Segurança e foco no longo prazo. Esses são os dois pilares que sustentam as estratégias das investidoras brasileiras de classe média alta. São eles que levaram mulheres, como a advogada tributarista mineira Fabiana Lopes Pinto, 38 anos, a escolher o mercado imobiliário na hora de investir. Morando e trabalhando em São Paulo há mais de 15 anos, ela mantém 75% de seu patrimônio imobilizado. “Levo bronca de meus consultores financeiros todos os dias pela falta de liquidez da minha carteira, mas ainda acredito que a única modalidade capaz de acompanhar o valor do dinheiro no tempo é o imóvel”, diz. Segundo Fabiana, investir em ações ou em fundos requer mais tempo e disponibilidade por parte do investidor. 

 

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“Prefiro um investimento mais sólido, menos arriscado, que me garanta uma renda na aposentadoria e uma proteção para meus filhos”, afirma a advogada, casada e grávida de nove meses da primogênita, Maria Fernanda. Ela não está sozinha. Uma pesquisa da consultoria paulista Quorum Brasil, realizada especialmente para a DINHEIRO, mostra que, em 2012, uma em cada cinco mulheres investia em imóveis. Em 2013, essa relação passou para uma em cada três mulheres, colocando o investimento imobiliário entre as preferências delas. Segundo Cláudio Silveira, sócio-diretor da consultoria, o atual cenário da economia, as novas regras para a poupança e as baixas taxas de juros alertaram as investidoras de que era preciso correr um pouco mais de risco nas aplicações financeiras. 

 

“Mesmo assim, elas preferem investimentos mais palpáveis e tangíveis, como os imóveis”, afirma Silveira. Mais da metade das mulheres entrevistadas acredita que os imóveis estão entre as melhores alternativas atualmente. “Como têm uma visão de longo prazo, elas consideram rentáveis aqueles investimentos que garantam segurança no futuro, renda na aposentadoria ou herança para os filhos”, diz. Rogério Santos, CEO da RealtON, ponta de estoque de imóveis novos, o número de interessadas nas casas e apartamentos cresceu cerca de 30% no último ano. “Esse mercado costuma ser bastante procurado em épocas de incerteza econômica”, afirma Santos. 

 

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A advogada Fabiana Lopes Pinto: preferência por uma aplicação sólida, que garanta

renda na aposentadoria e proteção para os filhos

 

“Como as mulheres são menos imediatistas do que os homens, a modalidade tem sido uma excelente alternativa em épocas de juros mais baixos e crise global.” Apesar do baixo risco e da valorização dos últimos anos, os especialistas afirmam que esse investimento exige uma análise criteriosa por parte do investidor. Os preços da maioria dos lançamentos deverão subir mais devagar do que nos últimos anos, o que afeta diretamente o retorno da aplicação. Segundo o índice FipeZap, indicador de preços de imóveis produzido em parceria entre a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e o site Zap, o metro quadrado dos usados valorizou-se 13,7% em 2012, bem acima dos índices de inflação. 

 

Para comparar, o IGP-M registrou um aumento de preços de 7,82% e o IPCA cravou 5,84%. Em 2011, a alta média do preço dos imóveis no Brasil havia sido ainda maior, de 26,3%. “Em 2013 haverá mais equilíbrio entre oferta e demanda, o que deverá estabilizar os preços”, afirma Santos. Segundo a pesquisa da Quorum Brasil, além de se preocupar com o risco da aplicação, as mulheres consideram, também, os impostos e taxas que incidem sobre a aplicação. “Elas valorizam o que ganham e buscam a melhor relação entre risco, retorno e tributação”, diz Silveira. 

 

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Luiz Calado, consultor: “que mulher não gostaria de ser dona

de um pedaço de um shopping?”

 

Para Luiz Calado, especialista no mercado imobiliário, uma opção seria aplicar em fundos de investimentos imobiliários. “Dá para ter retorno com valorização da cota, com aluguéis e ainda ser isento de Imposto de Renda”, afirma. “Que mulher não gostaria de ser dona de uma parte de um shopping?”, diz Calado, referindo-se a fundos que têm títulos lastrados em grandes centros comerciais na carteira. Uma das conclusões surpreendentes da pesquisa é a grande popularidade das cadernetas de poupança, que lideram na preferência das investidoras, embora sua rentabilidade não tenha nem sequer compensado integralmente a corrosão da inflação, nos últimos tempos. 

 

Segundo Silveira, a explicação é de que as investidoras não abrem mão de mover-se em terrenos conhecidos. “A investidora não gosta de pisar em solo estranho”, diz ele. Daí a baixa popularidade de fundos e de ações, que aparecem como alternativa para pouquíssimas das entrevistadas. “Cabe ao mercado perceber os temores e as necessidades dessas clientes”, afirma Waldeli Azevedo, consultora financeira do programa Finanças Práticas, da Visa. Mesmo assim, as mulheres têm conquistado seu espaço e buscam formas de garantir seu futuro e dos seus familiares. A pequena Maria Fernanda, que está para nascer, agradece.

 

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