07/12/2005 - 8:00
Para os estudantes, Jorge Gerdau, é um parceiro de primeira hora. Montou 250 bibliotecas em escolas públicas do País e investiu em cursos profissionalizantes e de geração de renda. No total, vai aplicar R$ 45 milhões neste ano. Esses são apenas três exemplos de expoentes do mercado corporativo que abraçaram causas sociais com a mesma vitalidade com que comandam seus impérios. A eles, juntam-se outros sete notáveis numa lista elaborada por DINHEIRO para destacar os maiores incentivadores de projetos relacionados ao terceiro setor. São homens e mulheres que, doando do próprio bolso ou atuando como captadores de recursos, movimentam milhões para fazer o bem. ?A vontade de entender esse ofício chamado terceiro setor é crescente, principalmente entre os empresários?, diz Olavo Monteiro de Carvalho, que está criando na Associação Comercial do Rio de Janeiro, da qual é presidente, uma espécie de Conselho social.
Grande parte do crescimento das atividades sociais no Brasil se deve ao engajamento de empresários. Mais que distribuir a fortuna em causas nobres e ficar de bem com a consciência, a prática, hoje, tem reflexos imediatos na imagem e no ganho das empresas. Em suma, a coisa agora é tratada como negócio. ?Para as empresas, só é possível crescer num ambiente favorável. Não dá para ir bem num País que vai mal?, diz Fábio Barbosa, presidente do Banco Real, que investiu R$ 21 milhões em programas sociais em 2004. ?O desenvolvimento econômico puro e simples não garante nada. Ele tem que andar de mãos dadas com o desenvolvimento social?, endossa Rosangela Quilici, diretora do Instituto Pão de Açúcar. Segundo ela, a rede de Abílio Diniz estabeleceu quatro critérios para atingir sua meta de ser a empresa mais admirada do Brasil: rentabilidade, inovação, eficiência e responsabilidade social. O Pão de Açúcar é um bom termômetro para medir a evolução das atividades do terceiro setor. Em seu primeiro ano de vida, 1998, o instituto investiu R$ 2,3 milhões. Em 2005, já são R$ 12 milhões. E no total, a rede aplicou R$ 76 milhões no social, beneficiando 54 mil pessoas. O alvo é educação. Hoje, existem seis centros educacionais em quatro estados. Até 2012, o projeto vai se expandir para 15 estados.
No Brasil, a força da filantropia ainda está muito ligada ao poder financeiro das empresas. Na maioria das vezes, é o ganho das companhias que possibilita recursos para as atividades sociais. Nos EUA, o setor caminha de outra forma. Existe pressão para que as empresas não façam filantropia, pois suas função primordial, aos olhos da sociedade, é dar rentabilidade aos acionistas. E como fica o terceiro setor? Nas mãos das pessoas físicas. É o investimento social privado. Ou seja, ele tem que ser feito de forma individual, a partir dos ganhos pessoais do empresário. Bill Gates, por exemplo, criou a fundação Bill e Melinda Gates, onde joga todas as suas ações particulares da Microsoft. É a rentabilidade dessas ações que alimenta os projetos da fundação. Por aqui, as iniciativas de pessoas físicas se dão por meio de eventos captadores de recursos.
Nesse universo destaca-se Milú Villela, maior acionista isolada do Banco Itaú e coordenadora das ONGs Faça Parte e Centro do Voluntariado. Milu costuma organizar eventos e leilões para levantar recursos. Só em 2005 foram
R$ 23 milhões. Milú é considerada uma das embaixadoras nacionais do bem. A outra é Viviane Senna, que preside o Instituto Ayrton Senna. Ambas atuam de forma parecida, servindo de mobilizadoras de projetos sociais. Seus principais ativos para alavancar dinheiro são seus nomes e suas poderosas redes de contatos. Viviane, no entanto, não sai passando o pires no mercado. Ao criar o Instituto Ayrton Senna, a idéia era só trabalhar com recursos próprios, vindos do licenciamento da marca Ayrton Senna. ?Mas as empresas passaram a nos procurar e por conta disso pudemos duplicar nossa força de atendimento?, conta Viviane. Sua organização investiu R$ 22 milhões este ano em programas ligados à educação. Metade disso arrecadada junto a 14 empresas como Audi, Nokia, Microsoft, IBM, Credicard, entre outras. A outra metade dos recursos vem do próprio Instituto. ?Essas pessoas têm uma enorme capacidade de agitar a sociedade em prol das causas que abraçam?, destaca Oded Grajew, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos. Ele mesmo é uma espécie de agitador social. Hoje, o Ethos é uma potência que reúne 1,1 mil empresas associadas. Juntas, elas respondem por 35% do PIB. O orçamento do instituto é de R$ 8 milhões. A ação dos mobilizadores acabou contagiando até mesmo quem estava acostumado a atuar na outra ponta, como doador. Antonio Ermírio de Moraes, que além de aplicar R$ 12 milhões nas áreas de educação e geração de renda, por meio do Instituto Votorantim, ajuda a administrar o Hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo. De quebra, aproveita seu prestígio para inspirar seus pares a não só colaborar no dia a dia mas também a investir na instituição. E um pedido feito por Antonio Ermírio é quase uma convocação.
Na lista dos benfeitores individuais um nome que também não pode ficar de fora é Jorge Paulo Lemann. O megainvestidor, um dos donos da Ambev, mantém uma fundação que leva o nome da família. São US$ 3,6 milhões destinados a educação de qualidade e o desenvolvimento de jovens talentos. Aloysio Faria é outro do time que investe silenciosamente no social. O dono do Grupo Alfa aplicou pesado na faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Foram R$ 12, 3 milhões para a reforma e modernização do centro de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas, localizado dentro da faculdade. Na mesma trilha de discrição segue Lilly Safra. O mercado calcula que os projetos sociais tocados pela viúva do banqueiro Edmond Safra movimentem R$ 10 milhões por ano. Lilly investe em educação infantil e cultura. Os empresários descobriram, enfim, que o social não só dá retorno como é necessário para bem de seus negócios. Ou, como diz Viviane Senna, ?é a lógica capitalista aplicada ao desenvolvimento do País?.
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500 mil Ongs atuam no Brasil 276 mil voltadas exclusivamente ao terceiro setor 1,5 bilhão de pessoas trabalham em instituições sociais R$ 17 bilhões é quanto movimentam anualmente os projetos sociais no Brasil |