O Banco Central (BC) realiza na manhã desta quinta-feira, 19, um leilão de venda de dólares à vista no valor de até 3 bilhões de dólares. O leilão será realizado das 9h15 às 9h20.

+ Com jogo político dominando o governo, BC está sozinho para controlar inflação

O anúncio sobre o novo leilão foi feito na noite de quarta-feira, 18, após o dólar escalar 2,78% e fechar a R$ 6,2679, novo recorde de cotação.

Reuters

Ontem, o BC interrompeu uma série de quatro sessões seguidas, entre segunda e terça-feira, de intervenções em que inundou o mercado com mais de 12,75 bilhões de dólares, em operações à vista e também em leilões de linha, em que a autarquia empresta dólares ao mercado com o compromisso de recompra.

A cotação do dólar não cedeu no período, com o mercado sinalizando nervosismo crescente com o cenário para as contas públicas em meio a esforços do governo para aprovar até o final do ano legislativo os três projetos de contenção de despesas que compõem o pacote fiscal anunciado no final de novembro.

Recordes seguidos

O dólar disparou quase 3% frente ao real nesta quarta-feira, renovando a maior cotação da história, com o mercado demonstrando enorme desconfiança no compromisso fiscal do governo, apesar dos avanços na tramitação das medidas de contenção de gastos no Congresso, e reagindo à decisão do Federal Reserve.

Em casas de câmbio, o dólar turismo era cotado acima de R$ 6,50.

A Câmara dos Deputados aprovou na noite de terça-feira o texto-base do projeto que impõe travas para o crescimento de despesas com pessoal e incentivos tributários no caso de déficit primário — o Projeto de Lei Complementar 210, que faz parte do pacote fiscal.

Segundo o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), os outros dois textos que compõem o pacote do governo — um projeto de lei e uma Projeto de Emenda à Constituição — seriam analisados pelo plenário ainda na quarta-feira.

No entanto, as notícias não pareciam suficientes para impedir a alta do dólar na sessão.

O vice-presidente Geraldo Alckmin chegou a dizer a jornalistas ontem que a cotação do dólar tende a cair com a aprovação das medidas de contenção de despesas do governo federal.

“O governo brasileiro, o governo do presidente Lula, tem compromisso com a responsabilidade fiscal. Então, acredito que, com a aprovação das medidas do governo, de contenção de gastos, tende a cair a questão do câmbio, reduzindo o preço do dólar”, disse o vice-presidente. O desejo do governo é que as medidas sejam aprovadas ainda neste ano.

Outro fator para a disparada do dólar se deu pelas elevadas taxas de juros futuras, com os altos prêmios de risco do país, puxados pelos receios fiscais de agentes nacionais, afastando a entrada de possíveis recursos de investidores estrangeiros.

“Acho que tem uma crise de credibilidade. O mercado precisa ver algo concreto para reprecificar e não se acalma com discursos e notícias. O mercado só vai acalmar com um pacote aprovado, que dê para fazer conta e reprecificar os riscos”, disse Matheus Massote, sócio da One Investimentos.

“Instabilidade e incerteza é algo difícil para o mercado trabalhar, pois ele trabalha com precificação de risco. No momento, isto significa fuga de capital”, disse Massote.

O fluxo do envio de remessas de empresas para o exterior, que se intensifica no fim do ano, também era um fator relevante, gerando falta de liquidez no mercado.

Cenário externo

Quando já circulava acima dos 6,20 reais, o dólar recebeu um novo impulso vindo do cenário externo, após as autoridades do Federal Reserve projetarem no meio da tarde um afrouxamento monetário menor do que o anteriormente esperado para o próximo ano, em meio a uma inflação persistente nos Estados Unidos.

O banco central dos EUA também promoveu um novo corte na taxa básica de juros dos EUA de 0,25 ponto percentual, como amplamente esperado.

O anúncio ajudou a fortalecer a moeda norte-americana nos mercados globais, gerando pressão sobre divisas de países emergentes, uma vez que os rendimentos dos Treasuries saltaram.