30/08/2006 - 7:00
Depois de liderar o mercado brasileiro de jóias e relógios e se enveredar pelos setores de construção, imóveis e tecnologia, o grupo Seculus, de Belo Horizonte, está estreando no segmento bancário. Recentemente e sem muito alarde, como é de costume entre os mineiros, o grupo criou o banco Semear. À frente da instituição está Élcio de Azevedo, um dos herdeiros do conglomerado fundado em 1960, atualmente com 16 empresas. O objetivo de Azevedo é explorar um mercado em franca ascensão: o de crédito consignado. O saldo de empréstimos com desconto em folha cresceu 84,3% em 2005. No primeiro trimestre deste ano, o avanço foi de 9,9%, alcançando R$ 15 bilhões. Sem rede de agências, o modelo de negócio que Azevedo quer adotar em seu banco é o de correspondentes bancários. Inicialmente, dará crédito para aposentados do INSS e, depois, para funcionários públicos de todo País.
Com a criação do banco Semear, a família Azevedo inicia uma nova geração de banqueiros do Estado de Minas Gerais, reconhecido pela tradição financeira. Não são raros os bancos fundados por mineiros que se destacaram por algum motivo no cenário nacional. Entre eles estão o Unibanco, da família Moreira Salles, o Real, fundado por Aloysio Faria, o BMG, da família Pentagna Guimarães, e o Rural, criado pela família Rabello. Se o Semear, dos Azevedo, crescerá como seus conterrâneos, só o tempo dirá. Afinal, entrar no mercado de crédito consignado já não é uma tarefa fácil.
Embora esteja lançando seu primeiro banco, a família Azevedo não é exatamente uma debutante no mercado financeiro. O grupo Seculus já atuava na área por meio de uma financeira e de uma empresa de previdência, a RS Previdência. Esta última, administrada em sociedade com o Banco Rural, foi envolvida no escândalo do mensalão e acusada de fazer remessas ilegais de dinheiro para o Exterior. Tal acusação rendeu a Azevedo a quebra do seu sigilo bancário, determinada pela CPI que apura o episódio no Congresso.
Na tentativa de se desvincular do caso, o grupo Seculus vendeu, recentemente, a sua parte na RS Previdência para o Banco Rural. Agora, pretende começar uma nova história no mercado financeiro com o banco Semear. Além do empréstimo consignado, oferecerá crédito pessoal, descontos de cheques e duplicatas. A idéia de atuar como banco múltiplo surgiu há dois anos, quando o grupo comprou o banco mineiro Emblema ? com patrimônio de R$ 41 milhões e que estava sob intervenção do Banco Central. Segundo informações do mercado, a família Azevedo injetou cerca de R$ 5 milhões na instituição. De lá para cá, fez alguns ajustes e começou a organizar a nova operação. Faltava apenas o aval do BC para a mudança do nome. A autorização saiu em março deste ano, quando nasceu oficialmente o banco Semear.
A julgar pela persistência da família nos negócios, Azevedo vai dar duro para se destacar no mercado. Desde que seu pai perdeu seu pequeno comércio, a sobrevivência da família ficou sob responsabilidade dos irmãos mais velhos, que começaram a vender quadros de santos e terços. Daí para a fabricação de correntinhas e, mais tarde, jóias foi um salto. O grupo cresceu discretamente e se tornou uma das maiores joalherias do País.