Por Fabrício de Castro

SÃO PAULO, 19 Abr (Reuters) – O dólar à vista emplacou nesta quarta-feira a terceira sessão consecutiva de alta no Brasil, superando a barreira psicológica dos 5 reais, com participantes do mercado reagindo negativamente à apresentação ao Congresso do texto do novo arcabouço fiscal, em um dia de ganhos para o dólar também no exterior.

A avaliação de que a proposta do arcabouço traz inconsistências e exime o governo de responsabilidades pelo descumprimento das metas fiscais azedou os negócios desde o início do dia.

Para completar o cenário, a quarta-feira também foi marcada pela aversão a ativos de risco, como o real, em todo o mundo, na esteira de dados ruins de inflação no Reino Unido.

O dólar à vista fechou o dia cotado a 5,086 reais na venda, em alta de 2,20%. Foi a primeira vez que o dólar fechou acima dos 5 reais desde 11 de abril.

Na B3, às 17:32 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,87%, a 5,0895 reais.

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A quarta-feira começou com dados do Reino Unido, que mostraram uma inflação anualizada de 10,1% em março, acima dos 9,8% projetados pelos economistas e dos 9,2% esperados pelo banco central do país.

Os números elevaram a percepção de que o Federal Reserve pode seguir com a política monetária apertada por mais tempo, o que disparou a aversão global a ativos de risco.

No Brasil, isso se traduziu na alta do dólar à vista ante o real, movimento que foi ampliado pela percepção do mercado em relação ao novo arcabouço fiscal.

“Quando saiu o anúncio do arcabouço, o mercado melhorou, porque ele retirou o risco de descontrole das contas públicas”, comentou Felipe Novaes, chefe da mesa de operações do C6 Bank, referindo-se aos recuos do dólar ante o real em semanas anteriores, que colocaram a moeda norte-americana abaixo dos 5 reais. “Hoje (quarta-feira), o mercado realiza um pouco os ganhos anteriores e também há incertezas sobre o arcabouço.”

Conforme Novaes, grande parte das incertezas está ligada ao fato de que o arcabouço, para funcionar, depende de novas receitas.

“Governo fala que aumento de imposto não está na mesa, então teria que ser via redução de desonerações (de impostos). Mas tirar desoneração de algum setor sempre vai ser difícil no Congresso”, avaliou.

Economistas ouvidos pela Reuters citaram ainda um desconforto com o fato de, no arcabouço, não haver responsabilização do governo em caso de descumprimento de metas. Além disso, alguns defendem que as contas do governo não fecham.

Essa percepção deu força às taxas dos contratos futuros e fez o dólar oscilar no terreno positivo ante o real durante toda a sessão.

“As regras fiscais parecem ser menos eficientes que o esperado e não dizem de onde vai sair o dinheiro. O que temos é um mau humor no mercado, que detonou a corrida para o dólar”, resumiu Jefferson Rugik, diretor da Correparti Corretora.

No exterior, o dólar também se mantinha em alta ante outras moedas no fim da tarde, mas em percentuais menores.

Às 17:32 (de Brasília), o índice do dólar –que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas– subia 0,23%, a 101,950.

Pela manhã, o Banco Central vendeu todos os 16.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados na rolagem dos vencimentos de junho.

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