui tem apenas uma crítica a fazer ao Alipay: o aplicativo se tornou indispensável. Rui teve inclusive problemas quando seu celular ficou sem bateria.
“Agora levo também algum dinheiro comigo”, explica. “Pelo o que possa acontecer”.