O dólar à vista sobe ante o real nesta segunda-feira, 7, conforme os investidores reagem a novidades sobre a política comercial dos Estados Unidos, que incluem um aparente adiamento na implementação de tarifas abrangentes, mas uma nova ameaça sobre países alinhados ao grupo Brics.

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Às 14h02, o dólar à vista subia 1,14%, a R$ 5,479 na venda.

Na sexta-feira, o dólar à vista fechou a sexta-feira em alta de 0,37%, a R$ 5,4245.

Já o Ibovespa recuava nesta segunda-feira, com o noticiário sobre as tarifas comerciais norte-americanas ocupando as atenções e após renovar máximas históricas na última sexta-feira, quando fechou acima dos 141 mil pontos pela primeira vez.

Por volta de 12h35, o Ibovespa, referência do mercado acionário brasileiro, cedia 0,88%, a 140.014,65 pontos. O volume financeiro somava R$ 5,46 bilhões.

Novas tarifas de Trump impulsionam dólar…

Os movimentos do real tinham como pano de fundo a força da divisa norte-americana ante seus pares, conforme os mercados se posicionavam para o prazo final de 9 de julho para que países fechem acordos comerciais com os EUA a fim de evitar a imposição de tarifas mais altas sobre seus produtos.

Na mais recente notícia sobre o tema, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que o país está perto de finalizar acordos nos próximos dias e notificará sobre as tarifas mais altas até 9 de julho, com o secretário de Comércio, Howard Lutnick, esclarecendo que as taxas entrarão em vigor em 1º de agosto.

Trump disse que os EUA começarão a entregar cartas sobre tarifas aos parceiros a partir das 13h (horário de Brasília) desta segunda-feira.

Na prática, o anúncio representaria um adiamento de três semanas na implementação das tarifas, o que seria um alívio. No entanto, uma nova ameaça tarifária de Trump sobre os países alinhados ao Brics compensava o efeito positivo do aparente adiamento das outras taxas.

O presidente norte-americano afirmou que os EUA irão impor uma tarifa adicional de 10% a todos os países que se alinharem às “políticas antiamericanas” do Brics, cujos líderes deram início a uma cúpula no Rio de Janeiro no domingo.

A maior economia do mundo parecia também não oferecer novidades sobre as negociações com parceiros comerciais importantes, como Japão e União Europeia, o que tornava improvável o alcance de entendimentos até quarta-feira.

Em meio às diversas incertezas comerciais, os investidores optavam pela cautela, favorecendo amplamente o dólar.

“O dólar opera refletindo a mudança na estratégia comercial do EUA”, disse Eurico Ribeiro, assessor de investimento da B&T XP em nota. “O presidente Donald Trump postergou para 1º de agosto a data de início das novas tarifas, antes previstas para entrar em vigor em 9 de julho. O desfechos dessas negociações segue como um ponto central para o comportamento dos mercados nas próximas semanas. A expectativa gira em torno da reação dos mais de 100 países que ainda estão for a dos pactos comerciais com os EUA.”

Alguns pares do real, como o peso mexicano e o rand sul-africano, tinham quedas ainda mais acentuadas frente à moeda dos EUA.

No resto da semana, que conta com poucos dados econômicos, os mercados globais devem continuar voltados à pauta do comércio.

…E impacta negativamente o Ibovespa

O presidente Donald Trump afirmou no domingo que os Estados Unidos estão perto de finalizar vários acordos comerciais nos próximos dias e notificarão outros países sobre as tarifas mais altas até 9 de julho, que entrarão em vigor em 1º de agosto.

De acordo com a analista sênior Ipek Ozkardeskaya, do Swissquote Bank, nunca se pode ter certeza de que o que é dito agora ainda será verdade daqui a um minuto.

“E não se pode contar que as tarifas anunciadas nas próximas horas permaneçam inalteradas por mais de um dia. Essa é a realidade — e as manchetes mais recentes não apontam para um caminho tranquilo”, apontou em relatório a clientes.

Ozkardeskaya destacou, contudo, a ameaça de Trump de uma tarifa adicional de 10% aos países que se alinharem ao que o presidente norte-americano chamou de “políticas antiamericanas” do grupo Brics.

“O drama comercial provavelmente não desaparecerá tão cedo. Essa incerteza continuará obscurecendo a visibilidade”, afirmou.

O BB Investimento destacou que o Ibovespa encerrou o primeiro semestre em alta, consolidando um canal que se iniciou em janeiro, aos 118 mil pontos, firmando-se nas últimas semanas na máxima histórica nominal, ao redor dos 140 mil pontos.

“No gráfico semanal, as médias móveis de curto e curtíssimo prazo (do Ibovespa) estão próximas a cruzarem para baixo, sinalizando uma possível realização dentro da tendência”, acrescentam em relatório a clientes.

Eles destacaram, contudo, que a força do movimento e o respaldo positivo dos indicadores técnicos MACD (Moving Average Convergence Divergence) e IFR (Índice de Força Relativa) sinalizam que ainda há espaço para o Ibovespa seguir subindo.

DESTAQUES

– VALE ON recuava 0,53%, acompanhando os futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian encerrou o dia com queda de 0,68%, a 731 iuanes (US$101,92) a tonelada, em meio a preocupações renovadas relacionadas à demanda.

– PETROBRAS PN subia 0,09%, em dia de alta dos preços do petróleo no exterior, com o barril do Brent avançando 1,49%, a US$69,32.

– BANCO DO BRASIL ON era negociada em baixa de 1,34%, com o setor como um todo no vermelho. ITAÚ UNIBANCO PN cedia 0,8%, BRADESCO PN perdia 0,18% e SANTANDER BRASIL UNIT mostrava declínio de 0,41%.

– ENGIE BRASIL ON caía 3,87%, em nova sessão de correção, após uma série de altas desde o final de junho. Na última sexta-feira, o papel fechou em baixa de 5,16%, encerrando uma série de seis pregões de ganhos, período em que acumulou uma valorização de 14,2%.

– BRF ON subia 3,78%, no segundo pregão de recuperação após um começo mais negativo no mês, com queda de 4,7% nos primeiros pregões do mês. No setor, MARFRIG ON, em vias de incorporar a BRF, ganhava 2,61% e MINERVA ON tinha alta de 1,55%.

– BRASKEM PNA avançava 1,83%, após anunciar que a acionista controladora Novonor comunicou à empresa que a NSP Investimentos e o fundo de investimento Petroquímica Verde pediram autorização ao Cade para uma potencial transação envolvendo as ações da Novonor na petroquímica.

De olho na inflação brasileira

Já no Brasil, para além das disputas comerciais, o mercado avaliará o relatório do IPCA para junho, na quinta-feira. O dado deve consolidar seis meses seguidos com a inflação em 12 meses correndo acima da margem de tolerância da meta desde que o novo sistema de meta contínua entrou em vigor, em janeiro, o que obrigará o Banco Central a encaminhar uma carta aberta ao Ministério da Fazenda explicando os motivos do descumprimento do objetivo.

Mais cedo, analistas consultados pelo BC em sua pesquisa Focus reduziram a projeção para a inflação brasileira neste ano pela sexta semana consecutiva. O levantamento mostrou que a expectativa para o IPCA é de alta de 5,18% ao fim deste ano, abaixo da previsão de 5,20% na pesquisa anterior.

Os investidores também continuarão atentos a qualquer novidade em relação ao impasse em torno das tentativas do governo de elevar as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), com a disputa entre Executivo e Legislativo agora no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF).