No mês de aniversário do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que completou 27 anos no último dia 13, o documentário Meninos de Palavra, que retrata o papel da arte-educação para jovens internos da Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Fundação Casa), teve sua estreia pública realizada na noite de hoje (18) em sessão no Cinesesc. O filme está disponível no link http://www.plataformadoletramento.org.br/acervo-para-aprofundar/1180/documentario-meninos-de-palavra.html

O documentário registra o trabalho de oficinas culturais que contribuem para o letramento de adolescentes que cumprem medida socioeducativa de internação no estado de São Paulo e são promovidas, desde 2008, por educadores do Projeto Educação com Arte, do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), em parceria com a Fundação Casa.

Depoimentos como o da arte-educadora Chai Odisseiana, que trabalha na unidade Casa Rio Negro, no município de Franco da Rocha (SP), mostram um pouco do que é esse trabalho. “Eu sei que a gente não vai mudar o mundo, mas o nosso papel aqui é mostrar as possibilidades de um mundo melhor”, disse a educadora, durante sua participação no documentário.

Para ela, é importante que os jovens internos tenham alguém como referência. “Eu vim da periferia, então eu falo bastante da minha vivência. Eu também não gostava de estudar quando era adolescente. Depois, só tarde, que eu fui perceber o quanto o estudo é importante”, contou. Ela destaca que o trabalho realizado nas oficinas “é para a vida toda” e que “saber ler e escrever é o básico para se comunicar com o mundo”.

Outra perspectiva

Em entrevista à Agência Brasil, a coordenadora técnica do Projeto Educação com Arte, Marília Rovaron, disse que o filme mostra uma perspectiva positiva e um trabalho que está sendo bem executado dentro do sistema socioeducativo. “Em primeiro lugar, [o filme pretende] tirar o estigma de cima desses adolescentes. A sociedade olha para eles com um olhar muito enviesado”, disse.

De acordo com ela, o objetivo do documento é apresentar aspectos que a sociedade desconhece. “Os meninos estão encarcerados, mas estão declamando e criando poesia, por exemplo. O documentário vem para tentarmos minimizar esse olhar punitivo da sociedade”, acrescentou.

Cenas do cotidiano

No filme, o público acompanha cenas do cotidiano dos jovens e suas atividades nas oficinas, além dos depoimentos de educadores e especialistas, ressaltando o poder da palavra – que pode ser escrita, cantada ou encenada. Para isso, as oficinas incluem diferentes linguagens, como capoeira, cultura popular, teatro, artes da palavra, artes visuais e musicalização.

O objetivo das oficinas, segundo o Cenpec, é trabalhar autoria, identidade, valorização do potencial criativo e elevação da autoestima dos adolescentes, de modo a contribuir “para o desenvolvimento de uma consciência crítica, a incorporação de novos valores e o rompimento da cultura da violência”.

Ao falar para o filme, o coordenador do projeto, José Paulo, mais conhecido como P. MC, lembrou o depoimento de um dos jovens internos que disse que foi preciso ser internado na Fundação Casa para descobrir que tinha um talento. No filme, o coordenador conta que a escolaridade baixa dos jovens reflete a da família. Muitos pais e avós não são alfabetizados, o que culmina na falta de incentivo à educação e à cultura para aquele jovem. Nas oficinas, os jovens têm acesso a uma linguagem que, muitas vezes, sequer conheciam. “Aprender a ler e escrever com música, quem não quer?”, disse P. MC.