14/07/2001 - 7:00
Se a argentina Arcor queria um bom motivo e um bom momento para deflagrar um ambicioso projeto de expansão internacional, a hora chegou. Com seu país curvando-se sob o peso de uma das crises econômicas e políticas mais agudas de sua história, a fabricante de guloseimas resolveu, finalmente, zarpar. No comando do conglomerado está Luis Pagani, principal acionista da empresa e filho do fundador Fulvio Pagani. Aos 50 anos de vida, US$ 1,1 bilhão de receita e com o status de grande conglomerado portenho, a Arcor se prepara para lançar ações em quatro bolsas de valores ? Buenos Aires, São Paulo, Nova York e Santiago. ?Em três ou quatro anos, 25% do capital da empresa será aberto?, antecipa Pagani a DINHEIRO. Com esse processo, o empresário pretende levantar recursos mais baratos do que os oferecidos pelo sistema financeiro, capitalizar a empresa e formalizar uma aliança com uma rival européia ou americana. ?Essa é a única alternativa para a Arcor se consolidar como uma marca global?, diz ele.
Não é de hoje que Pagani planeja vôos altos para a Arcor. Na última década, ele abriu mercados e transformou a empresa em uma das poucas multinacionais de seu país. A Arcor aplicou, no período, quase US$ 1 bilhão na implantação de novas unidades, na modernização das indústrias e na incorporação de tecnologia. Com esse esforço, se estendeu a 105 países e criou uma linha de produtos com mais de 1.500 itens. Hoje, a empresa ocupa a 13ª posição na lista dos 100 maiores fabricantes mundiais de guloseimas, segundo a revista Candy Industry ? uma das mais respeitadas do setor. A performance rendeu o respeito de rivais como Nestlé, Philip Morris, Danone e foi objeto de pesquisa feita da consultoria Booz-Allen Hamilton. O estudo serviu de base para a abertura de capital.
Mesmo com números tão generosos, o presidente não se dá por satisfeito. ?A Arcor precisa ser mais competitiva?, analisa. Para isso, promete ampliar as operações na América Latina e reforçar negócios na Ásia. Primeira medida: reduzir sensivelmente a dependência da Argentina. Lá, a Arcor é hoje uma das maiores empregadoras ? oito mil funcionários, contra dez mil da petroquímica YPF. Da matriz, saem 65% da receita da companhia. ?O país já representou 90%. Nossa meta é obter 50% do faturamento com a Argentina e o restante com as operações espalhadas pelo mundo?, observa Luis. Até 2005, ele terá
tempo para preparar a companhia, abrir o capital e negociar uma aliança com uma indústria concorrente. Alguém já se candidatou? Luis responde com outra pergunta: ?Temos um tamanho
considerável e chances concretas de crescer na
América Latina. O que você acha??.
Nesse processo de atrair parceiros de peso, o empresário credita ao Brasil um dos papéis principais. ?É nosso principal mercado depois da Argentina?, conta Luis. Instalada desde 1981 no País, a Arcor ampliou os investimentos por aqui nos últimos anos. Inaugurou uma fábrica no interior paulista, reforçou a distribuição e aumentou a linha de produtos. A filial conquistou parcelas expressivas de segmentos de balas (50%) e de chicletes (16%). No mercado de chocolates, a fatia é tímida, de 1,7%. Mas em nichos como os de confeitos e artigos da Páscoa, já elevou a participação para respectivos 5,1% e 5,5%. No ano passado, a companhia vendeu no Brasil R$ 215 milhões. Para 2001, a receita deverá ser de R$ 270 milhões. ?Somos aguerridos. Vamos crescer ainda mais?, frisa Sérgio Asis, presidente da Arcor do Brasil. O ?chefe? argentino Luis Pagani aprova a garra brasileira.