O dólar à vista encerrou a sessão desta sexta-feira em alta de 0,56%, cotado a R$ 4,9958. Na semana, a moeda apresentou ganhos de 1,47%, interrompendo uma sequência de três semanas de queda e passando a acumular leve valorização no mês (+0,17%). A puxada na cotação do dólar no mercado doméstico, em especial nos últimos dois dias, é atribuída à perspectiva de taxa de juros elevada nos Estados Unidos por mais tempo, reforçada hoje por discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e certo desconforto com o relatório do novo arcabouço fiscal do deputado Cláudio Cajado (PP-BA). Declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em defesa de mudança no regime de metas de inflação também teriam contribuído para postura mais cautelosa dos investidores.

Operadores ressaltam que, após o dólar ter fechado abaixo de R$ 4,90 na sessão de segunda-feira (15), no menor nível desde junho de 2022, havia espaço para movimento de realização de lucros e recomposição de posições defensivas. Hoje, na máxima do dia, a divisa chegou a romper o teto de R$ 5,00, correndo até R$ 5,0020 (+0,68%). Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para junho teve bom giro, acima de US$ 12 bilhões.

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No exterior, com redução de temores de calote dos EUA diante de sinais de que está sendo encaminhada uma solução para o teto da dívida no país, o dólar perdeu força na comparação com moedas fortes, como euro e iene. Em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities, o dólar teve desempenho divergente. Moedas latino-americanas de países de juros altos que apresentam ganhos frente ao dólar no ano, como peso mexicano e chileno, também perderam força hoje e na semana, embora em menor magnitude que o real.

“O movimento do câmbio hoje está muito ligado ao cenário externo. O discurso do Powell foi hawkish, de que a política monetária deve ser manter restritiva nos próximos meses. Saíram dados fortes de atividade, como emprego e indústria nos EUA nos últimos dias, e a inflação permanece em patamar ainda elevado”, afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, para quem as incertezas em torno dos impactos do novo arcabouço fiscal provocam pressão adicional sobre o dólar.

Em conferência em Nova York, Powell disse que o Fed está “fortemente comprometido” em trazer a inflação de volta à meta (2% ao ano) e que permanecerá “firme” na busca de seu objetivo. Ele ponderou que, em razão do aperto das condições financeiras provocado pelos problemas de liquidez nos bancos regionais, a taxa básica de juros “pode não precisar subir tanto”, embora a “extensão” do aperto monetário seja “altamente incerta” e dependente dos indicadores correntes. Na CME, as chances de manutenção dos juros em junho subiram para 80%. Em contrapartida, está em curso um rearranjo das expectativas para início e magnitude de eventual corte de juros nos EUA no segundo semestre.

O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, nota que há uma postergação da perspectiva de queda dos Fed Funds de setembro para novembro ou dezembro, o que limita a queda da moeda americana no exterior e respinga nas divisas emergentes. Ele atribui a alta do dólar por aqui em parte à desconfiança com o novo arcabouço fiscal, que considera mais flexível que a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). “Mesmo com os ajustes sinalizados, a nova regra fiscal não aponta para o equilíbrio do resultado primário em 2024, porque é muito otimista com premissas de crescimento e arrecadação, em particular na obtenção de redução dos incentivos fiscais”, afirma Velho.