SÃO PAULO (Reuters) – O dólar avançou frente ao real nesta quarta-feira, impulsionado pela retomada da cautela internacional depois que dados de inflação mais altos do que o esperado nas principais economias aumentaram a pressão para que os bancos centrais sigam elevando os custos dos empréstimos a ritmo acentuado.

A moeda norte-americana à vista subiu 0,39%, a 5,2753 reais na venda, depois de mais cedo chegar a saltar 0,87%, a 5,3005 reais.

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Na B3, às 17:05 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,54%, a 5,2840 reais.

“O que está pesando é, como sempre, desde o começo do ano, o aumento da taxa de juros nos Estados Unidos e questões de inflação persistentemente alta”, disse Bruno Mori, economista e planejador financeiro pela Planejar.

Dados desta quarta-feira mostraram que a inflação no Reino Unido voltou a uma máxima em 40 anos de 10,1%, enquanto na zona do euro o avanço dos preços ao consumidor em setembro foi revisado para baixo a 9,9% na base anual, nível que ainda é recorde.

As leituras, que vieram após dados da semana passada mostrarem alta maior do que o esperado dos preços ao consumidor dos Estados Unidos em setembro, aumentam a pressão sobre os bancos centrais das economias desenvolvidas para que sigam apertando sua política monetária agressivamente, mesmo em meio a riscos crescentes de recessão.

Sinal do pessimismo em relação ao desempenho da atividade diante de altas sucessivas de juros nos EUA, uma pesquisa do Federal Reserve mostrou que contatos empresariais, comunitários e trabalhistas do banco central estão preocupados com o enfraquecimento da demanda.

No caso de eventual contração econômica global prolongada, o dólar seria um ativo interessante de se ter em carteira, dizem especialistas, uma vez que é considerado extremamente seguro. Um índice que compara a moeda norte-americana a seis pares fortes saltava 0,9% nesta tarde, em linha com disparada dos rendimentos dos títulos soberanos dos EUA, e acumula avanço de 18% até agora em 2022.

Apesar do cenário externo adverso, o “câmbio latino-americano tem se saído bem, dado que a volatilidade oscilou para baixo e o ‘carry trade’ voltou a jogo”, disse o Citi em relatório de perspectivas para moedas globais.

No Brasil, uma medida da volatilidade implícita do real para os próximos três meses vem caindo desde que disparou em agosto passado para o maior patamar desde o início da pandemia. Ao mesmo tempo, o real segue oferecendo retornos atraentes para estratégias de “carry trade”, que buscam lucrar com diferenciais de juros entre duas economias.

A taxa Selic está atualmente em 13,75%, fator visto como o principal responsável pela queda de 5,35% do dólar frente ao real no acumulado do ano.

No entanto, “esperamos alguma deterioração à frente, tanto do lado externo quanto nos cenários domésticos, dadas as incertezas iminentes em torno da política fiscal, que provavelmente aumentarão durante o período da campanha eleitoral” brasileira, ponderou o Citi.

O segundo turno das eleições presidenciais entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) acontecerá dentro de 11 dias. Ambos os candidatos prometeram a manutenção de despesas com programas de transferência de renda caso sejam eleitos, o que tem levantado entre muitos especialistas a perspectiva de nova flexibilização das regras fiscais do país em 2023, independentemente de quem sair vencedor.

O Citi projeta o dólar em 5,30 reais num curto prazo, período que nos critérios do banco engloba os próximos três meses.

Já Mori, da Planejar, vê o nível de 5,40 reais como uma resistência técnica para o dólar, e disse que a moeda pode testar esses patamares em breve em função do segundo turno das eleições.

Na manhã desta quarta-feira, o Banco Central vendeu 1 bilhão de dólares em leilões de venda de moeda conjugados com leilões de compra no mercado interbancário. Segundo participantes do mercado, a operação não teve grande impacto no mercado à vista, mas a injeção de liquidez pode ajudar a atender a necessidades de financiamento em dólar.

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