No Brasil, apenas cinco entre dez empresas conseguiam completar o primeiro ano de vida na década de 80. Tratava-se de uma das taxas de mortalidade empresarial mais elevadas do planeta. Quando montou a Cacau Show, fabricante de chocolates, em 1988, tudo que Alexandre Tadeu da Costa, então com 17 anos, pensava era não engrossar a estatística dos que ficavam pelo caminho. 

 

Afinal, ele escolheu para atuar um setor que é dominado por marcas tradicionais tanto no segmento industrial como no artesanal, como Nestlé e Kopenhagen. E no qual um nome sólido pode fazer muita diferença. Mas Costa foi além da sobrevivência. Bem além. 

 

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Até o fim do ano, seu negócio deverá entrar no seleto grupo de companhias com faturamento anual superior a R$ 1 bilhão, incluindo a receita das revendas. Além disso, superou, em número de lojas, a americana Rocky Mountain, considerada referência de franquia nessa área. 

 

A Cacau Show tem mil unidades, recém-alcançadas, ante 349 da americana. No sábado 13, Costa comemorou o marco em uma festa, realizada em São Paulo, que reuniu 1.500 pessoas.  Qual foi a receita do sucesso da empresa? Costa não cita um único motivo, mas deixa claro que a obsessão em atingir objetivos predeterminados foi fundamental: “Este ano abrimos duas lojas a cada três dias.

 

Eu queria alcançar a meta de  mil franquias em 2010 e conseguimos. Quando há uma meta clara e um time talentoso e disciplinado é possível ter alinhamento”, diz Costa à DINHEIRO. “O sonho de certa forma é um norte. E quando se sabe aonde quer chegar é mais fácil caminhar.”

 

O empreendedor soube enxergar espaço no mercado. Não havia opções intermediárias entre as marcas sofisticadas e os produtos populares. A Cacau Show, então, preencheu essa lacuna. E, para crescer, lançou mão de um modelo consagrado por empresas de cosméticos: a venda porta a porta. 

 

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Aposta no visual: embalagens mais caprichadas e maior variedade de produtos. 
Esses foram os ingredientes que ajudaram a Cacau Show, de Alexandre Costa, a crescer

 

Entre 1988, data de sua fundação, e 2001, quando foi aberta a primeira loja em Piracicaba (SP), a grande força de marketing da Cacau Show foi a propaganda boca a boca feita pelas consultoras. Hoje, essa modalidade colabora com uma parcela ínfima das receitas. 

 

“Conheço poucos produtos cujo desempenho é bom em todas as classes sociais”, destaca o consultor Marcelo Cherto, presidente do Grupo Cherto, especializada em gestão e marketing. Essa vantagem competitiva, no entanto, pode se revelar uma fraqueza. “No futuro, ele terá de fazer uma escolha e definir melhor seu público. E isso sempre implica perdas”, diz Cherto. 

 

De certa forma, Costa já está definindo, desde agora, a receita para construir o futuro da companhia. Consolidada a marca no Brasil, seu objetivo é se associar a alguma empresa da Bélgica – considerada a pátria do chocolate fino. “Vou usar parte do meu lucro para fazer isso, pois não gosto de dívidas”, afirma Costa.

 

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Foi a agressividade no sistema de franquias que possibilitou à Cacau Show dar seu maior salto (leia quadro). A primeira loja surgiu em 2001 e hoje elas já somam mil. Nenhuma delas é própria. Com uma rede desse porte, a empresa conseguiu se concentrar na gama de produtos oferecidos. 

 

O ritmo de lançamentos passou de 70 por ano, em 2008, para os atuais 100 itens. A consolidação desse processo foi a abertura, em novembro, de sua quinta fábrica, em Itapevi (SP), que consumiu boa parte dos R$ 22 milhões investidos em 2010. Outro marco foram as ações de marketing, nas quais Costa gastou R$ 60 milhões no período 2006-2010. 

 

Isso chamou a atenção da rival Kopenhagen que, para enfrentá-lo, lançou a marca Brasil Cacau em 2009 e hoje possui  100 lojas. O que mostra que Costa levou a melhor. Porém, mesmo o doce chocolate, às vezes deixa um gosto amargo na boca. E Costa sentiu esse sabor no Carnaval deste ano, quando a Escola de Samba Rosas de Ouro, patrocinada pela empresa, foi proibida de gritar o bordão Cacau é Show. Ao menos, ganhou o título do Carnaval paulista.