23/01/2024 - 18:33
O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 23, em baixa de 0,64%, cotado a R$ 4,9552, na contramão da onda de fortalecimento da moeda americana no exterior. Segundo operadores, após a alta de 1,23% ontem, na esteira do anúncio da nova política industrial do governo Lula, ajustes naturais de posições e movimentos de realização de lucros no mercado futuro deram fôlego ao real.
Houve também relatos de fluxo de recursos para a bolsa, em dia de alta do minério de ferro com anúncio de medidas de apoio ao mercado acionário na China, e de internalização de recursos por parte de exportadores após a moeda romper o nível de R$ 5,00, com máxima a R$ 5,0020 no início do pregão. A mínima foi a R$ 4,9490, à tarde, em meio ao avanço do Ibovespa.
No exterior, o dólar subiu em relação a moedas fortes, como euro e iene, e a divisas emergentes de países exportadores de commodities, incluindo pares latino-americanos do real, como os pesos mexicano e chileno. As taxas dos Treasuries avançaram, com a T-note de 2 anos ultrapassando o nível de 2,40% no pico.
Investidores adotam uma postura mais conservadora à espera da agenda carregada nos EUA, com divulgação de leitura preliminar do PIB do primeiro trimestre na quinta-feira, 25, e do índice de preços de gastos com consumo (PCE) na sexta-feira, 26. Esses indicadores vão dar mais subsídios para as apostas em torno do primeiro corte de juros nos EUA, com chances majoritárias passando de março para maio nos últimos dias.
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, observa que, após um desmonte de parte de posições vendidas em dólar futuro ontem por parte de fundos locais, hoje houve realização parcial de lucros no mercado doméstico que ajudou a moeda americana a se descolar da tendência externa.
“E surgiu também uma luz no fim do túnel do ponto de vista cíclico para o real, com a promessa da China de pacote de estímulos de mais de US$ 200 bilhões para o mercado de ações. A performance do real tem bastante conexão com isso”, afirma Borsoi, ressaltando que, embora outras divisas emergentes tenham sofrido, o yuan apresentou um bom desempenho.
Borsoi vê um cenário mais turbulento para o real daqui para frente, tanto por questões internas quanto externas. Lá fora, já ficou para trás a euforia com a expectativa de um início de ciclo de corte de juros pelo Federal Reserve em março, após dados recentes mostrarem resiliência da economia americana. Do lado doméstico, o problema são as dúvidas em torno do compromisso do governo com a política fiscal, que se agravaram com o anúncio da nova política industrial ontem.
Em entrevista ontem à noite no programa Roda Viva, da TV Cultura, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que há diálogo entre as lideranças no Congresso e a equipe econômica em torno da reoneração da folha de pagamentos e que há chance de o impasse ser resolvido na próxima semana. Além disso, Haddad revelou que uma eventual revisão da meta de déficit primário zero em 2024 não foi discutida com Lula, mas reconheceu que houve desidratação de parte dos projetos da equipe econômica para aumentar as receitas.
“O grande risco ontem era o Haddad adotar um tom agressivo em relação ao Congresso, mas ele foi bastante político. Não é surpresa para ninguém que o governo não vai entregar déficit primário zero neste ano. A questão é se vai ser mais do que 0,5% do PIB, que é a aposta mais consensual”, afirma Borsoi, acrescentando que no front fiscal as notícias recentes não são boas para o real.