cada três meses, sempre em um domingo à noite, um rabino desembarca na cidade de Erexim, interior do Rio Grande do Sul. No dia seguinte interna-se na fábrica da Peccin, uma fabricante de balas local, acompanha cada passo da produção dos doces e guloseimas e certifica-se de que o processo respeita os preceitos dos alimentos kosher, consumidos pelos judeus ortodoxos. Nenhuma substância de origem animal pode ser utilizada. Graças a essas visitas, a Peccin pode exportar seus produtos para países com grandes comunidades judaicas, como EUA e, claro, Israel.

O mercado internacional foi um dos caminhos escolhidos pela pequena Peccin, controlada pela família Pezzin, para enfrentar a concorrência dos pesos pesados que atuam no setor de doces, como Nestlé, Kraft e a argentina Arcor. ?Nossa empresa produz conforme o gosto e a cultura do consumidor. Os EUA, por exemplo, também saboreiam balas mais ácidas, então a Peccin produz?, diz Dirceu Pezzin, presidente da empresa. O que durante muito tempo foi considerado uma desvantagem (o tamanho da empresa) se transformou na grande arma de Pezzin para encarar os gigantes do mercado. Dificilmente uma grande companhia teria flexibilidade para adaptar seus processos a exigências específicas, como a presença de um rabino.

A virada aconteceu a partir de 1985, quando Dirceu assumiu o comando da empresa, fundada em 1956 pelo pai Ourélio e pelo tio Clemente. A primeira ação de Dirceu foi promover um recuo estratégico. Em vez de produzir diversos tipos de produtos, a Peccin concentrou-se em apenas um, as balas mastigáveis, uma novidade absoluta no Brasil daqueles tempos. ?Foi a forma que encontrei para desenvolver a marca?, conta Dirceu. Deu certo. Desde então, a fábrica cresceu. A produção hoje está em torno dos 170 mil quilos por mês, contra 100 mil quilos em 1985. O faturamento também deu saltos: em 1999, eram R$ 36 milhões, só no mercado interno. Em 2002, as receitas chegaram a R$ 75 milhões. Para este ano, a previsão é de R$ 100 milhões. Além disso, a Peccin colhe mais
US$ 5 milhões no exterior, graças a vendas para cerca de 65
países. O lucro, porém, é modesto.Em 2001 foi de R$ 4,5 milhões, caindo para R$ 1,5 milhão em 2002.

A fórmula utilizada por Dirceu em seus primeiros tempos de presidência nunca mais foi abandonada. Desde então, a empresa lança produtos pioneiros, ou quase pioneiros. Pirulitos redondos recheados de chiclete, pirulitos planos com formatos de monstros e até pirulitos recheados com pó efervescente fizeram sucesso entre a criançada. Outro lançamento deste ano foi o chiclete com formato de urso,
Bat-Bat urso, que representa 20% do faturamento na linha de chicletes.?A empresa tem um desafio: lançar pelo menos um tipo de produto com algum diferencial por ano. Há 5 anos estamos conseguindo cumprir esta meta?, conta Dirceu.

Quando a inovação não basta, Dirceu parte para a guerra de preços. Certa vez, promoveu a venda de duas unidades de seu chiclete com recheio líquido pelo preço de uma unidade. O alvo era o chiclete concorrente Babaloo, que se transformava numa febre entre a molecada. ?Graças a isso, mantivemos nossa participação. Sempre
há uma saída?, conclui.