29/03/2006 - 7:00
O setor aéreo brasileiro pode ser dividido em
dois grupos. De um lado estão as gigantes TAM, Varig e Gol que cobrem as grandes cidades e também operam fora do País. No outro aparecem as empresas de porte médio que tentam crescer ?roubando? passageiros das concorrentes. É o caso da BRA e da Ocean Air. O empresário Urubatan Helou, 54 anos, preferiu apostar em um terceiro nicho. Trata-se dos vôos regionais ligando as cidades de médio porte das regiões Sudeste e Centro-Oeste, que se consolidaram como pólos de desenvolvimento agrícola e industrial. Dono do Grupo H&P ? que reúne as transportadoras Braspress, Rodex, Aeropress e Digilog ?, Helou está debutando na aviação com a Air Minas. A companhia pertencia ao mineiro Clésio Andrade, que embolsou R$ 7 milhões na transação. Helou chega com muita disposição para a briga. Investiu R$ 3 milhões na contratação e treinamento dos 42 funcionários e na instalação de check-in e salas vips em aeroportos. Também arrendou duas aeronaves, aumentando a frota da Air Minas para três EMB 120, da Embraer. Essa modesta estrutura, diz ele, é suficiente para gerar um faturamento de R$ 100 milhões no primeiro ano.
Para atingir tal objetivo, o dono do grupo H&P, cuja receita anual soma R$ 300 milhões, conta com alguns trunfos. O primeiro deles é o planejamento de rotas. No dia 21 de abril, um EMB com o logotipo da Air Minas decola do Aeroporto de Congonhas (SP) com destino a Belo Horizonte (MG). Antes, porém, fará escalas em Varginha e Divinópolis (ambas em Minas). ?São cidades importantes que foram negligenciadas pelas grandes companhias?, justifica Helou. Em terra, os clientes terão direito a bufê com pratos quentes, uísque, suco e cafezinho. Em contrapartida, o serviço de bordo será espartano. Cada trecho nessa rota custará R$ 380. Valor considerado ideal para rentabilizar a operação, avisa Helou, sem comprometer a rentabilidade. ?Não vou entrar em guerra de tarifas apenas para atrair passageiros?, avisa. A Air Minas quer outros destinos como São Paulo-Goiânia, passando por Ribeirão Preto (SP), Catalão, Rio Verde e Goiânia (todas em Goiás). A escolha do EMB 120 deve-se à versatilidade da aeronave que transporta 30 pessoas, pousa em pistas pequenas e tem um baixo custo de manutenção. É a melhor opção para o plano de vôo de Helou. ?Se quisesse, poderia adquirir 10 Boeings. Tenho patrimônio para isso?, garante.
Quem conhece a trajetória de Helou sabe que não se trata de bravata. Afinal, seu conglomerado empresarial surgiu literalmente do zero. O ponto de partida foi a Transfilm, criada no início da década de 70. Nascido em Uberlândia (MG), ele foi tentar a sorte em São Paulo. Se instalou em uma pensão no centro da cidade e saiu em busca de trabalho. Viu que poderia ganhar dinheiro fazendo entregas expressas de pacotes e pequenas cargas na região. O grande salto foi contrato com os produtores de filmes da ?Boca do Lixo?, a meca da pornochanchada. Ele retirava os rolos de filmes dos estúdios e os entregava na rodoviária para serem despachados para o Rio de Janeiro. Helou economizou cada centavo e em pouco tempo comprou um telefone, uma kombi e uma caminhonete usadas, que deram origem à Braspress.
Por isso, quando questionado se não tem medo de ser abatido em pleno vôo ? como aconteceu com a Nacional, a Passaredo e outras tantas que seguiram essa trilha ? Helou é categórico: ?Não entro em nenhum negócio para perder?. Além de diversificar as atividades do Grupo H&P, a Air Minas supre um antigo desejo do dublê de empresário e esportista. Helou tem brevê para pilotar helicóptero e avião e já competiu nas fórmulas Ford e 3, sagrando-se bicampeão paulista. Nas pistas, deixou para trás Christian Fittipaldi e Constantino Jr. (herdeiro da Gol). Agora, Helou quer mostrar que é bom também no céu.