17/12/2024 - 13:19
O dólar à vista fechou perto da estabilidade nesta terça-feira, 17, renovando a máxima histórica, em sessão de enorme volatilidade, com a divisa ultrapassando os R$ 6,20 em determinado momento, apesar de dois leilões do Banco Central, e devolvendo ganhos após notícias sobre a tramitação do pacote fiscal do governo.
+ Por que o dólar não para de subir mesmo com intervenções em série do BC?
O dólar à vista encerrou o dia em alta de 0,10%, cotado a R$ 6,0982 — o maior valor nominal de fechamento da história. Na sessão anterior, de segunda-feira, a moeda fechou cotada a R$ 6,092.
Na B3, às 17h05, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,84%, a 6,107 reais na venda. Veja cotações.
Alta volatilidade
A divisa norte-americana já vinha se distanciando das máximas do dia, quando chegou a R$ 6,20, mas virou para o negativo bruscamente após declarações do presidente da Câmara, Arthur Lira, de que a Casa irá votar hoje a reforma Tributária e o PLP 210, projeto de lei do pacote fiscal.
Além disso, o Banco Central vendeu um total de US$ 2, 015 bilhões no segundo leilão à vista realizado hoje, entre às 12h17 e 12h22.
Reforma tributária e pacote fiscal na Câmara
A Câmara dos Deputados deve votar nesta terça-feira a regulamentação da reforma tributária e um dos projetos do pacote fiscal do governo, informou o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).
A pauta oficial da Casa para o dia inclui os dois itens, e Lira confirmou as votações após participar de reunião de líderes.
“Vamos votar a tributária, vamos votar a lei que trata de multinacionais, nós vamos votar o projeto de turismo e o PLP 210”, disse o presidente, referindo-se por último a projeto do Executivo que “institui regime fiscal sustentável para garantir a estabilidade macroeconômica do país e criar as condições adequadas ao crescimento socioeconômico”.
O projeto de regulamentação da reforma tributária é uma das propostas que detalham as diretrizes da restruturação do sistema de impostos e contribuições promulgada pelo Congresso no final do ano passado, que visa unificar impostos e simplificar o sistema tributário brasileiro.
O texto a ser analisado por deputados nesta terça já havia passado pela Câmara, mas voltou para uma segunda votação após sofrer alterações durante sua tramitação no Senado.
Já o Projeto de Lei Complementar (PLP) 210, que faz parte do pacote fiscal, autoriza o governo a limitar a utilização de créditos tributários em caso de déficit nas contas públicas.
Lira pretende se reunir com líderes de bancada após a votação desse PLP para definir os próximos passos em relação a outras duas medidas que integram o pacote fiscal: um projeto que estabelece limites para os ajustes de ganho real do salário mínimo, além de alterar regras do Benefício de Prestação Continuada (BPC), e uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que restringe gradualmente o acesso ao abono salarial.
A previsão do presidente da Casa é de que essas duas propostas sejam analisadas pelo plenário na quarta-feira.
O mercado reagiu positivamente à entrada das medidas fiscais na pauta da Câmara. O dólar, que chegou a ultrapassar a marca de 6,20 reais durante a sessão, devolveu praticamente todos os ganhos do dia após a notícia, e operava perto da estabilidade, enquanto as taxas de juros futuras recuavam.
Investidores vinham demonstrando enorme aversão ao risco diante da possibilidade de o pacote de contenção de gastos ser votado somente no próximo ano, o que elevou o preço da moeda norte-americana e os prêmios de risco em sessões recentes. Eles ainda temem, no entanto, a desidratação das medidas.
O Palácio do Planalto avalia que tem votos suficientes para aprovar o pacote fiscal, após sequência de liberação de emendas parlamentares dos últimos dias, disse uma fonte que acompanha as negociações. Até agora foram liberados 3,44 bilhões de reais em emendas individuais e 373,4 milhões de reais em emendas de bancada.
De acordo com essa fonte, o governo ainda não teve acesso ao relatório final do deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL) do projeto do salário mínimo para saber se pode haver alguma modificação. A expectativa é que não tenha alterações relevantes que tenham impacto significativo no que o governo pretende economizar com o pacote, e seja possível votar sem grandes sustos. É possível, no entanto, haver alguma excepcionalização ou alguma alteração nas mudanças propostas no BPC.
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, disse mais cedo nesta terça-feira que é preciso encontrar um “meio do caminho” que viabilize a aprovação no Congresso Nacional dos projetos que compõem o pacote de contenção de gastos do governo federal sem desidratá-los.
Parlamentares devem ainda se debruçar, na quinta e sexta-feira, sobre a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e o Orçamento de 2025.
Dois leilões no dia
O Banco Central vendeu 2,015 bilhões de dólares em um novo leilão à vista realizado no início da tarde desta terça-feira. No leilão, o BC aceitou 22 propostas a uma taxa de 6,15 reais.
Mais cedo, a autarquia vendeu 1,272 bilhão de dólares à vista em outro leilão realizado durante a manhã, no que está sendo a quarta sessão consecutiva de intervenção no mercado de câmbio.
Desde quinta-feira, as vendas em leilões extraordinários do BC, incluindo de dólares à vista e de linha (com compromisso de recompra), já somam mais de 12,75 bilhões de dólares.
A sessão de quinta teve dois leilões de linha, com uma venda total de 4 bilhões de dólares, enquanto o pregão de sexta incluiu uma venda de 845 milhões de dólares à vista.
Na segunda-feira, foram mais 3 bilhões de dólares em um novo leilão de linha e 1,627 bilhão de dólares à vista.
O BC não informou até o momento o motivo para a realização das operações, mas elas ocorrem em meio à crescente deterioração do real, com o dólar fechando a maior parte das sessões de dezembro acima de 6,00 reais devido aos temores do mercado com o cenário fiscal.
As atuações do BC têm fornecido pouco apoio à moeda brasileira, no entanto, apenas desacelerando as altas expressivas do dólar por instantes, com a divisa dos Estados Unidos normalmente retomando os fortes ganhos logo depois.
Ibovespa
O Ibovespa fechou em alta nesta sessão, após tocar na véspera mínimas desde meados do ano, com a perspectiva de a Câmara dos Deputados votar medidas fiscais nesta terça-feira servindo como argumento para uma trégua após três pregões seguidos de queda.
Investidores continuam preocupados com a sustentabilidade da estrutura fiscal do país e a trajetória da dívida, enquanto o Banco Central reforçou que a política fiscal está reduzindo o efeito da política monetária no controle da inflação.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 0,92%, a 124.698,04 pontos, após acumular uma queda de 4,66% nos três pregões anteriores. Na máxima do dia, chegou a 125.301,37 pontos. Na mínima, a 123.560,06 pontos.
O volume financeiro no pregão desta terça-feira, véspera de vencimento de opções sobre o Ibovespa e contrato futuro do índice, somou 30,3 bilhões de reais.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou na parte da tarde que a Casa deveria votar nesta terça-feira a regulamentação da reforma tributária e um dos projetos do pacote fiscal do governo, confirmando a pauta oficial.
Após o fechamento do mercado, a Casa aprovou o primeiro projeto de regulamentação da reforma tributária sobre o consumo, que segue para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em paralelo, o secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan, disse ser preciso encontrar um “meio do caminho” que viabilize a aprovação no Congresso Nacional dos projetos que compõem o pacote de contenção de gastos sem desidratá-los.
De acordo com o analista-chefe da Levante Inside Corp, Eduardo Rahal, as sinalizações vindas de Brasília de que se pretende avançar com a votação da reforma tributária e do pacote fiscal ainda esta semana proporcionaram um alívio nos mercados.
A bolsa, que mostrava certa resiliência desde o início do dia, renovou máximas da sessão na segunda etapa do pregão, acompanhando as notícias, que ainda ajudaram a desacelerar a alta do dólar ante o real e enfraqueceram as taxas dos DIs.
Na ata da última reunião do Copom, divulgada mais cedo, o BC citou “elementos mitigadores concorrendo com o impacto da política monetária sobre a atividade, tais como os impulsos de crédito e fiscais mais fortes do que antecipados”.
O BC também elevou em seus modelos a estimativa para a taxa de juros real neutra de 4,75% para 5,00% ao ano. A medida refere-se ao encontro da semana passada, quando o BC elevou a Selic de 11,25% para 12,25% e sinalizou mais duas altas na mesma magnitude.
De acordo com estrategistas do BTG Pactual, o atual cenário fiscal altamente incerto, o aumento das taxas de juros e a falta de visibilidade sobre possíveis catalisadores de curto prazo indicam um início difícil para 2025 para as ações brasileiras.
DESTAQUES
– VALE ON fechou em alta de 0,5%, quebrando uma série de cinco pregões consecutivos fechando no vermelho. Na China, o contrato futuro de minério de ferro mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian encerrou as negociações do dia com alta de 0,06%, a 796,5 iuanes (109,32 dólares) a tonelada. Em Cingapura, o vencimento de referência na Bolsa de Cingapura recuou 0,33%.
– PETROBRAS PN subiu 0,95%, descolando da queda do petróleo exterior, onde o barril de Brent caiu 0,97%. A estatal anunciou que o presidente do conselho de administração, Pietro Mendes, foi indicado pelo presidente Lula para ocupar uma diretoria da ANP. Mendes seguirá à frente do colegiado da Petrobras durante o processo, que envolve aprovação do Senado e posterior nomeação por Lula.
– HAPVIDA ON desabou 11,28% após a ANS divulgar o resultado de estudos relacionados à implementação de uma nova política de preços e reajustes para os planos de saúde. Entre as novas regras propostas, não será permitida a acumulação de índices financeiro e por sinistralidade para cálculos de reajuste. REDE D’OR ON caiu 0,89%.
– BRASKEM PNA subiu 3,81%, em dia de recuperação, após três quedas seguidas, período em que acumulou um declínio de mais de 17%.
– EMBRAER ON avançou 1,98%, tendo no radar anúncio de que a companhia aérea de Luxemburgo Luxair exerceu duas opções de compra envolvendo dois jatos E195-E2 da fabricante brasileira, que haviam sido incluídas em pedido firme de quatro aeronaves assinado no ano passado.
– GPA ON recuou 8,39%, reflexo de realização de lucros, após disparar na véspera, quando fechou em alta de 15,6%. De pano de fundo do movimento, estão notícias de que o empresário Nelson Tanure está interessado no varejista. Na véspera, citando uma fonte, a Reuters publicou que Tanure também iniciou discussões preliminares com o varejista francês Casino, demonstrando interesse em suas ações no GPA.
– ITAÚ UNIBANCO PN encerrou o dia com acréscimo de 0,54%, enquanto BANCO DO BRASIL ON registrou elevação de 1,08%, SANTANDER BRASIL ON subiu 2,76% e BRADESCO PN ganhou 0,76%.
– AUTOMOB ON fechou em alta de 6,38%, desaclerando no final do dia, com agentes financeiros ainda reprecificando os papéis da companhia que estreou na bolsa paulista na véspera, quando saltou quase 180%. Comentando a alta da véspera, analistas da XP expicaram que preço estabelecido para a listagem das ações era apenas uma referência e que o mercado está precificando o negócio em linha com os fundamentos.
– TENDA ON, que não faz parte do Ibovespa, avançou 7,26%, após anúncio na véspera da venda de uma participação em sua divisão de casas pré-fabricadas Alea, bem como divulgação de projeções para 2025, com evento da construtora com investidores nesta terça-feira também no radar. O índice do setor imobiliário na B3 subiu 0,84%.