31/01/2022 - 19:09
Em ambiente marcado por enfraquecimento global da moeda norte-americana e disputa pela formação da taxa Ptax de janeiro no mercado doméstico de câmbio, o dólar à vista emendou nesta segunda-feira, 31, o terceiro pregão de forte desvalorização.
Tirando uma breve instabilidade na primeira hora de negócios, a moeda operou em queda firme ao longo de todo o dia, renovando mínimas no início da tarde, quando rompeu o piso de R$ 5,30 e, na esteira de ordens de zeragem de posições, desceu até a mínima de R$ 5,2850 (-1,95%).
+ Taxas médias e longas de juros têm recuo forte, acompanhando dólar
Com alguma recuperação de fôlego na reta final da sessão, o dólar à vista fechou em baixa de 1,56, a R$ 5,3059 – menor valor desde 22 de setembro de 2021. Em janeiro, a moeda acumulou desvalorização de 4,84%, maior tombo mensal desde novembro de 2020 (-6,83%). Foi também o terceiro mês consecutivo de perdas para a divisa, que caiu 1,06% em dezembro e 0,19% em novembro.
Lá fora, o índice DXY – que mede a variação do dólar frente a uma cesta de seis dias fortes – trabalhou em queda firme, abaixo dos 97,000 pontos, devolvendo parte dos fortes ganhos da semana passada, quando absorveu a perspectiva de normalização mais rápida da política monetária americana.
Pela manhã, saiu que o PIB da zona do euro cresceu 0,3% no quarto trimestre (na margem), em linha com as expectativas. Já a inflação ao consumidor na Alemanha subiu 4,9% em janeiro (na comparação anual), acima das expectativas (+4,3%) – o que deu força ao euro e abriu espaço para uma correção do DXY.
Afora as questões técnicas e o tombo da moeda americana no exterior, operadores voltaram a relatar fluxo de recursos estrangeiros para ativos locais como um dos propulsores do real, que teve um dos melhores desempenhos entre as divisas emergentes.
Além dos preços dos ativos locais estarem em níveis atraentes e da alta recentes das commodities, a moeda brasileira teria como grande trunfo a perspectiva de juro real elevado, na esteira do aperto monetário em andamento. As leituras recentes de inflação, sobretudo o IPCA-15 de janeiro, não apenas ratificaram a aposta em alta de 1,5 ponto porcentual da Selic, para 10,75%, nesta quarta-feira, 2, como aumentaram as projeções em taxa termina na casa de 12% ao ano.
O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, observa que preços de commodities agrícolas, como soja e milho, subiram bastante recentemente e que o minério de ferro, apesar da queda nesta segunda, experimentou uma boa recuperação e já se afastou das mínimas. “E esta semana teremos mais 150 pontos no Copom. Tem fluxo de estrangeiro. Parece que o dólar está indo para R$ 5,10”, diz Weigt, que vê continuidade do movimento de entrada forte de recursos para a renda fixa e, talvez, para alguns papéis específicos na Bolsa.
A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, afirma que o apetite estrangeiro para investimentos em portfólio no mercado spot, ao lado da redução de posições compradas em dólares no mercado de derivativos, está por trás da apreciação recente do real. Além disso, o cenário “mais positivo” para os termos de troca, tendo em vista mais estímulos monetários na China, ajudam a explicar o desempenho dos ativos domésticos.
“A grande questão continua sendo se esse fluxo será resiliente ou não, pois há elevado risco político e eleitoral pela frente, cenário de recessão no front doméstico, além do Fed muito mais agressivo do que se imaginava pouquíssimo tempo atrás”, afirma Damico, em relatório.
Diante do tom duro do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, em entrevista coletiva na semana passada, a economista da Armor vê como um cenário “muito factível” uma alta dos juros em cada uma das reuniões do Fed a partir de março, até que a taxa “atinja o patamar neutro (em torno de 2,5%) no mínimo”.
O head de câmbio da HCI Invest, Anílson Moretti, ressalta que a agenda de indicadores é carregada nesta semana, com decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco da Inglaterra (BoE), na quinta-feira (03), e divulgação do relatório de emprego (payroll) de janeiro nos Estados Unidos, na sexta-feira, 4. “Se mudar alguma coisa no cenário europeu, vamos ter grande surpresa. O payroll é importante para avaliar o que o Fed vai fazer nas próximas reuniões”, diz Moretti, que vê um suporte do dólar a R$ 5,26.
Entre os indicadores domésticos, destaque para o superávit primário de R$ 64,727 bilhões do setor público consolidado (Governo Central, Estados, municípios e estatais, com exceção de Petrobras e Eletrobras) no ano passado, o primeiro após sete anos no vermelho. Analistas afirmam que, a despeito da melhora corrente, a dinâmica da dívida pública ainda é um ponto de atenção, dada a perspectiva de aumento de gastos em ano eleitoral e a mudança na regra do teto de gastos.
Em dia de formação de taxa Ptax final de janeiro e de rolagem de posições em derivativos, o contrato de dólar futuro mais líquido, para março, teve giro expressivo, na casa de US$ 16,6 bilhões. O contrato fechou queda de 1,17%, a R$ 5,34200.